quinta-feira, agosto 31, 2006

The Searchers (1956)


Don't ever ask me. As long as you live, don't ever ask me more.

O dia maldito

Nunca me aconteceu nada de positivo num dia 31 de Agosto (nunca). John Ford morreu num dia 31 de Agosto (em 1973). Duas boas razões para abolir este dia maldito.

(Nota: 14 de Maio é outro. Se este blog lá chegar, explicarei porquê.)

"It's a nine all cow now"


Como prometido, aqui está.

Convenhamos

O meu amigo Paulo comprou em 1987 um ridículo single dos Europe, que incluia, além do The Final Countdown e da balada Carrie, uma canção menos conhecida intitulada On Broken Wings. Foi, durante uns meses, a canção preferida dele. Embaraçoso, convenhamos.
Eu limitei-me a pedir-lhe o vinil emprestado. Não gastei dinheiro nenhum naquela porcaria, não senhor. Muito menos embaraçoso, convenhamos.

quarta-feira, agosto 30, 2006

...his first thought was of beggary of nerves...



« ... they reached Lucerne in the afternoon, where Adams found letters from his brothers requesting his immediate return to Boston because the community was bankrupt and he was probably a beggar.
If he wanted education, he knew no quicker mode of learning a lesson than that of being struck on the head by it; and yet he was himself surprised at his own slowness to understand what had struck him. For several years a sufferer from insomnia, his first thought was of beggary of nerves, and he made ready to face a sleepless night, but although his mind tried to wrestle with the problem how any man could be ruined who had, months before, paid off every dollar of debt he knew himself to owe, he gave up that insoluble riddle in order to fall back on the larger principle that beggary could be no more for him than it was for others who were more valuable members of society, and, with that, he went to sleep like a good citizen ...
»

(The Education of Henry Adams)

Diferentes

Um clube normal teria vendido um jogador chamado David e contratado um jogador chamado Alexandro/Alessandro. Mas este é um clube diferente. Até na grafia dos nomes.

O lema

Apesar dos avanços, dos recuos, das arrepsias e entredúvidas, o lema deste blog continua a ser a frase de Saul Bellow lá em cima.

Mas podia perfeitamente ser este verso de Hart Crane:

I can remember much forgetfulness

We're heading for Venus, and still we stand tall

Por causa de uma promessa que fiz a uma amiga, este blog vai ser amanhã um lugar inóspito. O teledisco do seminal êxito dos Europe, "The Final Countdown", vai ser aqui colocado. Fica o aviso aos leitores flutuantes.

Dedicatória

Em Novembro de 1889, Chekhov ofereceu um exemplar do jornal North Herald (onde tinha sido publicado um dos seus contos) ao Príncipe Sumbatov, da Geórgia, com a seguinte inscrição:
"De um autor de sucesso, que conseguiu combinar e fundir uma alma em repouso com uma mente em chamas, o tubo do enema com a lira do poeta."

O sósia


O vocalista dos Red Hot Chili Peppers, Anthony Kiedis, meu sósia.

[Nota: a minha mãe acha que não.]

30 de Agosto, 1913


O círculo limitado é puro.

terça-feira, agosto 29, 2006

Desassossego

(Por razões óbvias, este post é dedicado ao blog sobre Kleist e à Invenção de Morel)

Hoje, numa paragem de autocarro em Redditch, Worcestershire, um adolescente borbulhoso lia, de pé e visivelmente incomodado, uma tradução inglesa do Livro do Desassossego.

O inventor


Nasceu no dia 29 de Agosto de 1632 o homem que inventou o liberalismo.

Taglines à procura de filme

Para uma futura sequela de Caché, do Haneke (Caché 2 - La webcam):
They're back. And this time they've got better hardware.

Para uma futura adaptação do Ensaio Sobre a Cegueira, realizada por Spike Lee:
Even in the dark, all they see is white.

Para uma futura versão para cinema de Six Feet Under (Six Feet Under - The Movie):
They've put the "fun" back in funeral. Now they're exhuming it.

Para uma futura adaptação do Ulysses, de Joyce:
One city. One day. One book you'll never read.

Para um futuro biopic de George W. Bush, realizado por Oliver Stone:
The country that needed a man to lead it. The man who needed an atlas to find it.

Ainda vou a tempo


...At past fifty, Adams solemnly and painfully learned to ride the bicycle...

(The Education of Henry Adams)

Coisas a fazer em Portugal

. Ir ao Alvalade XXI fazer um teste cardiovascular;
. comprar os Contos Completos, de Chekhov, na tradução portuguesa:
. comprar o dvd do Crime do Padre Amaro, para oferecer aos amigos escoceses devotos (versão legendada opcional);
. aprender finalmente a andar de bicicleta;
. cravar boleias aos primos, caso não haja tempo para aprender finalmente a andar de bicicleta;
. ir ao dentista;
. comer "peixe ao sal";
. falar contigo, contigo, contigo e contigo (vocês sabem muito bem quem são);
. evitar a todo o custo encontros com ele, ela e ela (que, infelizmente, também sabem muito bem quem são).

segunda-feira, agosto 28, 2006

A mina de ouro

Quero declarar com toda a pompa que a circunstância exige: descobri o melhor baú de recordações da galáxia. Chama-se Verdes Anos e é uma overdose de nostalgia (mascarada de mero blog pessoal) para quem nasceu algures entre 1974 e 1982.
Podem rever clips do Dartacão, do Justiceiro, dos Thundercats, dos Amigos de Gaspar e do Eng. Sousa Veloso. Anúncios históricos às esferográficas Bic, ao champô Quitoso e à manteiga Planta. Pequenos clips do Paradise Café, do Spectrum. E músicas da Lena d'Água.
E depois de ter perdido a minha infância com estas coisas, perdi também a tarde de hoje.

Acrósticos III

Este não foi escrito pelo Epicarmo.

Acrósticos II

«Os Deuses vendem-nos tudo aquilo que nos dão.»

(Epicarmo, dramaturgo grego - e inventor do acróstico)

Acrósticos I

Esta semana comemora-se o centenário do nascimento de John Betjeman, o poeta inglês a quem David Brent se referiu como "couve". Ao seu mais recente biógrafo, An Wilson, já chamaram bem pior.
Por favor guardem um minutinho do vosso dia para lerem a história aqui.

