terça-feira, julho 31, 2007

The War Against Cliché

My mistress' eyes are nothing like the sun;
Coral is far more red than her lips' red;
If snow be white, why then her breasts are dun;
If hairs be wires, black wires grow on her head.
I have seen roses damask'd, red and white,
But no such roses see I in her cheeks;
And in some perfumes is there more delight
Than in the breath that from my mistress reeks.
I love to hear her speak, yet well I know
That music hath a far more pleasing sound;
I grant I never saw a goddess go;
My mistress, when she walks, treads on the ground


(Soneto CXXX, sem os últimos dois versos, que estragam tudo. Há uma edição portuguesa recente dos Sonetos. A tradução é de Vasco Graça Moura. Se alguém tiver uma imagem da capa, agradeco que a envie para o mail que está ali do lado direito, pois comecei recentemente a coleccionar capas de Vasco Graça Moura. Agradecia também que uma alma caridosa me fosse enviando os posts do maradona para o mesmíssimo mail que está ali do lado direito. Tenho sobrevivido [só Deus sabe como] sem acesso a Internet, situação que deve manter-se nas próximas duas semanas. Vou andar por aqui, pelos cantos, a ler jornais e a ver televisão, como faziam os homínideos do Paleolítico Inferior. )

Se o Verão é isto, só se pode esperar uma coisa

Uma true winter reward.

terça-feira, julho 24, 2007

You must stay, because you are a reader of Pastoral Portuguesa



A sequela de um pseudo-clássico sobejamente conhecido, Damien: Omen II (1978), transmitido ontem à noite pela BBC, é um filme que não via desde os 14 anos, e sobre o qual a minha memória me tinha atraiçoado impiedosamente. Para benefício dos que não conhecem a trilogia: Damien conta a história aterradora do filho de Satanás, e de como forças sobrenaturais ao serviço do Príncipe das Trevas se apoderam de um bom conceito e o transformam gradualmente num filme muito mau. O processo é tortuoso, e requer o engenho dissimulado que os teólogos nos garantem ser um dos atributos do Demónio: a contratação de actores com prestígio, a posse de superiores meios técnicos, a utilização de uma impecável banda sonora de Jerry Goldsmith, e - a astúcia suprema - um guião que parece ter sido escrito pela mão esquerda do tipo que servia os cafés.
Isto é triste, muito triste. Mais grave que isso: é uma ofensa moral. É desperdiçar o tempo e testar a condescendência de um ferrenho adepto do género. Alguém que adora filmes de terror desde que tem memória cinematográfica, e munido de uma tolerância ao disparate do tamanho de um complexo residencial construído por cima de um antigo cemitério índio, devia ser teoricamente fácil de contentar. Porque o aficionado genuíno depressa aprende a nivelar por baixo os seus níveis de exigência. Tendo em conta que as obras-primas do género se podem enumerar com os dedos de mão e meia, e que mesmo um exemplar decente aparece, no máximo, umas cinco vezes em cada década, é do mais elementar bom-senso treinar o apetite para se satisfazer com lixo honesto e piroseiras competentes. Metade do prazer é hierarquizar o esterco, e aprender a captar as subtis diferenças de tom que tornam, por exemplo, Sexta-Feira 13 parte IV e Sexta-Feira 13 parte VI significativamente melhores que Sexta-Feira 13 parte III e Sexta-Feira 13 parte V, ainda que todos eles partam de uma premissa cujo nível de sofisticação está ao mesmo nível de um adolescente com um saco de plástico na cabeça a fazer "Bu!".
Dentro deste tolerante programa estético, o pior tipo de filme é o lixo desonesto, a piroseira desleixada; o filme que tenta maquilhar (com versículos da Bíblia, cenários imponentes, e William Holden) uma insanável inaptidão de base, que acaba inevitavelmente por corromper tudo o resto
Uma amostra antológica. Dezassete minutos depois do genérico inicial, os trolhas responsáveis pelo guião, ainda não confiantes na capacidade do espectador para perceber as intricadas nuances da sua trama, decidem encenar uma ridícula, supérflua e dramaticamente inerte cena de salão, cujo único objectivo aparente é servir frias colheradas de backstory. A dada altura, um dos personagens levanta-se da mesa, anunciando a sua intenção de estar noutro lugar (algo com que o espectador simpatiza de imediato), apenas para outra personagem lhe barrar a passagem, e lhe explicar alegremente o enredo ("No, you must stay, Dr. Warren, because you're the curator of the Thorne Museum, and I own 27 per cent of that.").
Segundos depois, esta troca impagável:
«They're not your sons, they're ours.»
«Neither boy is yours. May I remind you that Mark is Richard's son, from his first marriage, and Damien is his brother's son.»
Um dos mais flagrantes indícios de que estamos a assistir a um mau filme, escrito por argumentistas trapalhões, é ver os personagens relembrarem uns aos outros as suas respectivas genalogias. Nunca acontece num Sexta-Feira 13, seja qual for o episódio, não apenas porque o argumentista tem coisas muito mais importantes com que se preocupar (nomeadamente a decapitação sangrenta, mas honesta, da miúda em roupa interior), mas porque nesses filmes costuma encontrar-se um insólito equilíbrio natural entre a integridade e a exploração.
Num filme sobre o Anticristo, com um orçamento colossal, e com William Holden, o pecado é imperdoável, e revela apenas dois factos: que quem faz o filme não tem confiança na história para se contar a si própria; e que não tem confiança no espectador para fazer o trabalho adicional.
Soube pela IMDB que a série The Omen sofreu um segundo acrescento em 1981, The Final Conflict, que parece culminar num épico confronto entre um Damien adulto e um Jesus Cristo reencarnado. Se os padrões de qualidade foram preservados, essa é uma cena que gostaria de ver:
«Hello Damien, Satan's child. I can see that you are all grown up.»
«Yes, but may I take this opportunity to remind you, oh carpenter from Nazareth, that you are a direct descendant of Abraham, who begat Isaac, who begat Jacob, who begat Judas... » etc, etc, etc.

(P.S.: A mesma IMDB informa que o actor escolhido para interpretar o papel do filho de Satanás é hoje advogado. Limito-me a apresentar este facto, sem qualquer comentário adicional).

Prolezhni

Os trocadilhos existem, mas parece que não são universalmente vertidos. A tradução de 1993 (Burgin & O'Connor) foi a que eu li, e vale a pena só pelas anotações. Pode alguém continuar a viver tranquilamente a sua vida sem saber que o nome do secretário do Comité de Moradores no Sadovaya deriva da palavra russa para "úlceras de pressão"? Eu não sei se poderia.

(O artigo da wikipedia também refere que o livro inspirou uma canção dos Pearl Jam e um futuro musical de Andrew Lloyd Webber; dois factos aparentemente inofensivos que arruinaram por completo o meu dia).

domingo, julho 22, 2007



It is understood that. This could be seen as. This could allude to.




