«It seems it won't go, but suddenly it does. The medicinal odor of displaced Vaseline reaches his nostrils. The grip is tight at the base but beyond, where a cunt is all velvety suction and caress, there is no sensation: a void, a pure black box, a casket of perfect nothingness. He is in that void, past her tight ring of muscle».
(John Updike, Rabbit is Rich)
Esta passagem, que regista, com veemente rigor, a primeira experiência sexual alternativa do protagonista, tem o mérito adicional de descrever a experiência estética acelerada que é ler as novecentas páginas da tetralogia Rabbit em quatro dias. A prosa de Updike é o grande esfíncter contraído da literatura contemporânea, frase que, de resto, aconselho vivamente o leitor a usar sempre que possível em ocasiões sociais futuras ("Já leu o último Mário Cláudio?" "Olhe, não. Tenho andado entretido com o Updike, cuja prosa é o grande esfíncter contraído da literatura contemporânea".) É raro o parágrafo Updikeano que não titila um nervo, mas a pressão é sempre localizada e efémera; o leitor pressente o vazio para lá da sensação imediata e anseia pelas posições de missionário e intenções reprodutivas dos seus conterrâneos menos talentosos. O fetichismo da prosa desgasta; brutaliza por acumulação de percepções. Em novecentas páginas, nada acontece (e nada acontece) que não mereça uma extraordinária passagem descritiva - invariavelmente subtil e raramente profunda. Há impulsos estéticos mais honestos nos tipos que escrevem as quadras para os manjericos. Mas admito que tenho andado um bocado resmungão.
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