Coisas explosivas



A agência de viagens na qual fiz a minha reserva para Lisboa disponibilizou simpaticamente uma lista de artigos que, de acordo com as novas normas de segurança, não podemos levar na bagagem de mão.
A lista faz-me pensar que andei a dormir nas aulas de Química. É que nem saberia por onde começar se quisesse mesmo fazer uma bomba com uma Pepsi, um leitor de mp3 e um boião de creme Nívea.

p.s.: Mas - em resposta a uma pergunta específica minha - uma nota de rodapé informa que o A Burnt-Out Case do Graham Greene, que tinha intenção de ler a bordo, é um "artigo seguro".
Graham Greene: um artigo seguro? Esta gente não sabe mesmo a quantas anda.

A Cebola

Blues Musician To U.N.: 'Yemen Done Me Wrong'

domingo, agosto 27, 2006

Hoje (e em muitos outros dias) ouve-se



Call me morbid, call me pale
I've spent six years on your trail
Six long years
On your trail

Call me morbid, call me pale
I've spent six years on your trail
Six full years of my life on your trail

And if you have five seconds to spare
Then I'll tell you the story of my life:
Sixteen, clumsy and shy
I went to London and I
I booked myself in at the Y.W.C.A.
I said : "I like it here - can I stay ? I like it here - can I stay?
Do you have a vacancy For a Back-scrubber?"

She was left behind, and sour
And she wrote to me, equally dour
She said : "In the days when you were hopelessly poor
I just liked you more..."

And if you have five seconds to spare
Then i'll tell you the story of my life:
Sixteen, clumsy and shy
That's the story of my life
Sixteen, clumsy and shy
The story of my life

(The Smiths, «Half a Person», Louder than Bombs)

O milagre subtractivo

Sobre Dostoievski, escreveu Borges que um livro seu é sempre melhor que a soma das suas páginas. O seu contraponto pós-moderno, Don DeLillo, parece, linha por linha, um dos maiores escritores vivos. Mas depois chega-se ao último parágrafo (do admirável mas gélido Underworld, digamos, ou do apofénico Libra, ou do incongruente Mao II) e constatamos que a pulsação não acelerou, que não comungámos com uma única consciência verosímil, que não partilhámos a visão de uma única personagem - e que talvez tivesse sido preferível passar o tempo de outra maneira.
Não escrevo isto bem disposto. Passei uma fase em que gostei muito de DeLillo, mas Cosmopolis, um dos piores romances que li neste século, foi a gota de água. Nunca é agradável - a incineração um antigo ídolo na pira dos afectos descartados. Aconteceu-me o mesmo com Rushdie, depois do sofrível Fury.
Mas isto passa-me.

Em nome do P@!, do F!*+º e do Es!**** S@*!º

O guarda-redes do Celtic, Artur Boruc, tornou-se a última vítima da incorrigível intolerância sectária que permeia o futebol escocês. Num jogo contra o Rangers, em Fevereiro deste ano, o polaco causou um bestial tumulto nas bancadas de Ibrox com um gesto interpretado pela predominantemente Protestante claque caseira como "extremamente ofensivo" e "conducente à violência". O gesto em questão não foi um pouco anglófilo manguito nem um universal gesto da pilinha com o terceiro quirodactilo, mas sim um sinal da cruz. O incendiário do Boruc benzeu-se obscenamente em pleno relvado.
A polícia local investigou o caso e, cinco meses depois, o jogador recebeu um aviso (que permanecerá no seu cadastro) por "perturbação da paz".
As piadas, essas, fazem-se praticamente sozinhas.

Alteração táctica

O método New Age falhou. O cavalinho North Walk, no qual depositei tantas esperanças (incluindo algumas esperanças com as efígies de Darwin e Elgar) chegou num miserável oitavo lugar. Quanto ao outro, com nome de imperador Bizantino, basta dizer que será muito provavelmente abatido por misericórdia.
Dou assim por encerradas as minhas experiências com o espiritualismo de algibeira e com a boa vontade dos leitores regulares, regressando, já na próxima corrida, ao tried and tested: desenhar arabescos no boletim de apostas com a minha caneta da sorte, roer as unhas até ao sabugo, e emporcalhar a língua de Shakespeare com as mais fétidas imprecações.

sábado, agosto 26, 2006

Argumentos





Estética

Até há dois meses atrás nunca tinha ouvido falar da Wikipedia. A minha primeira e inesquecível visita aconteceu quando pesquisava casualmente no google Alexander Baumgarten; fui levado para a wiki-entrada sobre Aesthetics. A primeira coisa que li foi a legenda de uma fotografia:

Kittens are often considered quite cute.

Aprovo enfaticamente esta noção estética.

A coisa mais estranha

Contei a uma rapariga inglesa que, em português, se usa a mesma palavra para significar o tempo meteorológico ("weather") e o tempo cronológico ("time"). Ela esbugalhou os olhos e disse, muito séria:
-- That is the strangest thing I have ever heard.

Hipálage catacrésica

Ouvido de passagem:

-- My computer's brain is fucked.

Newmarket


Há motivos mais nobres para viver no Reino Unido, mas poder apostar nos cavalos é mesmo um dos melhores.
Hoje, rogo aos meus fiéis leitores portugueses que tentem pensar com muita força num cavalinho chamado North Walk, por volta das 14:20. E que às 14:50 pensem com muita força noutro cavalinho chamado Andronikos.
Se este método New Age resultar, prometo que o dinheiro será prontamente cambiado e investido na frágil economia lusitana.

sexta-feira, agosto 25, 2006

Happy Birthday



Hoje faz anos o Martin Amis, um dos meus sete ou oito escritores de eleição, e a quem devo a descoberta de um dos outros (Nabokov, claro; no meu caso Bellow veio antes de Amis).

Em 1999, na Fnac do Chiado, apertei-lhe a mão, fiz-lhe uma pergunta sobre John Self e roubei-lhe uma esferográfica.

Edit file?