«The Smurfs live in an egalitarian utopia. There is no system of monetary exchange or even barter in the Smurf village. The village can be seen as a planned economy, under the leadership of Papa Smurf. (...) The food in the Smurf Village was stored away in mushrooms the minute it was harvested and then equally distributed to all the Smurfs throughout the year. No one "farmer smurf" sold his crop to one smurf or another. It was understood that the crop was for the entire Smurf population, not for the sale or profit of one Smurf alone (...)
Gargamel could be seen as the physical stereotype for capitalism: a man, totally consumed by greed. Anti-Semitic stereotypes in Gargamel's appearance have been noted, i.e. a large hook nose and a bald pate, except for the dark bushy hair sprouting over his ears, along with the name of his cat, Azrael, which resembles the name of the Jewish state Israel. This could allude to Communism's demonization of rich Jewish antagonists in Russia and the Soviet Union (...)»

("The Smurfs and communism", Wikipedia)

sábado, julho 21, 2007

Juro que, depois disto, não volto a escrever a palavra "Tintim" durante seis meses

Estava aqui a planear um texto híbrido sobre crise no PSD e as eleições na Turquia, quando reparei que o JRP do Comboio Azul tinha escrito um segundo post sobre l'affaire Tintin. Um segundo post do qual, com toda a franqueza, desgostei um bocadinho menos que do primeiro (porque inclui um mp3 do Morrissey), mas que volta a demonstrar as três diferenças fundamentais entre as nossas posições. Uma, e esta parece-me mesmo crucial, é que tem estado por aqui a chover ininterruptamente desde as seis da manhã, todas as pistas de cavalos num raio de 150 quilómetros estão alagadas, e eu não posso sair de casa para ir apostar. Só quem passa por situações destas é que lhes sabe dar o valor.
Outra diferença é a seguinte: no meu entender, as únicas formas de racismo que justificam actos censórios ou semi-censórios são as que têm uma componente doutrinária e prescritiva. Essa componente está presente em qualquer texto que tente erguer um edifício ideológico a partir de um preconceito lamentável, mas incontornavelmente humano, que é o medo/desconfiança em relação ao Outro. O álbum do Hergê não é isto. Aquilo que, no limite, se pode descortinar em Tintim no Congo, é o reflexo esbatido e ingénuo da mentalidade popular numa metrópole colonial na primeira metade do século XX.
(E aqui, um aparte para o João Galamba: eu também li o The Origins of Totalitarianism da Hannah Arendt. Também sei que o colonialismo europeu foi legitimado por alguns lamentáveis textos pseudo-científicos, como esta coisa aqui. O racismo teórico foi um instrumento valioso para as potências coloniais. Mas concordaremos que não era uma característica individual de toda a população europeia da altura. Existia uma espécie de racismo popular por default em qualquer potência colonial, que não era activamente exercido, e que não deve ser retroactivamente condenado, a não ser por pessoas com a certeza absoluta de que teriam sido as mesmas almas iluminadas e tolerantes caso não tivessem gozado a felicidade cronológica de nascer em tempos iluminados e tolerantes . Creio que o possível "racismo" de Hergê era esse: um racismo de rebanho, um racismo de ignorância. Daí a minha tentativa, com aquela etiqueta rasurada da "sobranceria colonial", de o separar do racismo ideológico dos Gobineaus e dos Chamberlains, ou do racismo interventivo dos PNRs e dos BNPs).
Voltando a chover no molhado: o JRP acha que o episódio (disponível aqui) em que Tintim manda umas pessoas trabalhar "contém a maior dose de racismo" do álbum. Acontece que o mesmo episódio podia retratar os passageiros como aristocratas ingleses pouco habituados a trabalhar, sem ser preciso alterar a linguagem, e sem perder o sentido (façam a experiência mental). Mas porque os bonecos são negros, e porque o JRP sabe o suficiente sobre o contexto histórico da época para ver nas ordens de Tintim e na reacção dos passageiros uma dramatização da relação mestre-escravo, o episódio é interpretado como racista. Reafirmo que esta retroacção interpretativa permite encontrar ofensa em qualquer texto escrito antes da semana passada
Há uma tira n'O Segredo do Licorne na qual o Capitão Haddock ordena aos irmãos Dupont que manejem a bomba de ar do escafandro de Tintim, algo que os desgraçados, por entenderem mal as instruções, continuam a fazer desnecessariamente até ao anoitecer. Esta vinheta, como tantas outras, revela a bestial estupidez dos Dupont, e pressupõe a suposta superioridade do Capitão Haddock, que se confere o direito de exercer domínio sobre polícias com bigode. É isso? E todas as vinhetas em que o Nestor recebe ordens serão, de acordo com o mesmo raciocínio, "desumanas" e "cruéis" manifestações de um preconceito anti-carecas? E já alguém reparou que não há um único retrato positivo de um banqueiro em toda a série? Não há ninguém interessado em proteger as crianças deste preconceito anti-capitalista?
Isto leva-nos, misericordiosamente, ao último ponto de discórdia. O JRP continua a achar que a cedência parcial das livrarias - a transferência do livro para uma secção diferente - foi um gesto, na melhor das hipóteses, neutro (um "mal menor" é o que ele lhe chama). Eu não acho. Acho que é um mal maior, acho que não beneficia uma única pessoa, acho que é um burlesco passo à rectaguarda.
Abrir um precedente destes a propósito de um pormenor demonstravelmente refém de interpretações subjectivas é um gesto muito mais perigoso do que qualquer coisa que se possa encontrar num livro de banda desenhada. É abrir caminho a que uma outra organização, com líderes ainda mais idiotas que os da CRE, encontre um episódio insultuoso para as mulheres em O Filho de Astérix; ou uma vinheta depreciativa para os nativos americanos em A Grande Travessia; ou uma referência cripto-leninista num feitiço do Harry Potter; e que venha depois exigir a mesma atitude: a mudança de secção do objecto-réu.
Nessa altura, eu e o JRP estaremos provavelmente do mesmo lado, a balbuciar umas coisas sobre o absurdo da exigência, e a tentar explicar que os objectos em questão não são, no mundo real, ofensivos nem perigosos. Mas porque o precedente existe, seguir-se-ão as inevitáveis (e neste caso justas) acusações de hipocrisia e dualidade de critérios. Ou, pior ainda, nova cedência.
No planeta Terra, a qualquer hora do dia ou da noite, há sempre um indivíduo ou um grupo ofendido com qualquer coisa, e a reivindicar outra coisa qualquer (pessoalmente, don't get me started nos impostos). Decidir sobre a razão dessas reivindicações não é tarefa fácil, mas para abrir um precedente, acredito que a justificação deva ser o mais sólida e incontroversa possível. Os exemplos do JRP (Mein Kampf, American Psycho, pornografia) são maus, porque, ao contrário de Tintim no Congo, nunca fizeram parte das prateleiras juvenis. Ou seja, a sua inclusão nas ditas é que representaria um precedente; a sua inclusão é que teria de ser solidamente justificada. (Sou todo ouvidos).
O JRP diz que a demanda do seu post original era precisamente a "a dificuldade em definir a fronteira" do que é ou não aceitável para as secções de literatura juvenil. A minha sugestão é esta: deixar a fronteira bem quietinha como está. Quanto menos lhe mexermos, menores são as probabilidades de fazermos asneira.

