sexta-feira, novembro 19, 2010

Alien vs Predator

No fat chicks

(...) To take a random sample from the current autumn season, Keith Jeffery's history of the secret service, MI6, is more than 800 pages. Tony Blair's A Journey tops 700 pages. Alan Sugar – Alan Sugar! – has an autobiography, What You See Is What You Get, that weighs in at 612 pages, while Orlando Figes's history of the Crimean war is almost terse at 575 pages.
This trend is not confined to non-fiction. Christos Tsiolkas's The Slap is almost 500 pages and Ken Follett's doorstopper Fall of Giants, if anyone's counting, is about 850 pages, probably to appeal to his American readers. Is anyone editing these books? The truth is that they all bear the imprint of marketing, not editorial, values.
Literary elephantiasis starts across the Atlantic. North America has a lot to answer for. In the "pile 'em high" tradition, US bookshops love to display big fat books in the window. The cut-and-paste technology of word processors must bear some of the blame, but overwriting is part of the zeitgeist. Jonathan Franzen's Freedom is highly enjoyable but who's finishing it? The novel is at least 100 pages too long.
Whatever happened to brevity? Once upon a time, it was not just the soul of wit, there was a strong literary preference for the shorter book, from Utopia to Heart of Darkness. More recently, The Great Gatsby, for my money the greatest novel in English in the 20th century, comes in at under 60,000 words, a miracle of compression. The novels of that great triumvirate – Waugh, Greene and Orwell – average 60-70,000 words apiece; even 1984 is not much over 100,000 words.
(...) If it's a choice between the tight-lipped or the windbag, give me the aphorist every time. Most novels do very well at about 250 pages or fewer. Seriously, what history or biography needs to exceed 500 pages? Some public-spirited cultural patron – the Man Group, perhaps – should sponsor a prize for short books.


Este inoportuno texto no Guardian online contra a proliferação de livros grandes, muito grandes, gigantescos, e Rochemback, estava prestes a passar-me ao lado quando foi linkado à traição pelo Zé Mário Silva e pelos Blondetailors, certamente com o objectivo de me deixar triste.
Oh pá, então não se vê logo que não é para acreditar em nada daquilo? Que, por definição, os livros bons têm sempre a dimensão correcta, e os maus são sempre demasiado compridos? Que aquilo não é um argumento contra a "elefantíase literária"? Que nem sequer é um "argumento"? Que se recorreu ao expediente de transformar dois pensamentos consecutivos numa opinião e três factos arbitrários numa tendência? Que se recorreu ao expediente adicional de emprestar relevância a "uma coisinha que se quer aqui dizer" transformando-a numa cruzada contra uma situação inexistente? Que o homem só queria ali meter uma lista de livros bons (propósito sempre justificado à partida), mas que depois de meter na cabeça que tinha de a legitimar falando de alguns livros maus, fingiu achar que os livros bons são bons por serem curtos e os maus são maus por serem longos, quando na verdade os livros bons são bons por serem escritos pelo Orwell e pelo Waugh e os maus são maus por serem escritos pelo Tony Blair e pelo Ken Follett? Que isto na prática é equivalente a uma tese sobre a superioridade intrínseca dos futebolistas canhotos sobre os dextros justificada pelos exemplos Messi, Maradona, Abel e Custódio?
Cada asserção foi nitidamente improvisada na hora e não sobrevive à mais tépida contra-interrogação. O livro do Franzen "tem pelo menos 100 páginas a mais" - quais? Nota-se uma tendência recente: a de que os livros estão a ficar mais longos - onde? Mas, atenção, "once upon a time" havia uma preferência literária pelo livro mais curto - quando?
A única coisa irrefutável que é dita no artigo inteiro é "This, by the way, is not an original point of view". Pois não, a começar pelo próprio Guardian online, que anda há três anos nisto:

Abril 2007: Dan Rhodes's top 10 short books ("But it seems obvious (doesn't it?) that writing overlong books is at the very least plain bad manners. I can't understand why writers are so often pilloried for writing short books. Brevity is mistaken for laziness when more often than not it's the opposite that is true.")
Agosto 2007:
Don't mistake long novels for deep ones ("Slim, artful volumes are so much more profound than fashionably 'epic' doorstoppers")
Maio 2009:
Life's too short for thousand-page novels ("I now find it difficult to read a novel that is much longer without feeling impatient, without fighting the urge to whip out my red pen and start crossing out the extraneous bit because the editor didn't, because the author was too proud (...) to accept that quantity is not the same as quality.)
Março 2010:
Short is sweet when it comes to fiction ("Novels don't have to be long to say something")
Julho 2010:
Take out holiday reading insurance: stick to novellas ("Rather than risk ruining your break with a big book you don't get on with, why not spread your risk with the novella?")

sexta-feira, novembro 12, 2010

Já alterei decisões de voto por menos

Governo quer legalizar corridas de cavalos em Portugal

O ministro da Agricultura disse hoje, na Golegã, que está a trabalhar com os responsáveis governamentais pela economia e o turismo a possibilidade de se avançar com a legalização das apostas em corridas de cavalos.

quinta-feira, novembro 11, 2010

Em alturas de crise, há que tomar medidas drásticas

“Sporting Clube de Portugal - Futebol, SAD”. Esta é a nova designação social da Sociedade Desportiva de Futebol do clube de Alvalade.