A frase-feita que mais dificuldades tenho em aceitar é uma que marca presença assídua nas entrevistas a celebridades: "Se voltasse atrás faria tudo da mesma maneira". A não ser que o chavão contenha uma implícita negação do livre-arbítrio, há que invejar as vidas que estas pessoas levam, em que todas as decisões se revelam correctas.
Ocorrem-me, sem grandes esforços mentais, pelo menos seis coisas que teria feito de maneira diferente, quatro frases que devia ter dito quando não disse, duas piadas que não devia ter feito quando fiz, e um telefonema que não devia ter ignorado.
E isto se limitar o meu escrutínio apenas à Terça-feira passada.

Lição de Zoologia


O Homem é o único animal capaz de transportar até doze vezes o seu próprio peso em desculpas esfarrapadas.

Coisas que se aprendem num pub

Não é de todo fácil assobiar o tema do genérico de Seinfeld.

quinta-feira, agosto 24, 2006

Esta noite ouve-se



I am the captain of my pain.
'Tis the bit, the bridle,
The trashing cane,
The stirrup, the harness,
The whipping mane,
The pickled eye,
The shrinking brain.
O brother, buy me one more drink,
I'll explain the nature of my pain


(Nick Cave, «Brother, My Cup is Empty», Henry's Dream)

maligne

«On the day of the funeral of Gen. Lamarque, Sadi was walking thoughtfully in the vicinity of the insurrection. A horseman preceding a company, and who was evidently intoxicated, passed along the street on the gallop, brandishing his sabre and striking down the passers-by. Sadi darted forward, cleverly avoided the weapon of the soldier, seized him by the leg, threw him to the earth and laid him in the gutter, then continued on his way to escape from the cheers of the crowd, amazed at this daring deed.»

(Excerto da biografia do Anticristo, pelo seu irmão Hyppolyte. A tradução é de R. H. Thurston.)

Die Entropie der Welt strebt einem Maximum zu

No dia 24 de Agosto de 1888 morria Rudolf Clausius, que tanto tempo ocupou da minha entrópica adolescência. No mesmo dia, em 1832, já tinha morrido o diabólico Sadi Carnot. Quem me convencia, há uns anos atrás, de que isto era mera coincidência?

"Oh Chris de Burgh, Chris de Burgh"


Por causa da canção "Crystal Ball" dos Keane, e de um estranho fenómeno de massas, o nome deste senhor anda nas bocas de toda a gente.

2-em-1



É sempre um bom dia quando posso aliar o amor clubístico ao meu crónico pessimismo sobre tudo em geral.

Parêntesis

(Sou, como Coleridge, um assumido filo-parentesista. Com ou sem teclado.)

Este blog muda frequentemente de ideias

... mas quer assegurar os passageiros de que não há motivos para alarme.

quarta-feira, agosto 23, 2006

...some great generalization which would finish one's clamor to be educated...



«He was a Darwinist before the letter; a predestined follower of the tide; but he was hardly trained to follow Darwin's evidences. Fragmentary the British mind might be, but in those days it was doing a great deal of work in a very un-English way, building up so many and such vast theories on such narrow foundations as to shock the conservative, and delight the frivolous. The atomic theory; the correlation and conservation of energy; the mechanical theory of the universe; the kinetic theory of gases, and Darwin's Law of Natural Selection, were examples of what a young man had to take on trust. Neither he nor any one else knew enough to verify them; in his ignorance of mathematics, he was particularly helpless; but this never stood in his way. The ideas were new and seemed to lead somewhere--to some great generalization which would finish one's clamor to be educated. That a beginner should understand them all, or believe them all, no one could expect, still less exact. Henry Adams was Darwinist because it was easier than not, for his ignorance exceeded belief, and one must know something in order to contradict even such triflers as Tyndall and Huxley.
By rights, he should have been also a Marxist but some narrow trait of the New England nature seemed to blight socialism, and he tried in vain to make himself a convert. He did the next best thing; he became a Comteist, within the limits of evolution. He was ready to become anything but quiet. As though the world had not been enough upset in his time, he was eager to see it upset more. He had his wish, but he lost his hold on the results by trying to understand them.»

(The Education of Henry Adams)

Nostalgia do cliché

Às vezes tenho saudades de ver um daqueles filmes em que o superior hierárquico suspende o detective rebelde por não cumprir "as regras", depois de explicar que tem sofrido pressões diárias do gabinete do Mayor.

Defeitos literários II

"... admito que tentei pierremenardizar dois parágrafos do teu último mail..."

Defeitos literários I

"... ela Kinbotiza as expressões mais inócuas..."

terça-feira, agosto 22, 2006

Le blog c'est moi

Este blog tem um tema, embora nunca tenha sido desenvolvido; tem uma figura tutelar, embora nunca tenha sido mencionada; é actualizado diariamente, mesmo quando não há nada para dizer.
Este blog é um reflexo adequado do seu criador.

Hoje ouve-se



Your kiss so sweet
Your sweat so sour
Sometimes I'm thinking that I love you
But I know it's only lust
The sins of the flesh
Are simply sins of lust

(Gang of Four, «Damaged Goods», Entertainment!)

puella abscondita

Lutero bem avisou: há coisas que apenas se podem compreender quando são Reveladas. A razão nada tem a ver com o caso; só atrapalha.

Carpintaria

Hoje, dia 22 de Agosto de 2006, fiz uma mesa.
E não se atreva o Infiel leitor a pensar que isto tem alguma coisa a ver com a IKEA. Eu, como Jesus Cristo (em parte), sou muito homem. Usei dois tipos de serrotes, martelo, pregos, fita métrica, cola industrial, nível.

(Próximo passo: dar início ao processo apenas com uma árvore indefesa e um machado.)

I see dead people - and giant talking locusts and Elvis in a spacesuit


Haley Joel Osment, o menino do "Sexto Sentido", foi preso em Los Angeles por condução ébria e posse de marijuana, juntando-se assim à longa lista de jovens estrelas de cinema que insistem em continuar a crescer depois dos créditos finais.

segunda-feira, agosto 21, 2006

Patriotismo cósmico



No conto "Dance in America" de Lorrie Moore (uma boa descoberta recente), um rapaz recita correctamente o nome dos planetas, depois de a mãe explicar que ele anda a aprender o sistema solar. A narradora pergunta-lhe qual é o planeta que ele acha mais interessante ("Marte com os seus canais? Saturno com os seus anéis?"). O rapaz pensa um pouco e responde solenemente:
-- A Terra, claro.