(Sinto que este post repisa algumas ideias do anterior, e que portanto o diminui. Para evitar uma situação extrema, do género ficar aqui sentado a escrever versões sucessivas da mesma coisa até o hipódromo de Worcester voltar a abrir, decidi atacar um projecto que ando a alimentar desde os 14 anos: dormir um fim-de-semana inteiro. Há espécies de morcego que dormem vinte horas por dia. As girafas dormem menos de duas. Calculem o estado em que eu estou para me ocorrerem coisas destas. Já agora, leiam este texto do Roy Blount Jr. Não tem nada a ver com Tintim, o que, nesta altura do campeonato, é a melhor recomendação possível.)

sexta-feira, julho 20, 2007

quarta-feira, julho 18, 2007

Tenho muitas dúvidas sobre estas coisas

Não tenho dúvidas. O álbum "Tintim no Congo" é seguramente o pior momento da obra de Hergé. E diga-se, não sou só eu que o acho... o próprio acabou por o definir como "um pecado da juventude".
O álbum é, de facto, péssimo. Racista, desumano e cruel(...)
Tintim pergunta a uma turma de crianças negras quanto é 2+2 e não obtém resposta, mesmo depois de insistir (coisa que aliás continuará a fazer em vinhetas posteriores, sempre sem sucesso). Noutras vinhetas, Tintim deparar-se-á com a preguiça de um conjunto de negros, com erros sucessivos na oralidade e superstição extrema, com a subida de Milou ao trono dos pigmeus, com a mesquinhez na disputa por um chapéu e com a estupidez pela solução final, e por aí fora.(...)
No meu entender, todas estas razões seriam suficientes para a retirada do livro da estante dos mais novos. Para estas realidades, da violência, discriminação e racismo, já chegam as imagens e as palavras que os noticiários vomitam sem contenção, a qualquer hora do dia, para todos os públicos, incluindo o mais jovem (...)
A livraria Borders e a Waterstone's, que tomaram a iniciativa de mudar a obra de secção, também estiveram bem. Tendo o bom-senso de não proibir a obra, alteraram a classificação da mesma, permitindo aos adultos que a queiram consultar e comprar de o fazer. Mas, uma vez que o livro tem cenas claramente excessivas e, pior que isso, coloca como vilão (perante os valores ecológicos e de igualdade contemporâneos) aquele que deve ser o herói, símbolo de toda a valentia na defesa de causas nobres e humanas, as livrarias libertaram as crianças de encontros, desilusões e modelos errados que a obra poderia proporcionar. (...)


Cai por aqui um granizo inconcebível, dizem que estamos em Julho, um cavalo a 8/11 dá um trambolhão a quinze metros da meta, o Purovic é apanhado em dezassete foras-de-jogo, o estado das coisas é genericamente lamentável, eu ando aqui a preocupar-me com banda desenhada e, bom, enfim, devo dizer que não gostei mesmo nada deste post no Comboio Azul, por variadíssimas razões, das quais tenciono explicar algumas.
Começando por baixo, parece-me que Tintim no Congo é "racista, desumano e cruel" da mesma maneira que certas nuvens no céu se assemelham a ovelhas, saxofones ou cafeteiras Moulinex; é preciso tiranizar o ângulo de visão e estar à procura do que se quer ver. Não venho aqui defender o indefensável, nem cair no ridículo de negar os aspectos menos felizes do álbum, mas é-me abominavelmente custoso encontrar justificação - neste debate, como em tantos outros - para um vocabulário crítico de tal forma inflacionado que o juro retórico assuma a forma de "racista, desumano e cruel". Mas admito ter dúvidas sobre isto, o que me coloca em desvantagem imediata perante qualquer pessoa que não as tenha. O Comboio Azul não parece ter grandes dúvidas sobre isto. "Não tenho dúvidas", para não deixar dúvidas, é a primeira frase do post, o que me deixa algumas dúvidas. Talvez isto não seja nada mais grave que uma falha nos circuitos de distribuição das dúvidas, porque é tristemente frequente eu sentir o peso de dúvidas a mais, o que me faz suspeitar que provavelmente ando por aqui há anos a sentir as dúvidas de terceiros, incluindo as do Comboio Azul.
O Comboio Azul também acha que "há ali claras referências racistas (mais que paternalistas, como já li por aí)". Eu, recheado de dúvidas, acho que se nota mais sobranceria colonial do que racismo, como leio por "aí" e por "aqui". "Racismo", no meu dicionário, vem definido como uma «doutrina que tende a preservar a unidade da raça e assenta na suposta superioridade de uma raça que se confere o direito de exercer domínio sobre as outras», e também como «hostilidade face a um grupo étnico diferente».
É possível fazer várias leituras de Tintim no Congo, mas descortinar naquelas vinhetas resquícios de "doutrina" ou de "hostilidade"está muito além das minhas capacidades hermenêuticas. Eu leio e releio e não vejo doutrina ou hostilidade nenhuma. O que lá vejo é o espectro caricaturizado de uma realidade colonial espacialmente distante, filtrada pela imaginação caótica de um génio em pleno processo de formação moral e artística. O que lá vejo é o paternalismo cultural algo ridículo que existia nos meus bisavós, e em menor grau nos meus avós, e que se foi desvanecendo nas gerações seguintes. O que lá vejo não é necessariamente louvável, mas duvido que represente uma ameaça para quem quer que seja.
É indiscutível que os africanos desenhados no livro são caricaturizados (os lábios grotescamente inchados, etc), mas, e porque nestas coisas é por vezes necessário reiterar o pateticamente óbvio, convém lembrar que estamos a falar de bonecos num livro de banda desenhada, e que a cabeça do próprio Tintim é um pêssego corado com dois furinhos no meio.
A simples operação matemática que elude uma sala de aula inteira pode ser interpretada como "racismo" por um adulto familiarizado com os semáforos do prejuízo, e que saiba muito bem aquilo de que está à procura. Uma criança, que por norma não lê um texto à procura de sintomas, poderia simplesmente sentir empatia com as naturais e familiares dificuldades matemáticas de outras crianças.
Porque a questão de fundo é essa: quem sucumbe à tentação estruturalista de olhar para um álbum de BD como um atalho para diagnosticar maleitas culturais arrisca-se a encontrar inúmeros elementos objeccionáveis. E se "todas estas razões seriam suficientes para a retirada do livro da secção dos mais novos" então poderíamos usar as mesmas razões para esvaziar a secção por completo. Há um livro de Júlio Verne (não me lembro qual ao certo, mas desconfio que é o do balão) em que os protagonistas disparam sobre nativos africanos porque os confundem com babuínos. E isto para não falar de Mark Twain ou H. Ridder Haggard, cujas obras estão pejadas de vocabulário racial duvidoso. Vamos levar tudo para as prateleiras de cima? E quanto à questão da violência sobre os animais: vamos proibir os Looney Tunes a menores de 18? Os danos infligidos ao Wile E. Coyote pelas geringonças da Acme Corporation equivalem a mil cartuchos de dinamite em mil rinocerontes infelizes. Já que estamos embalados: toda a série do Astérix pode ser avaliada como potencialmente ainda mais perigosa para crianças, uma vez que estas apenas costumam apreender a primeira camada de significado, que é a estereotipização sucessiva de culturas e nacionalidades inteiras, permanecendo alheias à segunda camada, que é o comentário satírico e auto-referencial a essa mesma estereotipização. Astérix para a estante das graphic novels, só por via das dúvidas?
Acredito, ainda a chapinhar no meu charco de dúvidas, que uma criança sozinha não vai encontrar nada nefasto em Tintim no Congo. Li esse álbum específico pela primeira vez com cinco ou seis anos; li-o como uma aventura ao longo da qual Tintim auxiliava algumas vítimas, derrotava alguns vilões, e massacrava alguns animais. Só na adolescência tardia consegui entender que parte do conteúdo era problemático, e consegui lá chegar em razoável forma cívica, sem dinamitar nenhum perissodáctilo nem aderir à Frente Nacional.
Muitos comentadores na imprensa e em blogues ingleses acreditam, tal como o Comboio Azul, que a passagem do livro para a secção dos adultos foi uma boa solução de compromisso, e uma iniciativa inteligente. Mas não é, nem sequer pretendeu ser. A atitude da CRE (Comission for Racial Equality) não é um nobre grito de justiça; é um fútil exercício de visibilidade pública, que lhe garante uma semi-vitória institucional, mas cujas consequências negativas em muito vão exceder as positivas. No xadrês politico-cultural britânico, a CRE sacrificou um peão a troco de muito barulho e coisa nenhuma. Uma manobra, de resto, na qual teima em reincidir.
As crianças que, segundo eles, precisam de ser protegidas, não costumam ir sozinhas às livrarias, fazer compras com o seu próprio dinheiro e sem supervisão paternal. Esta farsa não poupou "encontros" a nenhuma hipotética "vítima". Antes pelo contrário. Um dos efeitos imediatos foi a promoção artificial de um dos trabalhos mais fracos de Hergé a fruto cultural proibido, uma Laranja Mecânica para a geração P2P. E o álbum, entretanto, subiu ao top-ten de vendas na Amazon.
O queixoso que originou tudo isto encontrou o livro na secção de literatura juvenil (não infantil, como já li "por aí"), protegido por uma tira de papel alertando para o conteúdo potencialmente problemático, e com uma nota dos editores contextualizando a obra. A solução de compromisso era esta. A iniciativa inteligente já tinha sido tomada. Mas o senhor decidiu ignorar o compromisso; decidiu rasgar a tira e ler o livro; decidiu, em suma, chocar-se, uma das decisões mais fáceis de concretizar dentro de uma livraria, seja qual for a secção. Basta ter o equipamento mental adequado.
O outro resultado tangível do processo foi a oferta - na já cansativamente habitual bandeja perfumada - de munições aos guerrilheiros anti-sistema, os tais patrulhadores dos patrulhadores que tanto irritam o Comboio Azul e que tanto me irritam a mim, e que rejubilam à menor oportunidade para fulminar a "tirania do politicamente correcto", que, de resto, se assemelha cada vez mais à caricatura imbecil que dela fazem.
Entidades como a CRE, cujo objectivo é combater activamente um problema real e sério, não deviam contribuir para a sua trivialização, nem desperdiçar crédito mediático a atacar fantasminhas, muito menos com exigências histéricas e desproporcionadas. Falsificações do passado, por menor que seja a escala, e por mais benignas que sejam as intenções, nunca melhoraram o futuro de ninguém. Sobre isto, pelo menos, tenho muito poucas dúvidas.

