segunda-feira, julho 31, 2006

Darwinismo acelerado

O meu avô paterno tinha 1,61m, a 4ª classe - e era do Benfica.
O meu pai tem 1,67m, o 10º ano - e é do Benfica.
Eu tenho 1,71m, frequência universitária - e sou do Sporting.
Se isto continuar a evoluir favoravelmente, lá para 2050 terei um neto com 1,80m, uma pós-graduação e um autocolante do FCP no pára-brisas do seu carro voador.

Eu bem me parecia

A moderação é considerada uma virtude apenas naquele de quem se julga ter uma alternativa.

(Henry Kissinger)

Há coisas que não compensam

O crítico literário Harold Bloom disse numa entrevista que deixou de ir à psicanálise quando se apercebeu, ao fim da terceira semana de consultas, que estava a pagar quarenta dólares à hora para dar palestras ao seu analista sobre a melhor forma de ler Freud.
Por motivos muito semelhantes, e ao fim das mesmas três semanas, em 1996 eu deixei de ligar para as linhas eróticas.

domingo, julho 30, 2006

Diálogo na mesa do lado

"Como é que consegues estar aí descansadinha a beber café quente, com toda a confusão que há no mundo?"
"Assopro."

O meu momento David Brent

Não foi o primeiro e não será o último. Fui em Junho deste ano, durante a mini-onda de calor que visitou a Grã-Bretanha, a Slough, para uma entrevista de emprego. A companhia era uma seguradora, daquelas cuja especialidade é "atender às necessidades específicas do segmento feminino e da terceira idade". A vaga era no departamento de serviço ao cliente e o grosso da carga de trabalho seria providenciar assistência telefónica a pessoas que sofressem acidentes no estrangeiro. Numa conversa informal antes do questionário propriamente dito ("So what assets do you feel you can contribute to our company..." etc, etc) o chefe do departamento perguntou-me o que achava de Slough. Respondi que apenas conhecia a cidade pela reputação (não muito boa) e pelo retrato que dela tinha sido feito no poema de Betjeman (pior) e na série de Ricky Gervais (muito muito pior). Disse-lhe, também, com toda a honestidade, que um passeio de meia-hora pelo centro antes da entrevista tinha sido uma agradável surpresa. Que o ambiente era o de uma cidade universitária, com muita gente jovem e de várias nacionalidades. Esse era o ponto em que me devia ter calado. Em vez disso continuei a falar. E partilhei esta observação curiosíssima: "O que é estranho é que desde a estação de comboio que não me lembro de ver uma única pessoa de idade. Mesmo no centro da cidade, não vi nenhuma." Uma pausa - e a cara dele devia ter sido uma dica suplementar, "A sério? Curioso, nunca reparei." E eu? Calei-me? Deixei-o mudar de assunto? Pois claro que não. "Bem" opinei, com um sorrisinho amigável "se calhar morreram todos com o calor". O meu sorriso acabou por morrer também, sem qualquer outro por perto. O resto da entrevista correu bem, embora tenha sido bem mais curta que o costume. Três dias depois recebi um e-mail agradecendo-me a disponibilidade demonstrada e informando-me de que eu não era "de forma alguma" o tipo de pessoa que eles procuravam para aquela posição específica. O facto de isto -um "trademark David Brent moment"- se ter passado em Slough, de todos os sítios, convenceu-me de três coisas: 1. Manipulando ligeiramente um slogan da NRA, não é a televisão que faz mal ao cérebro das pessoas; as pessoas é que fazem mal ao cérebro das pessoas. E a televisão faz a autópsia. 2. O Woody Allen só em parte tinha razão quando disse "a vida não imita a arte, imita a má televisão". É que por vezes também imita a boa e a assim-assim. 3. Na eventualidade de nunca ganhar o Euro-Milhões vou provavelmente passar mais vergonhas deste género.

Exegese

DAVID BRENT: “This is the poem Slough, by Sir John Betjemen, probably never been here in his life. ‘Come friendly bombs and fall on Slough, it isn’t fit for humans now.’ Right, I don’t think you solve town planning problems by dropping bombs all over the place, he’s embarrassed himself there. Next. ‘In labour saving homes with care, their wives frizz out peroxide hair, and dry it in synthetic air, and paint their nails-’ they wanna look nice, what’s the matter, doesn’t he like girls? ‘And talks of sports and makes of cars, and various bogus Tudor bars, and daren’t look up and see the stars, but belch instead.’ What's he on about? What, has he never burped? ‘Come friendly bombs and fall on Slough, to get it ready for the plough. The cabbages are coming now, the earth exhales-’ He’s the only cabbage round here. And they made him a knight of the realm. Overrated.”

(The Office, série 1, episódio 5)

Poema

Slough

Come friendly bombs and fall on Slough!
It isn't fit for humans now,
There isn't grass to graze a cow.
Swarm over, Death!

Come, bombs and blow to smithereens
Those air -conditioned, bright canteens,
Tinned fruit, tinned meat, tinned milk, tinned beans,
Tinned minds, tinned breath.

Mess up the mess they call a town-
A house for ninety-seven down
And once a week a half a crown
For twenty years.

And get that man with double chin
Who'll always cheat and always win,
Who washes his repulsive skin
In women's tears:

And smash his desk of polished oak
And smash his hands so used to stroke
And stop his boring dirty joke
And make him yell.