Aviso a um amigo que permanecerá anónimo

Um dia perguntaram a Lord Russell of Killowen (o primeiro Lord Chief Justice católico do Reino Unido) qual a pena máxima para o crime de bigamia. Ele respondeu: "Seguramente, ter duas sogras."

domingo, agosto 20, 2006

...its enormous waste in eccentricity...


«Knowledge of human nature is the beginning and end of political education, but several years of arduous study in the neighborhood of Westminster led Henry Adams to think that knowledge of English human nature had little or no value outside of England. In Paris, such a habit stood in one's way; in America, it roused all the instincts of native jealousy. The English mind was one-sided, eccentric, systematically unsystematic, and logically illogical. The less one knew of it, the better.
(...)
For several years, under the keenest incitement to watchfulness, he observed the English mind in contact with itself and other minds. Especially with the American the contact was interesting because the limits and defects of the American mind were one of the favorite topics of the European. From the old-world point of view, the American had no mind; he had an economic thinking-machine which could work only on a fixed line. The American mind exasperated the European as a buzz-saw might exasperate a pine forest. The English mind disliked the French mind because it was antagonistic, unreasonable, perhaps hostile, but recognized it as at least a thought. The American mind was not a thought at all; it was a convention, superficial, narrow, and ignorant; a mere cutting instrument, practical, economical, sharp, and direct.
The English themselves hardly conceived that their mind was either economical, sharp, or direct; but the defect that most struck an American was its enormous waste in eccentricity. Americans needed and used their whole energy, and applied it with close economy; but English society was eccentric by law and for sake of the eccentricity itself.»

(The Education of Henry Adams)

Lucrécia



Scarlett Johansson vai interpretar o papel de Lucrécia Bórgia no novo filme de Neil Jordan. Abençoados irmãos Lumière.

Cartas ao editor

Os leitores dos jornais de esquerda estão preocupados com o número crescente de estudantes universitários que diz acreditar na "teoria do plano inteligente" (IDT).
Os leitores dos jornais de direita estão preocupados com o número crescente de imigrantes polacos que procura trabalho no Reino Unido.
Este leitor, que ainda não sabe se pode ou não levar um livro no raio do avião para Lisboa, decide não se preocupar com o que os outros decidem preocupar-se.

O que é que se come?

Num dos seus ensaios sobre Shakespeare, Auden pergunta retoricamente porque é que já se escreveu tanta poesia sobre sexo e tão pouca sobre o acto de comer, que proporciona o mesmo prazer e raramente desilude.
Auden deveria ter lido Henry Miller. Nesse longo poema em prosa que é o Trópico de Câncer, a preocupação dominante do narrador não é a próxima queca mas o próximo almoço.

O Bairro do Amor

Não sei se os meus colegas do 7ºD na Escola Preparatória de Sacavém se lembrarão disto, mas eu lembro-me bem.
Um dia, levei na mochila uma edição Círculo de Leitores do Trópico de Câncer com as partes mais javardolas sublinhadas a lápis. No recreio, reuni um pequeno Clube do Livro improvisado atrás do pavilhão B e recitei com brio as várias cambalhotas do senhor Henry Miller. Um colega (salvo erro, o Hugo Ferro) perguntou-me o que queria dizer o "Câncer" do título. Simultaneamente blindado e pressionado pela minha reputação de erudito da turma, não quis dar parte de fraco e respondi convictamente que Câncer era um bairro de Paris conhecido pela qualidade dos seus bordéis.

Eucaristia Dominical



Sunday morning, brings the dawn in
It's just a restless feeling by my side
Early dawning, Sunday morning
It's just the wasted years so close behind
Watch out - the world's behind you
There's always someone around you who will call
It's nothing at all

Sunday morning, and I'm falling
I've got a feeling I don't want to know
Early dawning, Sunday morning
It's all the streets you crossed not so long ago
Watch out the world's behind you
There's always someone around you who will call
It's nothing at all

Sunday Morning
Sunday Morning...


(The Velvet Underground, «Sunday Morning», The Velvet Underground & Nico)

sábado, agosto 19, 2006

Cinco listas, cinco

Cinco livros que não acabei de ler:

- Dom Quixote, Cervantes
- Gargantua & Pantagruel, Rabelais
- The Avignon Quintet, Lawrence Durrell
- A Maggot, John Fowles
- Nuns and Soldiers, Iris Murdoch


Cinco ossos com nomes engraçados:

- esfenóide
- escápula
- ulna
- patela
- calcâneo


Cinco lugares onde nunca estive:

- na catedral de Chartres
- no mausoléu de Teodorico, em Ravenna
- no Nou Camp, em Barcelona
- na Old Manse, em Concord
- no Blanchette Cemetery, em Beaumont, Texas


Cinco melhores canções de Bob Dylan:

- «Just Like Tom Thumb's Blues»
- «Visions of Johanna»
- «Every Grain of Sand»
- «Love Minus Zero/No Limit»
- «Shelter From the Storm»


Cinco blogs que gostaria de ter lido:

- Santo Agostinho
- Lucrécia Bórgia
- Pêro da Covilhã
- Isaiah Berlin
- Vladimir Nabokov

Já foi feito

O Financial Times de Quinta-feira noticiava que a agência noticiosa Thomson Financial desenvolveu um software capaz de escrever peças jornalísticas em 0,3 segundos, eliminando assim a necessidade de redactores de carne e osso.
Nós, os assíduos leitores do Record e de O Jogo, já suspeitamos desse truque há anos.

Aritmética

Dois adolescentes conversam na paragem do autocarro. Um deles diz:
-- A Tracy disse que tu és giro.
-- A sério? Ela disse isso?
-- Disse, disse.
(pausa)
-- Quantas vezes?