segunda-feira, julho 16, 2007

The Gettysburg Address in Eisenhowerese

«I haven't checked these figures but 87 years ago, I think it was, a number of individuals organized a governmental set-up here in this country, I believe it covered certain Eastern areas, with this idea they were following up based on a sort of national independence arrangement and the program that every individual is just as good as every other individual. Well, now, of course, we are dealing with this big difference of opinion, civil disturbance you might say, although I don't like to appear to take sides or name any individuals, and the point is naturally to check up, by actual experience in the field, to see whether any governmental set-up with a basis like the one I was mentioning has any validity and find out whether that dedication by those early individuals will pay off in lasting values and things of that kind.
Well, here we are, at the scene where one of these disturbances between different sides got going. We want to pay our tribute to those loved ones, those departed individuals who made the supreme sacrifice here on the basis of their opinions about how this thing ought to be handled. And I would say this. It is absolutely in order to do this.
But if you look at the over-all picture of this, we can't pay any tribute - we can't sanctify this area, you might say - we can't hallow according to whatever individual creeds or faiths or sort of religious outlooks are involved like I said about this particular area. It was those individuals themselves, including the enlisted men, very brave individuals, who have given this religious character to the area. The way I see it, the rest of the world will not remember any statements issued here but it will never forget how these men put their shoulders to the wheel and carried this idea down the fairway.
Now frankly, our job, the living individuals' job here, is to pick up the burden and sink the putt they made these big efforts here for. It is our job to get on with the assignment--and from these deceased fine individuals to take extra inspiration, you could call it, for the same theories about the set-up for which they made such a big contribution. We have to make up our minds right here and now, as I see it, that they didn't put out all that blood, perspiration and--well--that they didn't just make a dry run here, and that all of us here, under God, that is, the God of our choice, shall beef up this idea about freedom and liberty and those kind of arrangements, and that the government of all individuals, by all individuals and for the individuals, shall not pass out of the world-picture.»


(O texto é de Oliver Jensen e pode ser encontrado nessa obra sumamente recomendável que é Parodies: An Anthology from Chaucer to Beerbohm.
Submeto isto como adenda àquele ensaio fabuloso do Claremont Institute que está linkado ali, e dedico o post ao meu amigo Paulo, que desata a gritar o nome e a patente do General Eisenhower sempre que bebe umas cervejas a mais, um efeito que nunca deixou de me fascinar).

Na Escócia, "male bonding" diz-se "Stella"

Este post, meus amigos, este post, esta madalena fermentada, este belo belo post trouxe-me lágrimas aos olhos.