But spare the bald young clerks who add
The profits of the stinking cad;
It's not their fault that they are mad,
They've tasted Hell.

It's not their fault they do not know
The birdsong from the radio,
It's not their fault they often go
To Maidenhead

And talk of sport and makes of cars
In various bogus-Tudor bars
And daren't look up and see the stars
But belch instead.

In labour-saving homes, with care
Their wives frizz out peroxide hair
And dry it in synthetic air
And paint their nails.

Come, friendly bombs and fall on Slough
To get it ready for the plough.
The cabbages are coming now;
The earth exhales.

John Betjeman

sábado, julho 29, 2006

Take my wife, please

O meu salmo preferido (e aposto que muitos de vós nem sequer têm um salmo preferido) só pode ser o salmo 139, versículos 1 a 12. David a referir-se a Deus como um velho cómico de vaudeville a falar da chata da mulher.

Em escuta

A Especialização do Conhecimento

Aqui há uns anos, depois de alucinar pela primeira vez o arco-íris da gravidade, diverti-me imenso a explicar aos fãs do Trainspotting que a famosa cena do mergulho na retrete (a cena preferida de muitos) não era mais que um decalque da imaginação sobrenatural do Homem Invisível.
Na mesma altura, durante o meu breve período como membro da Pynchon Mailing List, troquei alguns e-mails com um tipo da Califórnia, um Pynchoniaco de primeira linha, que me confessou andar desde os anos 80 a organizar uma concordata que cruzava mais de 900 referências obscuras do livro com as suas fontes originais. O labor tinha-o transformado num perito em campos tão diversos como a poesia de Rilke e a banda desenhada dos anos 30 e 40 (desde que tivessem qualquer relação com Gravity's Rainbow).
Algo embaraçado pela relativa indolência da minha obsessão, tentei mudar de assunto e partilhei a minha campanha para corrigir os fãs da cena da retrete, versão Ewan McGregor. A sua resposta - pronta e creio que genuína - veio no mail seguinte:
"Trainspotting? What's that, a movie?"

Coisa má (muito, muito má)

«I Wish I Was A Punk Rocker», Sandi Thom

Coisa boa

«Sheena Is A Punk Rocker», Ramones

Esta noite (e o resto da semana) na mesa de cabeceira


Li a notícia. E deu-me a saudade.

Esta noite, no leitor de mp3

«Our Way To Fall», Yo La Tengo
«Tugboat», Galaxie 500
«Idiot Prayer», Nick Cave & the Bad Seeds
«Let Your Light Shine On Me», Blind Willie Johnson
«Some Kinda Love», Velvet Undergound

sexta-feira, julho 28, 2006

Na minha rua não há mulheres assim






Natasha McElhone, actriz inglesa.

Teoria Política (II)

"How do you know all this?" he cried. "Are you a devil?"
"I am a man," answered Father Brown, gravely; "and therefore have all the devils in my heart."

G. K. Chesterton, "The Hammer of God"

Teoria Política (I)

Há dois tipos de analistas/comentadores políticos que me agradam: os que são de direita, mas... e os que são de esquerda, mas...
Eu, que analiso pouco e comento menos, pertenço a uma terceira categoria: estou mais ou menos ali para o meio, mas...

Conversa de pub

A 33 dias do fecho das inscrições para novos jogadores, e depois de o meu rico clube ter voltado a contratar um sul-americano desconhecido com um nome a pedir piadas e um currículo a pedir lágrimas, ocorreu-me a seguinte dúvida: se uma equipa de futebol inscrever gémeos siameses não-separados, isso conta como uma ou duas vagas? Estudantes a especializarem-se em Direito Desportivo, é favor responderem via e-mail.

Insónia




"Pois é, doutor, pois é," diz o pobre lampião na consulta. "Tenho este pesadelo recorrente com avançados lagartos, e agora até no pino do Verão eles atacam..."

Aniversário (II)

Dia 28 de Julho... Julgo que hoje é dia de anos de alguém que eu conheço, mas não me ocorre quem. Caso seja família ou amigo chegado, e esteja por esse motivo a ler o blog, muitíssimos parabéns.

Aniversário (I)

Faz este mês três anos que levei a melhor tampa da minha vida. A rapariga em questão disse-me o seguinte (depois de um "não" irrevogável): "Porque é que não tentas a (...)? Ela acha-te piada e, pelo que dizem, faz coisas que eu nunca faria."
Estupidamente, não segui o conselho, portanto não posso confirmar. Mas pelo que dizem da (...), era mesmo verdade.

Prémio "sms ébrio do Verão"

Recebido (de Lisboa) dia 26 de Julho, às 3:53...
"Tive a falr com otaxirta e a malsecia onde era o sitio e vejn 3 tnkms, perceber? Ta tdo a andar."

"Um blog? Mas porquê?"

Tempo livre a mais, amigos. Tempo livre a mais.

quinta-feira, julho 27, 2006

Mission Statement

"I am for all the good things and against all the bad ones." - Saul Bellow (1915/2005)

Google Marketing

Britney Spears, tsunami, Manchester United, iPod, Hezbollah, mp3, Da Vinci, xbox, Merche Romero, Microsoft, férias baratas, Israel, iTunes, Bushisms, Angelina Jolie, Tolkien, CNN, Pingo Doce.