"a love letter to America and to the english language"



«... I was still keenly interested in outdoor activities and desirous of finding suitable playgrounds in the open where I had suffered such shameful privations. Here, too, I was to be thwarted. The disappointment I must now register (as I gently grade my story into an expression of the continuous risk and dread that ran through my bliss) should in no way reflect on the lyrical, epic, tragic but never Arcadian American wilds. They are beautiful, heart-rendingly beautiful, those wilds, with a quality of wide-eyed, unsung, innocent surrender that my lacquered, toy-bright Swiss villages and exhaustively lauded Alps no longer possess. Innumerable lovers have clipped and kissed on the trim turf of old-world mountainsides, on the innerspring moss, by a handy, hygienic rill, on rustic benches under the initialed oaks, and in so many cabanes in so many beech forests. But in the Wilds of America the open-air lover will not find it easy to indulge in the most ancient of all crimes and pastimes. Poisonous plants burn his sweetheart's buttocks, nameless insects sting his; sharp items of the forest floor prick his knees, insects hers; and all around there abides a sustained rustle of potential snakes - que dis-je, of semi-extinct dragons! - while the crablike seeds of ferocious flowers cling, in a hideous green crust, to gartered black sock and sloppy white sock alike.»

Vladimir Nabokov, Lolita (cuja primeira edição americana faz hoje 48 anos)

sexta-feira, agosto 18, 2006

Spot publicitário


Aproveitamos este espaço para lembrar que já só faltam dez dias.

O melhor dístico da música pop

I'm spellbound, oh ... but a woman divides
And the hills are alive with celibate cries

The Smiths, «These Things Take Time»

Bagagem permanente


Mas isto vai comigo, porque nunca saio de casa sem ele. E, com este título, estou mesmo a pedir sarilhos.

Terrorismo

A pouco mais de uma semana de um voo de duas horas e meia para Lisboa, as medidas de segurança nos aeroportos ingleses continuam a confundir-me. Depois de três telefonemas ninguém me sabe dizer se posso ou não levar um livro para bordo. Confesso-me devidamente aterrorizado.

Humor semita

Logo no programa seguinte fala-se da polémica desportiva do dia. O Chelsea apresentou queixa contra Ken Bates, presidente do clube antes da era Abramovich, por este se ter referido genericamente ao corpo directivo actual como "a load of Siberian shysters". Um advogado judeu, que trabalha para uma companhia de agentes desportivos, é chamado a pronunciar-se sobre o caso. A locutora pergunta-lhe se o epíteto "shyster" o ofendia enquanto judeu. Resposta do senhor:
--Shyster não tanto. E não é coisa que ouça muita vez. É a forma como as pessoas cospem as expressões "advogado" e "empresário de futebol" que me ofende realmente.

Choque nostálgico

Ligo o rádio às sete da manhã, descansadinho da vida, e ouço uma canção dos Roxette. Nunca julguei que a ausência de ironia me pudesse assustar tanto.

Faux pas

Um dos muitos prazeres de visitar a minha mãe é poder observar em acção alguém cuja capacidade para o faux pas é aparentemente inesgotável - superando até a minha.
No Domingo passado, um vizinho seu (um sério e educado old Tory) disse-lhe que ia passar a tarde no cemitério, a fazer pequenas obras de restauro nas campas dos seus pais. A minha mãe, que, como é seu hábito, estava já a pensar noutra coisa, respondeu alegremente:
-- Alright dear, have fun.

The Clare Vawdrey defence

Ocorreu-me que Günter Grass ainda vai a tempo de usar uma defesa literária, conhecida no patois legalês como "the Clare Vawdrey defence": alegar que enquanto ele escrevia os livros, o "outro" Grass é que andava por aí a dizer coisas.

quinta-feira, agosto 17, 2006

Esta noite ouve-se


Show me where you keep all your secrets upstairs
Night after night you sleep while they're setting off flares
Someone came and took all the roses away
Now you'll sit showing me tears if you want me to stay
Cause down the street all the meters have run out of time, run out of time
I waited for you as the trees swayed out of time
In a crowded room I pick up your lonely stare
I'll cover for you like a slipcover covers a chair
But someone came and took all the roses away
It was only 5 minutes but it felt like it stretched into a day
Someone came and took all the roses away


(Yo La Tengo, «Pablo and Andrea», Electr-O-Pura)

Vergangenheitsbewältigung

... whose frolicsome black fables portray the forgotten face of history...

Que a recente admissão de Günter Grass diminua a sua legitimidade como voz moral da Alemanha pós-1945, aceita-se. Que Grass, o intelectual público, seja alvo de opróbrio é compreensível. As acusações de hipocrisia são mais do que justas, depois de quarenta anos de vitriólicos murros no púlpito sobre a forma como uma geração inteira recusou enfrentar o terrível embaraço daquelas duas décadas. Mas encaminhar o debate para uma reavaliação da sua obra (há quem sugira, na Alemanha, a devolução do Nobel) parece-me ridículo e sinal de que, mais uma vez, se está a confundir uma coisa com outra.
O delito de omissão foi cometido por Grass, o comentador cultural. Não pode nem deve afectar o lugar de Grass, o escritor, no cânone literário. Os delitos desse, se existem, são de outra ordem, e nada têm a ver com as instituições militares a que ele aderiu quando tinha 17 anos.
Se o "Grassgate" prova alguma coisa é que o instrumento de eleição do escritor deveria ser sempre, e apenas, a página, não o altifalante.

(Nota: ler, sobre este tema, dois excelentes apontamentos do Pedro Mexia - este e este.)

quarta-feira, agosto 16, 2006

The superior of all is the servant of all


Black Narcissus, da dupla Powell/Pressburger. Um dos filmes mais belos e perturbantes da história do cinema.

Sal na ferida

Penso ser essa uma das razões do sucesso de Ricky Gervais (a outra é, obviamente, puro talento), que sublimou um tipo de comédia que força uma relação empática baseada na vergonha, e nos mostra que a maioria da humanidade vive apenas a um passo do ridículo. Numa entrevista à BBC, Gervais disse que ver um homem escorregar numa casca de banana pode ser engraçado, mas a comédia que lhe interessa é a do homem que escorrega numa casca de banana no preciso momento em que a ex-namorada passa do outro lado da rua, de braço dado com um homem mais alto e mais magro que ele.
E isto não é, como já li, "tratar os personagens com sadismo". Porque o sal está a ser meticulosamente esfregado também nas feridas de quem vê.

Vergonhas

Se a humanidade se divide mesmo em dois tipos de pessoas, como tantos humoristas insistem, então o critério de separação é a forma como reagimos perante a vergonha alheia. Não a desgraça, mas a vergonha. Há os que riem e pensam "que ridículo" - e depois há os que se solidarizam em silêncio, que escondem o rosto e pensam "aquilo podia ser eu".
Eu pertenço ao segundo grupo, que julgo (espero) ser o mais numeroso. A vergonha dos outros é sempre um bocadinho a minha vergonha.