domingo, julho 15, 2007

Letter to the editor

Sir,

Having been bedridden for the best part of a week, due to apparently psychosomatic complications (which, at this juncture, we will refrain from diving into), I could barely summon the strength necessary to raise my pen from its desk-side scabbard, and hurl it into the vacant page. However, I felt it a moral duty to publicly applaud the CRE's brave piece of lobbying [Special Report, June 12th], and its remarkable success in focusing the public's attention on one of Monsieur Hergé's most flagrant pieces of bigoted claptrap, managing in the process to get it moved out of the reach of unsuspecting children, simple-minded adults, and senile old fools.
The way is now paved, I feel, for a rigorous examination of M. Hergé's "creation", which will hopefully result in a complete ban on that continental disgrace that has long been euphemistically dignified with the designation "chidren's literature". How thrilling it is, when the World starts following your lead, even if it drains your vigour to point it out!
That M. Hergé was a fascist is now established beyond question: the evidence just piles up, like dung beetles on dung. His «White Album», a so-called rarity that has been circulating widely among aficionados since the late 70's, presents more than enough evidence to indict the man as a reactionary lunatic. You wouldn't believe how exhausting the mere effort of holding the pen is, and yet so-called "doctors" say it's nothing. Moving on. The work in question collects a substantial part of his secret output: single propagandistic vignettes dating back to the war years; hate-filled, unpublishable strips; alternate endings for existing stories; sketched outlines for future ones; and two first-drafts of mercifully incomplete albums.
One of those, Tintin et Les Protocoles des Sages de Sion (1977), reiterates M. Hergé's anti-semitism with astonishing vehemence. It is now acknowledged by most tintinophiles that Captain Haddock's colourful lexicon is partly lifted from Céline's anti-semitic pamphlet Bagatelles pour un massacre (1937). More contentious, although there for all discerning scholars to see, is the plethora of brain-washing racist mantras that Monsieur Hergé has sneakily spread throughout his oeuvre. (I feel particularly qualified to discuss this, having penned the definitive monographs: «Coons, kikes and gooks: Hergé's disturbed worldview» and «Hergé the reptilian telepathic humanoid: mind-control techniques in Tintin's adventures», both now sadly out of print, a tragedy which I trust will soon be corrected by some enterprising young publisher).
The unfinished adventure's pedestrian plot takes Tintin deep into the hidden neo-nazi under-structures of central Europe; he takes part on a frighteningly credible extremist rally in Vienna, where a shaven-headed goon called Strekhtl goes on a page-long rant about "the great world-wide zionist conspiracy". Then, during a train journey to southern Poland, Tintin is attacked by a cowardly jewish caricature, who tries to steal his notes; Snowy (Milou) bites him on the nose and chases him away. A metaphysical slapstick sub-plot involves the Thomson/Thompson twins (Dupont et Dupond) investigating a possible suspect in the murder of Jesus Christ: a Viennese accountant called Rubenstein.
Monsieur Hergé's views did not, contrary to popular assumptions, become more progressive in his later years; if anything he moved closer to the fringe, and damn these chest pains. His final work, a sordid affair entitled Tintin et le canular du darwinisme (1978), is a thinly-disguised Creationist tract; one of the strips depicts a frantic-looking Tournesol pounding his fists on a pulpit and shouting some nonsense about "la complexité irréductible!"; later, a two-dimensional scientist named von Haeckel is introduced merely to become a figure of fun at the hands of Captain Haddock, who, despite being drunk, systematically demolishes his poorly constructed arguments concerning macroevolution. In the final surviving vignette, Haddock bashes the scientist's head with a stuffed Bird of Paradise, and comes up with a novel insult: "chaînon manquant!". During all this malarkey, Tintin prances around madly, rolling his dead eyes.
These are admittedly extreme examples, but there are bones to pick in every single mainstream album in the collection. I don't think any of us has the right to sleep soundly at night while there remains the slightest possibility of our children and senior citizens being exposed to this moral and intellectual filth. Also, there are too many doctors in this country. My congratulations to the CRE, for taking the first step on what I hope will be an all-out war against drawings that bother me.

Marius Whitehouse
Birmingham, West Midlands

Big Juju Man


«The adventures of Tintin in the Congo will be moved from the children's shelves in Borders bookstores across the country and placed in the adult graphic novels section after the book was criticised for having allegedly racist content.The Commission for Racial Equality said yesterday it was unacceptable for any shop to stock or sell the 1930s cartoon adventure of the Belgian boy journalist because of its crude racial stereotypes.The book, which includes a scene where Tintin is made chief of an African village because he is a "good white man" and a black woman bowing to Tintin saying: "White man very great ... white mister is big juju man!" was highly offensive, a spokeswoman from the commission said."This book contains imagery and words of hideous racial prejudice, where the 'savage natives' look like monkeys and talk like imbeciles," she said."How and why do Borders think that it's OK to peddle such racist material? This is potentially highly offensive to a great number of people."She added that the only place the book was acceptable was in a museum - with a sign accompanying it saying "old-fashioned, racist claptrap".»
(The Guardian)

Ele voltou

Kant Cocoa Krispies


Cliquem para aumentar (via Language Log)

sábado, julho 14, 2007

A spectre is haunting Europe: the spectre of Lackadaisicalism

A lânguida deriva estival deste blogue - simbolizada pela sua nova epígrafe cripto-niilista - mostra uma acentuada tendência para se agravar durante as próximas três ou quatro semanas.
Frívolas alterações de template; recurso exaustivo ao YouTube; resumos do Hamlet em Power Point: não esperem muito mais do que isto até se acabarem os gelados.

Bum, fuck, turd, fart, cunt, piss, shit, bugger and balls



sexta-feira, julho 13, 2007

Butt-head

quarta-feira, julho 11, 2007

Dry martinis, sodomy & the lash


Banquetes reais, orgias anónimas, crises de bastidores, turismo pansexual, socialismo socialite, adultério, fetichismo, recriminação, propaganda, clisteres de vodka russo, poemas em latim e name-dropping numa escala industrial: está aqui uma leitura de férias para toda a família.
Os Diários podem ser interpretados - para me socorrer de uma hipotética bacchanalia Leonarda - como o produto de uma sessão de ópio entre Mae West, Dorothy Parker e Simone de Oliveira, na masmorra do Marquês de Sade, ao som da orquestra de Duke Ellington.
Kenneth Tynan foi o maior talento crítico da sua geração, marcando o compasso estilístico para alguns dos seus mais brilhantes sucessores. Os seus textos seminais para o Observer nas décadas de 50 e 60 (recentemente reeditados pela Nick Hern Books) prenunciam, por exemplo, a acidez escrupulosa de Pauline Kael, e o arlequinismo heterogéneo de Anthony Lane.
Em paralelo à sua privacidade mercadejável, Tynan desenvolveu também uma carreira de personalidade pública, cujas frequentes e ridículas contradições o tornaram um alvo predilecto de boateiros e moralistas. É estranhamente fascinante confirmar as semelhanças do auto-retrato aqui esboçado com a certeira caricatura que Paul Johnson dele traçou na sua clássica colecçãozinha de indignações, Intellectuals (esse tablóide sem imagens nem erros ortográficos). Por entre indignadas diatribes contra a acumulação de capital e a exploração do proletariado, Tynan percorre a 'swinging London' de Jaguar, fumando cigarros importados, partilhando jantares de faisão e ostras com a nova e a velha aristocracia (uma das fotografias que adorna o livro junta Gore Vidal, Jack Nicholson e a Princesa Margaret), e, num toque ferozmente romanesco, lançando suspeitas sobre uma (inocente) empregada de hotel para encobrir um delito que ele próprio cometera.
As mais de quatrocentas páginas são sempre compulsivamente legíveis, mas registam apenas a última década da sua vida, e narram mais rancores que triunfos; o engenho e o discernimento de outrora só a espaços fulguram - em lentos ricochetes - e chegam quase sempre revestidos com o incómodo verdete da auto-vitimização.
Os melhores momentos (se exceptuarmos algumas vendettas deliciosamente difamatórias) são aquelas estratégicas manifestações de honestidade, onde toda a parafernália retórica do género confessional é descaradamente exposta perante o leitor, convidando-o a tornar-se cúmplice no logro:

«I remember one day long ago driving down Park Avenue on the way to Penn Station with a sheaf of notes for a Harvard lecture in the right-hand pocket of my raincoat, and in the left, a celluloid packet containing twelve photographs, with acompanying text, of one girl model spanking another on her bare bottom with a hairbrush. Given a choice, I would far rather have jettisoned the contents of the right-hand pocket. With this dichotomy I have spent my life.
(Note the fearless candour of this amazing revelation. And note, too, the self-deprecating irony - 'fearless candour', 'amazing revelation' - with which I have phrased it, thereby showing what a self-critical person I am. And if you think that sounded self-congratulatory, let me answer you that I am well aware of my faults, which are numerous. And if that implies too much self-knowledge, may I add that, in fact, etc. etc. etc.)»

