Um texto cujo segundo parágrafo começa com a frase «My attitude to gray flannel has changed over the years» tem um longo caminho a percorrer, mas esta peça de Anthony Daniels na última New Criterion merece que o leitor resista ao impulso óbvio. É um excelente trabalho de demolição crítica, por vezes no limite da mesquinhez carrancuda, mas - perversamente - mais justo para com Kerouac do que muitas das elegias sonâmbulas que assinalaram o cinquentenário de On the Road. Façam o favor de ignorar o saloio arremedo de "Howl" que encerra o artigo e ponham os olhos no parágrafo anterior. «Prophet of immaturity» é uma proeza de condensação: forja um epíteto simultaneamente apto, venenoso e ternurento; e faz com que o «King of the Beats», que jornalistas culturais preguiçosos teimam em continuar a usar, soe ainda mais frouxo.
John Updike, na sua doida juventude, escreveu uma paródia brilhante da verborreia Keroualha. Desafio qualquer adepto confesso da escrita Beat (que nem sequer sei se existe) a submeter-se ao teste.
A vulnerabilidade a uma boa paródia não é necessariamente indicativa da dimensão de um escritor. Beerbohm "apanhou" Henry James sem lhe negar um milímetro de justa posteridade. Mas foi preciso Beerbohm - um génio - para o fazer. O problema com Kerouac (e com o desgraçado do Ginsberg já agora) é este: não é preciso um talento fenomenal para os parodiar; Updike fê-lo e fê-lo bem, mas poderia ter passado a comissão a um sobrinho competente ou a um dos fact-checkers da New Yorker. O único risco é o da redundância; é que o original já fez o trabalho quase todo:
John Updike, na sua doida juventude, escreveu uma paródia brilhante da verborreia Keroualha. Desafio qualquer adepto confesso da escrita Beat (que nem sequer sei se existe) a submeter-se ao teste.
A vulnerabilidade a uma boa paródia não é necessariamente indicativa da dimensão de um escritor. Beerbohm "apanhou" Henry James sem lhe negar um milímetro de justa posteridade. Mas foi preciso Beerbohm - um génio - para o fazer. O problema com Kerouac (e com o desgraçado do Ginsberg já agora) é este: não é preciso um talento fenomenal para os parodiar; Updike fê-lo e fê-lo bem, mas poderia ter passado a comissão a um sobrinho competente ou a um dos fact-checkers da New Yorker. O único risco é o da redundância; é que o original já fez o trabalho quase todo:
«... This is where Dunkel and I spent a whole morning drinking beer, trying to make a real gone little waitress from Watsonville—no, Tracy, yes, Tracy—and her name was Esmeralda—oh, man, something like that.»
(Ando há quatro ou cinco anos a ler regularmente as colunas de Anthony Daniels e Theodore Dalrymple e só há duas semanas descobri que ambos são a mesma pessoa. Isto é daquelas ocorrências que desarmoniza por completo o pacato mundo de um leitor de revistas. A minha paranóia latente não precisa de estímulos, obrigado. We're through the looking-glass here, people. Não me surpreenderia que o senhor também escrevesse meia dúzia de blogues por aí.)
4 comentários:
Curioso...não sendo um "literário" fluente parece-me que o artigo recorre demasiado à "redução ao absurdo", técnica porreira quando é de ciência que se está a falar.
Ora em literatura acho que se pode dar por bem feliz o autor que atingir o absurdo.
"They travel across America four times, but they express only the most cursory interest in the people they meet, and often no interest in them at all if they cannot use them in some dishonest way or other; the history of the country does not arouse their curiosity or enthusiasm; neither do questions of politics or economics; nature, in the form of landscape, flora, and fauna, entirely escapes their notice."
Que cara..., como se se pudesse sustentar alguma coisa destas ausências. Parece-me que o crític0 não gosta é da personalidade das personagens...
Aposto que a resposta dele seria "Qual personalidade?"
you got me
Esqueci-me de dar nome ao anónimo do 1º post. Miguel, for what is worth.
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