... always playing leap-frog...


«He never forgot the first two or three social functions he attended: one an afternoon at Miss Burdett Coutts's in Stratton Place, where he hid himself in the embrasure of a window and hoped that no one noticed him; another was a garden-party given by the old anti-slavery Duchess Dowager of Sutherland at Chiswick, where the American Minister and Mrs. Adams were kept in conversation by the old Duchess till every one else went away except the young Duke and his cousins, who set to playing leapfrog on the lawn. At intervals during the next thirty years Henry Adams continued to happen upon the Duke, who, singularly enough, was always playing leap-frog. Still another nightmare he suffered at a dance given by the old Duchess Dowager of Somerset, a terrible vision in castanets, who seized him and forced him to perform a Highland fling before the assembled nobility and gentry, with the daughter of the Turkish Ambassador for partner. This might seem humorous to some, but to him the world turned to ashes.»

(The Education of Henry Adams)

terça-feira, agosto 15, 2006

R de Rendo-me, T de Tens razão

A lista de nomeados para o Booker Prize foi hoje anunciada. Entre os nomeados está mais uma vez David Mitchell, que para além de escrever muito bem é um mestre na arte menor da entrevista literária (exemplo aqui).
Antes de se mudar para a Irlanda, Mitchell viveu vários anos no Japão. Foi-lhe perguntado um dia, num programa da BBC Radio 4, se tinha aprendido japonês. Ele disse que não, qualificando: "Consigo discutir com uma mulher em japonês, mas não consigo ganhar a discussão."
O que é uma resposta engraçada mas, ora bolas, se o critério é esse eu nem português sei falar.

Karma Almeida II

O meu professor de Francês na Escola Luísa de Gusmão costumava profetizar, sempre que um aluno cometia um erro particularmente grave:
-- Vocês vão ser todos almeidas, é o que vocês vão ser.

Karma Almeida

O cantor Boy George começou ontem a cumprir a sua pena de serviços comunitários, recolhendo lixo nas ruas de Nova Iorque. O que é uma inversão interessante da tendência recente: dar contratos discográficos a pessoas que deveriam andar a varrer os estádios depois dos concertos.

Propriedades dos sólidos


«Also in this [our Lord] showed me a little thing, the quantity of a hazel-nut, in the palm of my hand (...) And in this little thing I saw three properties. The first is that God made it, the second that God loveth it, the third that God keepeth it.»

(Dame Julian of Norwich, Revelations of Divine Love)

segunda-feira, agosto 14, 2006

... no law of progress applied to it...


«To a young Bostonian, fresh from Germany, Rome seemed a pure emotion, quite free from economic or actual values, and he could not in reason or common sense foresee that it was mechanically piling up conundrum after conundrum in his educational path, which seemed unconnected but that he had got to connect; that seemed insoluble but had got to be somehow solved. Rome was not a beetle to be dissected and dropped; not a bad French novel to be read in a railway train and thrown out of the window after other bad French novels, the morals of which could never approach the immorality of Roman history. Rome was actual; it was England; it was going to be America. Rome could not be fitted into an orderly, middle-class, Bostonian, systematic scheme of evolution. No law of progress applied to it. Not even time-sequences--the last refuge of helpless historians--had value for it. The Forum no more led to the Vatican than the Vatican to the Forum. Rienzi, Garibaldi, Tiberius Gracchus, Aurelian might be mixed up in any relation of time, along with a thousand more, and never lead to a sequence. The great word Evolution had not yet, in 1860, made a new religion of history, but the old religion had preached the same doctrine for a thousand years without finding in the entire history of Rome anything but flat contradiction.»

(The Education of Henry Adams)

Parabéns a você

Hoje faz anos o Gary Larson, autor do melhor cartoon do mundo, que infelizmente não consegui encontrar online. Um numeroso rebanho de ovelhas está a pastar num prado; de súbito uma delas ergue a cabeça e grita, escandalizada: "Esperem lá! Isto é relva! Estamos a comer relva!"

You might remember him from such movies as...


Gladys The Groovy Mule
The Erotic Adventures of Hercules
The President's Neck is Missing!
Give My Remains to Broadway
Suddenly Last Supper (Bible epic)
It's a Wonderful Belt
Preacher With a Shovel
Calling All Quakers
Look Who's Still Oinking
Back to the Sequel
Butter -- The Motion Picture
Cut it Out -- The Wacky Adventures of Jack the Ripper
Alice's Adventures Through The Windshield Glass
Driving Mr. T
The Unbearable Moistness of Sweating
Eenie Meeni Miney, Die
Three Men and a Bunsen Burner
Wake Up, Finnegan


(Filmografia parcial de Troy McClure, um dos melhores bonecos dos Simpsons. O actor que lhe dava voz, Phil Hartman, foi assassinado pela mulher em 1998.)

A gota de água

-- Então o que é que aconteceu?
-- Bem, ela acabou por descobrir que, além de calão, mesquinho, distante e mentiroso eu também sou neo-liberal.

Kinsey - versão UK

Publicitado como o maior inquérito do género realizado até agora (amostra de mais de 50 mil pessoas), o inquérito anual BBC Radio 1/Durex sobre os hábitos sexuais dos britânicos revelou que uma em cada cinco pessoas entre os 16 e os 24 anos já teve mais de dez parceiros sexuais diferentes.
A estatística que estes "estudos" nunca divulgam é a mais divertida: mais de 90% das pessoas admitem mentir frequentemente sobre a sua vida sexual.
Comentarei esta questão mais a fundo quando regressar da orgia da noite.

... the pons asinorum of tourist mathematics...


« ... he began his third or fourth attempt at education in November, 1858, by sailing on the steamer Persia, the pride of Captain Judkins and the Cunard Line; the newest, largest and fastest steamship afloat. He was not alone. Several of his college companions sailed with him, and the world looked cheerful enough until, on the third day, the world - as far as concerned the young man - ran into a heavy storm. He learned then a lesson that stood by him better than any university teaching ever did - the meaning of a November gale on the mid-Atlantic which, for mere physical misery, passed endurance. The subject offered him material for none but serious treatment; he could never see the humor of sea-sickness; but it united itself with a great variety of other impressions which made the first month of travel altogether the rapidest school of education he had yet found. The stride in knowledge seemed gigantic. One began a to see that a great many impressions were needed to make very little education, but how many could be crowded into one day without making any education at all, became the pons asinorum of tourist mathematics. How many would turn out to be wrong whether any could turn out right, was ultimate wisdom.»