Isto foi escrito em 1976, mas poderia ser o director's comment a 90% dos blogues que leio.

A sweating Romeo

Este blogue, e vinte minutos com um lápis e uma folha A4 restauraram por completo a minha fé nos anagramas.

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segunda-feira, julho 09, 2007

5,630 results in 0.06 seconds

Mais algumas extensões do pénis, segundo o Google:

- a esferográfica;
- a guitarra eléctrica;
- o Corvette;
- a faca;
- a arma de fogo;
- a glândula da próstata;
- o casaco de cabedal preto;
- o microfone;
- a moto-serra;
- a garrafa de vinho verde;
- a máquina fotográfica;
- o computador;
- o relvado verdejante;
- a Presidência dos Estados Unidos da América;
- Deus.

domingo, julho 08, 2007

Wimbledon


Apesar de um esforço nobre e valoroso, Roger Federer revelou-se incapaz de perder a final de Wimbledon. Mas, honra lhe seja feita, tentou mesmo tudo. Não se limitou ao já habitual dissipar de backhands simples, ou às devoluções para um court diferente; teve o cuidado de prepararar material novo, como a falta dupla, a despropositada subida à rede e o 2º serviço em câmara lenta.
Nada resultou. Mesmo reservando a sua melhor sucessão de erros não-forçados para uma altura crucial (o tie-break do 1º set), os pontos continuavam a cair para o seu lado. Teve então o rasgo necessário para produzir uma brilhante inovação estratégica, certamente improvisada. Decidindo que Nadal e ele próprio não eram obstáculos suficientes, abriu uma terceira frente de combate, e brindou-nos com uma mini-encenenação de 2001 - Odisseia no Espaço, acusando o Hawk-Eye de se comportar como o HAL, conspirando activamente contra si.
Mas Federer não tem a vivacidade linguística nem a capacidade vocal para emular as erupções de McEnroe, e toda a performance foi algo embaraçosa, um pouco como ver um pacato contabilista a tentar dançar hip-hop na festa de Natal da empresa. "The machine is killing me" e "I don't understand" não passam de frouxos arremedos de clássicos como "ANSWER THE QUESTION, JERK!" ou "YOU ARE A DISGRACE TO MANKIND!".
Mas o serviço de Federer (a parte do seu jogo que mais selvaticamente progrediu, de há três ou quatro anos para cá) continua a extraí-lo a ocasionais buracos e a estorvar o seu projecto para uma derrota digna. Num jogo crucial no 2º set, Federer respondeu a dois break-points de Nadal com um bocejo e três ases consecutivos.
Entretanto, Jimmy Connors, que comentava o encontro para a BBC, fez uma memorável demonstração da utilidade de uma boa analogia. O seu parceiro de caixa - o antigo tenista inglês John Lloyd - perdeu-se numa interminável tangente sobre a peculiar empunhadura de Nadal. Pressentindo o uso de diagramas ou marionetas para explicar a simples aplicação de força extra que essa empunhadura específica exige para os passing shots, Connors interrompeu-o e esclareceu tudo com duas frases: «He holds it like a frying-pan. But then, you know, his arms are like oak trees».
Em lugar de destaque na bancada, Bjorn Borg, o pioneiro da apatia perfumada de Federer e do "método frigideira" de Nadal, assistia impassivelmente ao igualar do seu recorde. Esbanjando quatro break-points em quinze minutos, Nadal entorpeceu; Federer, visivelmente contrariado, quebrou-lhe o serviço com dois enfastiados lances de génio.
No final do encontro, empunhando o troféu como uma urna, e o microfone como uma decadente cigarrilha, Roger agradeceu a Rafa o seu empenho em tornar-lhe a vida um pouco menos aborrecida e expressou o desejo de se voltarem a encontrar em breve.
O desejo será cumprido. Sem lesões, acidentes, ou novos milagres, os próximos cinco anos vão ser isto.

sábado, julho 07, 2007

Vou ali buscar um naco de mármore para construir um altar a este homem

James Wood sobre DeLillo:

« . . . DeLillo can write exceptionally well, with exactitude and lyrical originality. (...) But [he] is a very strange writer. For every elegant, compact sentence closing around its meaning as if delicately preying on it, there are passages that bear the other DeLillo mark, which could best be called a kind of fastidious vagueness. These are passages in which fancy words are deployed with a cool, technical confidence, in a spirit of precision, as if they have actual referents, but in which meaning is smeared and obscured.
(. . .)
The 9/11 novel, if one must call it that, has been effective at depicting the impact of the trauma on ordinary lives: marriages repaired or broken by the event, projects and plans sundered, lives recalibrated, and the presence of a new, seeping anxiety. What it has been unable so far to achieve, as this novel and John Updike's Terrorist prove, is anything like the examination of the psychological sources of resentment that Dostoevsky and Conrad produced. Updike's eighteen-year-old Muslim firebrand was entirely incredible, nothing more than a scarecrow and scapegoat stuffed full of obvious authorial research. In Falling Man, DeLillo devotes two brief, misbegotten sections to the 9/11 plotters: we see them assembling in Hamburg, and then later in Florida. The writing is a good deal better than Updike's, but it lacks conviction, again because inquiry is not sustained but merely arranged. The chapters are so short that they lack the space to become serious; they seem dropped into the novel. The book, one feels, should either have omitted the terrorists altogether or trained its gaze centrally on them, as DeLillo sustainedly pictured the impotence and resentment of Lee Harvey Oswald in Libra. As it is done here, the fleeting imagining of radical evil seems shallow, and only adds to the general impression of a book that is all limbs -- many articulations and joints, an artful map of connections, but finally no living, pulsing center.»

A saúde do planeta

A BBC1 está no court central a transmitir Federer v Gasquet. Em circunstâncias normais, quem quisesse acompanhar Nadal a massacrar aquele pobre sérvio obrigado a jogar nove horas nos últimos dois dias, apenas teria de mudar para a BBC2. Mas a BBC2 está ocupadíssima com os preliminares ao Live Earth, e o jogo de Nadal é apenas um esporádico quadradinho no canto superior direito do ecrã. Curiosamente, a culpa disto tudo é da chuva. Quando vi o quadro pela primeira vez apostei 15 libras numa final Federer v Djokovic, uma acção irreflectida da minha parte, como se tornou pateticamente óbvio durante o quarto e quinto sets da vitória de Nadal sobre Justin Timberlake. As corridas de cavalos em Leicester, Nottingham e Carlisle foram todas abandonadas por causa das inundações, portanto não vejo qualquer possibilidade de recuperar as 15 libras.
O Sting acaba de explicar na BBC2 que o futuro está nas nossas mãos, o que me parece uma grande mentira.