Aprovada em Assembleia Geral com 99,98 por cento de votos a favor, a nova designação já foi devidamente registada e substitui a anterior “Sporting, SAD – Sociedade Desportiva de Futebol SAD”.

A nova designação, apresentada pelo Conselho Directivo, resultou de uma recomendação aprovada no último Congresso Leonino.


(A Bola)

quarta-feira, novembro 03, 2010

Grandes momentos brejeiros na poesia metafísica do século XVII

'You must sit down,' says Love, 'and taste my meat.'
So I did sit and eat.

- George Herbert (1593-1632), "Love"

terça-feira, novembro 02, 2010

As aliterações do Tonecas

... between Brighton and Bogotá... (p. 3); ... in, say, Sligo or Sri Lanka... (p. 3); ... the Tartars or the Tongans... (p. 29); ... out into Moore, Morgan, Maturin and Mangan... (p. 57); ... less by socialism than by Schoenberg... (p. 74); ... a matter of Fisher Kings and fertilty cults... (p. 80); ... shifting it from Kant to Kafka... (p. 98); ... so do tyrants and tootache... (p. 121); ... the somatics of Foucault and Fonda (p. 129); ... in classrooms from Berkeley to the Bronx (p. 129); ... which roams from ballet to Berg (p. 149); ... as it meanders from Kant to Krishna, Schiller to Sati (p. 160); ... others may write of Camus or cauliflowers (p. 180); ... crossing from Spinoza to scallop fishing (p. 190); ... from Kafka to the Ku Klux Klan (p. 197); ... from Marx to Marlboro (p. 206); ... from the New Left to the New Times, Leavis to Lyotard (p. 207); ... between Jonathan Swift and Graham Swift (p. 219); ... from the Mystery Plays to Miss Marple (p.219); ... Diversity ends at Dover (p. 221); ... more Harlequin than Hegel (p. 236); ... from Sorel and the Surrealists to Sartre, from Levinas to Lyotard (p. 246); ... from the BBC to the BFI (p. 255); ... from God to Goethe (p. 259); ... from Horace to Housman (p. 263); ... from Defoe to Drabble (p. 264); ... alongside Plato and Pynchon (p. 267); ... from the Venerable Bede to Tony Blair (p. 269).

Terry Eagleton, Figures of Dissent (Verso, 2003)

O maior argumento contra a publicação de recolhas de ensaios e jornalismo ocasional (ou arquivos de blogues, ja agora), maior do que o argumento da efemeridade parasítica embutida no formato, é o argumento da auto-preservação. Salvo raríssimas excepções, permitir que o que é escrito episodicamente seja lido sequencialmente é meio caminho andado para denunciar muletas e maneirismos de Loures a Londres.
As aliterações de Terry Eagleton não são, em rigor, um problema muito grande; nenhuma delas deforma um argumento ou uma linha de raciocínio, nem diminui a vontade de continuar a ler (embora possa aumentar a vontade de continuar a ler especificamente para encontrar mais aliterações, porque no fundo somos uma crianças). Aceitamos de boa fé que o alfabeto se organizou de forma quase milagrosa para se adequar precisamente àquilo que Terry Eagleton queria dizer; e nem sequer levamos a mal quando ele escreve no meio deste bacanal de aliterações, a propósito de um excerto de Peter Conrad, que «the scrupulous alliteration of ‘scored with stigmata’, the suave placing of ‘squeamishly’, the overpitched final image: all this stylistic self-consciousness creates a Post-Modern ‘lack of affect’, which is evident in other ways, too».
O processo através do qual uma maneira de dizer as coisas degenera num maneirismo é uma coisa tão misteriosa para mim como o mercado de obrigações ou a música popular brasileira, mas mesmo neste estágio claramente avançado, aceito que ainda possa produzir vantagens, uma das quais será proporcionar atalhos para organizar argumentos. Levado ao extremo (creio que há casos piores, a começar nos saldos de paradoxos nos livros de Chesterton), torna-se menos um instrumento intelectual do que um hábito mental: no princípio está-se ali à procura de uma forma de poupar tempo para pensar, e acaba-se apenas a poupar no que se pensa - o que, nos piores momentinhos do Terry Eagleton, é evident in other ways, too. (Nada disto deve ser comparado ao meu uso de advérbios de modo, que é sempre escrupulosamente moderado).