(The Education of Henry Adams)

domingo, agosto 13, 2006

Hoje ouve-se



My love she speaks like silence,
Without ideals or violence,
She doesn't have to say she's faithful,
Yet she's true, like ice, like fire.
People carry roses,
And make promises by the hours,
My love she laughs like the flowers,
Valentines can't buy her.

In the dime stores and bus stations,
People talk of situations,
Read books, repeat quotations,
Draw conclusions on the wall.
Some speak of the future,
My love she speaks softly,
She knows there's no success like failure
And that failure's no success at all.

The cloak and dagger dangles,
Madams light the candles.
In ceremonies of the horsemen,
Even the pawn must hold a grudge.
Statues made of match sticks,
Crumble into one another,
My love winks, she does not bother,
She knows too much to argue or to judge.

The bridge at midnight trembles,
The country doctor rambles,
Bankers' nieces seek perfection,
Expecting all the gifts that wise men bring.
The wind howls like a hammer,
The night blows cold and rainy,
My love she's like some raven
At my window with a broken wing.

(Bob Dylan, «Love Minus Zero/No Limit», Bringing It All Back Home)

... e a lei moral dentro de mim


No comboio, entretido com o jornal, ouço uma voz feminina carregada de aflição: "I need a moral code!"
Viro-me para o lado, discretamente, para ver quem chegou a tal realização numa solarenga manhã de Agosto. Uma rapariga loura, incrivelmente bonita, segura um telemóvel numa mão e um manual de instruções na outra. Uma amiga tenta ajudá-la, vasculhado o interior de uma caixa de cartão. Depois de alguns segundos percebo que o telemóvel é uma aquisição recente e que o que eu ouvi (mal) estava certamente relacionado com a substituição do código PIN.
Fico aliviado. Se há coisa de que o mundo não precisa é que raparigas como ela desatem a aderir a códigos morais.
A não ser que seja o meu código moral.

...mas fala-se de outros blogs

Quem chega tarde a uma festa arrisca-se a que as raparigas já estejam todas ocupadas, as boas piadas já tenham sido todas ditas e, pior, que o álcool já tenha sido todo bebido.
Com a blogosfera é o mesmo: há um risco constante de incorrer em tautologias para quem perdeu o boom inicial. Há muito pouco por elogiar ou criticar que não tenha sido já elogiado ou criticado antes, possivelmente com mais lucidez. Comecei a ler blogs há poucos meses, e os que visito regularmente contam-se pelos dedos de uma mão (e estão todos listados aqui ao lado) com visitas esporádicas a mais nove ou dez. Estou certo de que não tenho nada de original para dizer sobre eles.
Vou correr esse moderado risco para recomendar à restrita plateia que lê isto o blog do Alexandre Andrade (o que é um pouco como o gajo da roulotte das bifanas sugerir ao cliente uma visitinha ao Rei dos Frangos). Um blog cujo arquivo de entradas tenho lido, à razão de um mês por noite, sempre com a impressão de ter a minha educação severamente testada por um daqueles mestres-escola turbulentos que no meio de uma aula de Filosofia começam a divagar sobre as amantes de Rousseau. Em Latim.
Para alguém que, como eu, não tem uma gota de sangue francófilo, a negociação de algumas referências pode ser tortuosa e implicar várias visitas à Britannica (bem como a um mapa actualizado do metro de Paris). A ubiquidade dos Pierres e dos Arnauds semeia o pânico no meu cérebrozinho lavrado por New England. Mas é um bom pânico e a navegação nunca permite a deriva.
Quanto à qualidade da escrita, que abarca uma assustadora amplitude de registos, é das melhores que se pode encontrar em português - ou em qualquer outra língua.
Portanto, se quiserem ler sobre Kleist, Ivanchuk, a escala de pungência das malaguetas ou simplesmente anúncios de gatos perdidos inventados, ide aqui. Ide.

Neste blog não se fala do Médio Oriente...

sábado, agosto 12, 2006

It cultivated a weakness which needed no cultivation...


«Socially or intellectually, the college was for him negative and in some ways mischievous. The most tolerant man of the world could not see good in the lower habits of the students, but the vices were less harmful than the virtues. The habit of drinking-- though the mere recollection of it made him doubt his own veracity, so fantastic it seemed in later life -- may have done no great or permanent harm; but the habit of looking at life as a social relation -- an affair of society -- did no good. It cultivated a weakness which needed no cultivation. If it had helped to make men of the world, or give the manners and instincts of any profession -- such as temper, patience, courtesy, or a faculty of profiting by the social defects of opponents -- it would have been education better worth having than mathematics or languages; but so far as it helped to make anything, it helped only to make the college standard permanent through life.»

(The Education of Henry Adams)

sexta-feira, agosto 11, 2006

Momentos roque ã roule

No Outono de 2002 entrei num pub em Barnt Green, nos arredores de Birmingham. Sentado numa mesa de canto, a beber um pint de cidra, estava um homem alto, vestido de preto, instantaneamente reconhecível, apesar dos quilos a mais e do cabelo a menos.
Era o Jimmy Page.

Sou contra

Os overrated Black Sabbath.

Sou a favor


Os grandessíssimos Led Zeppelin.

Efeméride


No dia de hoje, em 1519, morria em Leipzig o inventor do primeiro jingle comercial.
Ruhe Sanft, herr Tetzel.

Para limpar o palato

Para limpar o palato, como um bom lemon sorbet, deixo o link para um excelente artigo de Pynchon sobre os motins raciais de Watts, que ocorreram no dia 11 de Agosto de 1965.