sexta-feira, julho 06, 2007

Ramalhete had been empty for many years

A blogosfera teve um pequeno regabofe às custas de Patrícia Lança, e não é difícil perceber porquê, mas a ferocidade das reacções chegou a estimular o meu instinto protector. Não venho defender a tese de que a idade da senhora, ou o seu respeitável currículo (que inclui, e isto tem muito mais valor do que qualquer mandato na Assembleia, uma imaculada tradução d'Os Maias para inglês) lhe devem conceder automaticamente um estatuto especial no meio da traulitada, mas acho que percebi finalmente a teoria do "alvo fácil" que me tentaram explicar durante a discussão sobre Paris Hilton, naquela minha fase complicada sans-iogurte.
Urge também salientar que Patrícia Lança não é tanto o avatar de Mary Whitehouse que alguns querem ver nela, como uma versão luso-inglesa de Malcolm Muggeridge; o seu estilo não é o moralismo militante de quem quer prisioneiros nas guerras culturais, mas a pedagogia resignada de quem sabe que a batalha está perdida. Ela acredita piamente habitar na última cidadela da Verdade, cercada por hordas de adolescentes idiotas e tenebrosos grupos de interesse, mas não descortino nos seus panfletos nenhum desejo de moldar o mundo à imagem do seu enclave, até porque a baixa densidade populacional desse enclave deve explicar grande parte do seu conforto. Quanto aos temas que a interessam, até admito que possam existir argumentos lúcidos para defender as teorias sexuais de Patrícia Lança, mas suspeito que nunca os ouviremos; enquanto existirem argumentos lúcidos na encosta, podemos contar com ela para os circundar, em diligente slalom retórico.
As suas ternas veemências são os efeitos secundários do seu trajecto ideológico, que é o trajecto-padrão dos órfãos utópicos do séc. XX: percorrer a auto-estrada para Damasco em excesso de velocidade, sem passar pela casa de partida e sem receber dois mil escudos. O arrebatado momentum linear que os afasta das superstições de juventude só lhes permite travar quando chegam às superstições opostas. Há aprazíveis e moderadas rampas de saída em ambas as direcções, mas as Patrícias Lanças deste mundo só acreditam que chegaram ao lugar certo quando já não vêem asfalto
Mas nada disto é caso para alarme. É apenas um exemplo invulgarmente deprimente do que acontece a uma inteligência aguda e inquisitiva quando se enamora pela parede contra a qual esbarrou.

Convenções de Binningen sobre os direitos humanos

Aquilo que Federer acabou de fazer a Ferrero, no terceiro set do encontro, vai ser analisado pelas gerações vindouras como um exemplo de «outrages upon personal dignity, in particular humiliating and degrading treatment».

A «Mão Invisível» dos serviços de saúde públicos

A BBC4 deu a notícia há minutos, citando fontes policiais: a tentativa de fazer explodir coisas em Londres na semana passada falhou porque as seringas do NHS (National Health Service) que os terroristas usaram no mecanismo detonador eram defeituosas.

(Vou esperar com tranquilidade que o André Azevedo Alves d' O Insurgente faça uma piada sobre isto).

quarta-feira, julho 04, 2007

Cozinho para o Povo

Do blogue Pitau Raia devolvem-me uma versão deformada da corrente dos livros, à qual vou aderir por desconfiar que ainda estou a dever dinheiro a uma pessoa do blogue Pitau Raia.

A refeição cronologicamente mais próxima deste post, na medida em que lhe está a servir de combustível, é uma tigela de Chiwda (mais conhecida entre vocês, a plebe, como Bombay Mix): um adusto e apimentado bacanal de amendoins, lentilhas fritas, grãos-de-bico, mini-macarrões de farinha chana, e mais quatro ou cinco ingredientes que não consigo identificar, mas que me deixam sempre num estado de espírito neo-colonialista. Recomendo o uso de uma colher de sobremesa, pelo menos enquanto se bloga, para evitar manchas de gordura no teclado.
O pequeno-almoço foi um croissant misto com maionese, acompanhado com um sumo de frutos tropicais com uma percentagem de açúcar tão elevada que fiquei sinceramente surpreso por não encontrar uma caveira desdentada no rótulo. O jantar de ontem foi uma posta de atum com batatas cozidas, agriões e maionese. O almoço de ontem foi frango assado com batatas fritas Kettle, variante Salsa & Mesquite ("Mouthwateringly incomprehensible tomatoes with woodsmoke") e, meus amigos, não há melhores batatas fritas no mercado, especialmente depois de barradas com doses industriais de maionese.
Já lá vão uns dias, mas não queria terminar este post sem exaltar a prodigiosa salada de salmão (com maionese) que a British Airways serviu aos seus passageiros no voo de Zurique para Birmingham no Domingo passado. A companhia aérea com a reputação mais sólida em termos de catering é, segundo os peritos, a Singapore Airlines. Daquelas que conheço, o meu voto vai para a Lufthansa, embora os estupendos bagels da KLM ameacem a qualquer momento destabilizar esta hierarquia.

Passo a corrente ao David Cameron, ao David Byrne, ao M. C. Hammer, à Nancy Pelosi e ao Zico.

Terminologia útil

«After eating, an epicure gives a thin smile of satisfaction; a gastronome, burping into his napkin, praises the food in a magazine; a gourmet, repressing his burp, criticizes the food in the same magazine; a gourmand belches happily and tells everybody where he ate; a glutton embraces the white porcelain altar, or, more plainly, he barfs.»

- William Safire

Falling Crap


Há um texto recente de James Wood (que, caso o tenham esquecido nos últimos minutos, é o mais talentoso, inteligente, acutilante e calvo de todos os críticos literários contemporâneos) na New Republic, no qual são identificados, quase de raspão, dois géneros distintos no romance americano recente: «the 9/11 novel, and the 9/11 novel that is pretending not to be a 9/11 novel». Don DeLillo (que, caso o tenham esquecido nos últimos minutos, é o maior perseguidor de ambulâncias da literatura contemporânea) já tinha antecipado esta tendência, tendo passado grande parte da sua carreira a escrever '9/11 novels', muito antes até de ter havido um '9/11' sobre o qual escrever 'novels'. Falling Man parece ser a jogada para a qual DeLillo passou a vida a treinar.
Ainda não li Falling Man, e posso assegurar que se trata de uma não-leitura compulsiva. Aliás, é um dos livros que mais vezes não li nos últimos tempos. Desde que a encomenda da Amazon chegou já o devo não ter lido umas seis ou sete vezes, sempre com um enorme prazer.
Isto não é uma delação sobranceira, mas um reconhecimento embaraçado. Para que não restem dúvidas: isto custa-me. Todos estes parágrafos estão de luto. O percurso de DeLillo é o mais endechoso, enigmático e enfurecedor das letras modernas. E arrisca-se, pelas evidências da última década, a tranformá-lo numa parábola de criatividade diluída, num ícone do artista esgotado, como o 'fat Elvis' dos últimos anos em Las Vegas. Pessoalmente, noto na tragédia curiosos paralelos com o caso Herman José - e tenho plena consciência de que a analogia não dignifica qualquer um dos envolvidos, a começar por mim.
DeLillo tem um currículo notável, no qual se incluem pelo menos duas indiscutíveis obras-primas: White Noise, uma "campus novel" voluntariamente sabotada, onde tema, formato e talento atingiram uma simbiose perfeita (o seu «Tal Canal», digamos), e Libra, um compêndio de paranóias sobre o assassinato de JFK, e o trabalho onde, partindo de um modelo formulaico - o romance de espionagem - melhor conseguiu trabalhar as suas obsessões específicas (o seu «Crime na Pensão Estrelinha»).
Os primeiros maus augúrios surgiram com Mao II («Casino Royal»), onde já muitos vislumbraram as sementes da desgraça futura. Com Underworld («Herman Enciclopédia»), obteve uma magistral redenção, na qual a pura dimensão do artefacto abafou quaisquer dúvidas pontuais e localizadas.
O pior veio depois. The Body Artist parecia mau de mais para ser verdade, e apontava já para um caso extremo de fadiga criativa. Mas nada fizera prever Cosmopolis, um desastre estético da mais elevada magnitude. Aqui estava um livro que não era mau apenas pelos seus elevadíssimos padrões; Cosmopolis era mau pelos padrões dos «Malucos do Riso», e confirmava os piores receios: DeLillo era agora um louro oxigenado, condenado a apaparicar socialites nas noites de Domingo.
Como é que isto aconteceu? E porquê? E quem se deve fuzilar?
A crítica literária americana, se a decisão me pertencesse, já estaria amarrada aos postes. Inepta e impunemente, eles foram ajudando a balizar o percurso recente de DeLillo, através de um processo que podemos designar como "Astronomia Pré-Copernicana", e que consiste em apontar o telescópio aos objectos certos e tirar as conclusões erradas.
Os seus romances foram consistentemente elogiados pelas suas características menos estimulantes: o comprometimento pós-moderno com a "Cultura"; os diagnósticos pseudo-Baudrillardianos sobre o "deserto do real"; e os supostos dotes proféticos.
Exhibit one. Criou-se o mito de DeLillo como um escritor particularmente receptivo às flutuações do zeitgeist, um mito que não vai morrer tão cedo, embora não tenha qualquer base na realidade. O anglo-chanfrado que é J. G. Ballard foi um pouco vítima da mesma ansiedade da imprensa em empossar gurus, mas Ballard tem a vantagem de não se levar demasiado a sério, nem comprar acções no mercado da sua própria hagiografia.
Consta que quando a Princesa Diana morreu, muitos chefes de redacção de jornais britânicos terão dito aos seus repórteres: «Call Ballard. Get a quote». A combinação mórbida de uma celebridade global morta numa colisão automóvel parecia propícia ao seu comentário iluminador, por ter sido obliquamente profetizada na sua obra - não numa passagem específica de um livro específico, mas no recombinar de elementos e no repisar de um terreno temático ao longo de uma carreira.
Acho bastante plausível que os mesmos chefes de redacção tenham pensado em DeLillo depois do 11 de Setembro, e com ainda menos razão de ser. DeLillo ganhou uma imerecida legitimidade opinativa sobre terrorismo, especialmente depois de Mao II, obra na qual alinhavou uma vaga teoria sobre a capacidade do romancista em influenciar a "vida interior da Cultura" ter sido apropriada pelo terrorista. Isto é o tipo de ideia que finge uma profundidade inexistente; é uma metáfora inerte, em que os termos são tão vagos, que impossibilitam um forcing até ao concreto; a ideia fica ali, à deriva na página, à espera de um benevolente empurrão do leitor na direcção do significado. A ideia de que DeLillo tem coisas interessantes para dizer sobre o terrorismo em Mao II parece-me uma ideia preguiçosa e nunca cabalmente demonstrada. Mas ganhou uma insólita mobilidade, sendo periodicamente repetida em jornais, revistas, blogues e salões de cabeleireiro.
(Se quisermos forçar a nota, podemos até admitir instruções redactoriais muito mais apropriadas: «Phone Conrad. Get a quote». O monólogo de Mr. Vladimir em The Secret Agent encerra mais relevância sobre o assunto do que as banalidades de DeLillo).
Tamanhas doses de banha da cobra crítica não se acumulam do dia para a noite e, como tal, não sobrou muito tempo para enaltecer as verdadeiras virtudes de DeLillo. O seu ouvido perfeito, por exemplo; há diálogos em Running Dog, White Noise e Libra que captam admiravelmente a fragmentação autista do discurso moderno. A sua precisão visual, aquela raríssima virtude que força o leitor a confessar uma apreensão incompleta de um objecto aparentemente familiar. E o humor, claro. DeLillo é - ou foi, ou pode voltar a ser - um escritor incrivelmente cómico. Nos seus primeiros romances, notava-se uma centelha de desespero erudito no slapstick, que parece ter desaparecido. Há uma piada excepcional em Great Jones Street: uma investigação académica sobre a Revolução Francesa revela a existência de uma facção dissidente de Sans-culottes, que se reunia secretamente com o propósito único de usar culottes. Este tipo de comédia desapareceu da obra de DeLillo mais ou menos em 1989, para dar lugar a um amontoado de micro-manifestos solenes. Cada texto reelabora as mesmas revelações, pela boca de personagens indistintas, que falam e pensam todas da mesma maneira: como o autor.
Num ensaio de 1997 chamado 'The Power of History', DeLillo escreveu que toda a ficção, na sua raíz, é uma espécie de fanatismo religioso, repleto de obsessões, superstições e deslumbramentos. Mas dentro da sua própria ficção DeLillo pratica um agnosticismo militante, insistindo que nada no dilúvio de informação que nos é imposto pela modernidade pode ser interpretado em termos binários, como verdadeiro ou falso. DeLillo renunciou não apenas ao humor, mas ao significado. Cosmopolis em particular limitava-se a debitar clichés de Estudos Culturais, uma manta de retalhos pós-modernos, clips da CNN filtrados pela Escola de Frankfurt. Em rigor, nem necessitava de se apresentar como obra ficcional, dada a recusa peremptória em usar os artifícios específicos da literatura. As únicas formas de expressão em que DeLillo parece confiar agora são o aforismo vápido e a generalização oca.
Não sei o que esperar de Falling Man, mas os excertos que li na New Yorker não me deixaram confiante. O passado de DeLillo continua a exigir segundas, terceiras, infinitas oportunidades. Mas o próprio tema inflama o desalento. Atentem no seguinte: «Writers who live passively within History may be more deeply aware of what is really going on than those who turn up in every spot where the news is breaking». V. S. Pritchett escreveu isto em 1962, num ensaio sobre Musil, um escritor que - se ignorarmos algumas semelhanças superficiais - é a antítese de DeLillo. O perigo que qualquer escritor corre quando se torna obcecado com a mera reportagem é ser lido como mera reportagem. Musil soube esquivar-se a esse fim. Mas, no corropio cego atrás do "espírito do tempo", DeLillo isolou-se do seu próprio talento. O que resta de Cosmopolis e Mao II, quando esvaziados da sua suposta "actualidade"? Uma vaniloquência desarmada, manchetes de tablóide e esqueletos de papel.

(Se Falling Man trouxer mais do que isto, esperem neste espaço o equivalente blogosférico de um engolir em seco e de um assobiar para o lado).