Bad news

O The Modern World trazia ontem um suposto excerto do novo romance de Thomas Pynchon, que sai em Dezembro:

«Back in 1899, not long after the terrible cyclone that year which devastated the town, Young Willis Turnstone, freshly credentialed from the American School of Osteopathy, had set out westward from Kirksville, Missouri, with a small grip holding a change of personal linen, an extra shirt, a note of encouragement from Dr. A. T. Still, and an antiquated Colt in whose use he was far from practiced, arriving at length in Colorado, where one day riding across the Uncompahgre plateau he was set upon by a small band of pistoleros.“Hold it right there, Miss, let’s have a look at what’s in that attractive valise o’yours.”
“Not much,” said Willis.
“Hey, what’s this? Packing some iron here! Well, well, never let it be said Jimmy Drop and his gang denied a tender soul a fair shake now, little lady, you just grab ahold of your great big pistol and we'll get to it, shall we.” The others had cleared a space which Willis and Jimmy now found themselves alone at either end of, in classic throwdown posture. “Go on ahead, don’t be shy, I’ll give you ten seconds gratis, ’fore I draw. Promise.” Too dazed to share entirely the gang’s spirit of innocent fun, Willis slowly and inexpertly raised his revolver, trying to aim it as straight as a shaking pair of hands would allow. After a fair count of ten, true to his word and fast as a snake, Jimmy went for his own weapon, had it halfway up to working level before abruptly coming to a dead stop, frozen into an ungainly crouch. “Oh, pshaw!” the badman screamed, or words to that effect.
“Ay! Jefe, jefe,” cried his lieutenant Alfonsito, “tell us it ain’ your back again.”
“Damned idiot, o’ course it’s my back. Oh mother of all misfortune--and worst than last time too.”
“I can fix that,” offered Willis.
“Beg your pardon, what in hell business of any got-damn pinkinroller’d this be, again?”
“I know how to loosen that up for you. Trust me, I’m an osteopath.”
“It’s O.K., we’re open-minded, couple boys in the outfit are evangelicals, just watch where you’re putting them lilywhites now--yaaagghh--I mean, huh?”
“Feel better?”
“Holy Toledo,” straightening up, carefully but pain-free.
“Why, it’s a miracle.”
“Gracias a Dios!” screamed the dutiful Alfonsito.
“Obliged,” Jimmy guessed, sliding his pistol back in its holster.»


O problema aqui é que isto, não sendo catastrófico, também não é muito bom. As mailing lists já fervilham com rumores e muitos suspeitam que o excerto é apenas a última adenda a uma longa lista de fabricações - o cíclico festival contra-informativo que sempre precede uma nova erupção editorial do Homem Invisível.
Ficaria mais descansado se o rumor se viesse a revelar presciente, mas duvido.
O estilo de Pynchon é relativamente fácil de emular (como provaram David Foster Wallace e Neal Stephenson) e ainda mais fácil de parodiar (como provou o próprio Pynchon nos piores momentos de Vineland e Mason & Dixon). Este diálogo soa-me genuíno, seguindo a mesma matriz de pastiche barato que marcou algumas das suas páginas recentes.
Os augúrios não são bons, mas Pynchon sempre foi, página por página, um talento desigual. Resta esperar por Dezembro e pelas good news.

quinta-feira, agosto 10, 2006

...condemned to failure...


«Home influences alone never saved the New England boy from ruin, though sometimes they may have helped to ruin him; and the influences outside of home were negative. If school helped, it was only by reaction. The dislike of school was so strong as to be a positive gain. The passionate hatred of school methods was almost a method in itself. Yet the day-school of that time was respectable, and the boy had nothing to complain of. In fact, he never complained. He hated it because he was here with a crowd of other boys and compelled to learn by memory a quantity of things that did not amuse him. His memory was slow, and the effort painful. (...)
In any and all its forms, the boy detested school, and the prejudice became deeper with the years. He always reckoned his school-days, from ten to sixteen years old, as time thrown away. Perhaps his needs turned out to be exceptional but his existence was exceptional. Between 1850 and 1900 nearly every one's existence was exceptional. (...)
Thus, at the outset, he was condemned to failure more or less complete in the life awaiting him...»

(The Education of Henry Adams)

A noite já não é o que era

Ouvido de passagem:

«Nem imaginas quem é que eu googlei ontem à noite.»

Voz ao estômago (II)

Ó Miguel, dá para artilhares uma daquelas redomas de sal recheadas de peixe quando eu aí for?

Voz ao estômago

Pequenos nacos de melão, enrolados em presunto, regados com café com leite, ou Earl Grey.

Dói sempre duas vezes

Dentist, n.: A Prestidigitator who, putting metal in one's mouth, pulls coins out of one's pockets.

(Ambrose Bierce, The Devil's Dictionary)

Egghead football (II)

Durante o jogo Portugal-França, na mesma BBC, um dos comentadores (julgo que foi Martin O'Neil, actual treinador do Aston Villa) citou Yeats, William Goldman e Moshe Dayan para ilustrar um argumento sobre o duelo táctico entre Scolari e Domenech.
Alguém me pode dizer se costuma acontecer o mesmo na Sport TV?

Egghead football

Durante o jogo Alemanha-Equador, no Mundial, o locutor da BBC comentou assim uma acção defensiva do número 17 do Equador:
«E esta histeria nervosa de Espinoza é um excelente exemplo da filosofia equatoriana.»

E no cemitério de Nieuwe Kirk, em Spuistraat, um certo marrano deve ter dado uma pequena cambalhota no túmulo

Jacobus Bartleby


He prefers not to.

quarta-feira, agosto 09, 2006

Os filmes da minha vida (II)


«Look upon me! I'll show you the life of the mind!»

Os filmes da minha vida (I)


«We didn't need dialogue. We had faces.»

Desabafo

Quando tinha 21 anos - e me encontrava sob o poderoso jugo intelectual de Henry Adams e Norbert Wiener - escrevi um texto meio sério no qual defendia que o engenheiro francês Sadi Carnot era o anti-Cristo. Mas foi apenas um desabafo.

Auto-retrato

«He was not good in a fight, and his nerves were more delicate than boys' nerves ought to be. He exaggerated these weaknesses as he grew older. The habit of doubt; of distrusting his own judgement and of totally rejecting the judgement of the world; the tendency to regard every question as open; the hesitation to act except as a choice of evils; the shirking of responsability; the love of line, form, quality; the passion for compassion and the antipathy to society...»

Henry Adams, The Education of Henry Adams

Esta semana relê-se


A mãe de todas as auto-biografias.