«(...) In Aspects of the Novel, EM Forster used the now-famous term "flat" to describe the kind of character who is awarded a single, essential attribute, which is repeated without change as the person appears and reappears in a novel. Often, such characters have a catchphrase or tagline or keyword, as Mrs Micawber, in David Copperfield, likes to repeat "I will never desert Mr Micawber". She says she will not, and she does not. Forster is genially snobbish about flat characters, and wants to demote them, reserving the highest category for rounder, or fuller, characters. Flat characters cannot be tragic, he asserts, they need to be comic. Round characters "surprise" us each time they reappear; they are not flimsily theatrical. Flat ones can't surprise us, and are generally monochromatically histrionic. Forster mentions a popular novel by a contemporary novelist whose main character, a flat one, is a farmer who is always saying "I'll plough up that bit of gorse". But, says Forster, we are so bored by the farmer's consistency that we do not care whether he does or doesn't.
But is this right? If by flatness we mean a character, often but not always a minor one, often but not always comic, who serves to illuminate an essential human truth or characteristic, then many of the most interesting characters are flat. I would be quite happy to abolish the very idea of "roundness" in characterisation, because it tyrannises us - readers, novelists, critics - with an impossible ideal. "Roundness" is impossible in fiction, because fictional characters, while very alive in their way, are not the same as real people. It is subtlety that matters - subtlety of analysis, of inquiry, of concern, of felt pressure - and for subtlety a very small point of entry will do. Forster's division grandly privileges novels over short stories, since characters in stories rarely have the space to become "round". But I learn more about the consciousness of the soldier in Chekhov's 10-page story "The Kiss" than I do about the consciousness of Waverley in Walter Scott's eponymous novel, because Chekhov's inquiry into how his soldier's mind works is more acute than Scott's episodic romanticism. (...)»
O artigo, que deve ser lido na íntegra antes que eu me irrite com vocês a sério, serve como aperitivo para o novo livro do senhor, que me vai ser entregue em mãos por um dos mais pontuais carteiros do Hemisfério Norte, no dia 11 de Fevereiro de 2008, às dez e vinte da manhã. Por falar em coisas que devem ser lidas na íntegra, este texto do Alexandre Andrade sobre Delmore Schwartz é a melhor e mais lúcida apreciação crítica não escrita por James Wood que li nos últimos tempos. O irritante biógrafo de Saul Bellow teimou em informar-me aqui há uns anos que Schwartz era o modelo para o poeta lunático de Humboldt's Gift («He was a wonderful talker, a hectic nonstop monologuist and improvisator, a champion detractor. To be loused up by Humboldt was really a kind of privilege. It was like being the subject of a two-nosed portrait by Picasso, or an eviscerated chicken by Soutine»). Agora que penso nisso, o programa de leituras integrais devia incluir também o Humboldt's Gift, mas eu não mando nas vossas vidas.
Nem na minha consigo mandar. Na semana passada, comprei um livro de Cortázar (Prosa do Observatório) naquele alfarrabista de esquina, perto da Biblioteca Nacional. Lá dentro - porque nunca comprei um livro de Cortázar em segunda mão que não viesse com brinde - achei um cartão de sócio do extinto Clube de Turismo do Atlântico, pertencente a um António Beato Teixeira e datado 29 de Janeiro de 1973. Nas costas do cartão, por motivos muito pouco claros, aparecem escritas a lápis as palavras "vai para cabinda". É este o estado de coisas: Deus dá-me instruções geográficas com 35 anos de atraso e através de livros baratos. E a minha sarça ardente, onde é que está?
Finalizando, queria dizer que isto, mesmo ajustado à inflacção, continua a parecer-me uma indiscutível pechincha:
But is this right? If by flatness we mean a character, often but not always a minor one, often but not always comic, who serves to illuminate an essential human truth or characteristic, then many of the most interesting characters are flat. I would be quite happy to abolish the very idea of "roundness" in characterisation, because it tyrannises us - readers, novelists, critics - with an impossible ideal. "Roundness" is impossible in fiction, because fictional characters, while very alive in their way, are not the same as real people. It is subtlety that matters - subtlety of analysis, of inquiry, of concern, of felt pressure - and for subtlety a very small point of entry will do. Forster's division grandly privileges novels over short stories, since characters in stories rarely have the space to become "round". But I learn more about the consciousness of the soldier in Chekhov's 10-page story "The Kiss" than I do about the consciousness of Waverley in Walter Scott's eponymous novel, because Chekhov's inquiry into how his soldier's mind works is more acute than Scott's episodic romanticism. (...)»
O artigo, que deve ser lido na íntegra antes que eu me irrite com vocês a sério, serve como aperitivo para o novo livro do senhor, que me vai ser entregue em mãos por um dos mais pontuais carteiros do Hemisfério Norte, no dia 11 de Fevereiro de 2008, às dez e vinte da manhã. Por falar em coisas que devem ser lidas na íntegra, este texto do Alexandre Andrade sobre Delmore Schwartz é a melhor e mais lúcida apreciação crítica não escrita por James Wood que li nos últimos tempos. O irritante biógrafo de Saul Bellow teimou em informar-me aqui há uns anos que Schwartz era o modelo para o poeta lunático de Humboldt's Gift («He was a wonderful talker, a hectic nonstop monologuist and improvisator, a champion detractor. To be loused up by Humboldt was really a kind of privilege. It was like being the subject of a two-nosed portrait by Picasso, or an eviscerated chicken by Soutine»). Agora que penso nisso, o programa de leituras integrais devia incluir também o Humboldt's Gift, mas eu não mando nas vossas vidas.
Nem na minha consigo mandar. Na semana passada, comprei um livro de Cortázar (Prosa do Observatório) naquele alfarrabista de esquina, perto da Biblioteca Nacional. Lá dentro - porque nunca comprei um livro de Cortázar em segunda mão que não viesse com brinde - achei um cartão de sócio do extinto Clube de Turismo do Atlântico, pertencente a um António Beato Teixeira e datado 29 de Janeiro de 1973. Nas costas do cartão, por motivos muito pouco claros, aparecem escritas a lápis as palavras "vai para cabinda". É este o estado de coisas: Deus dá-me instruções geográficas com 35 anos de atraso e através de livros baratos. E a minha sarça ardente, onde é que está?
Finalizando, queria dizer que isto, mesmo ajustado à inflacção, continua a parecer-me uma indiscutível pechincha:
2 comentários:
o carteiro nunca chega a hora, cabinda é um enclave e ... tudo o resto papel encartado incluído, é uma espécie de bónus de Deus. Tenho, aussi monsieur, um autógrafo de Gregory Bateson "For Michael & Nina, Sept 8, 1975". Quase que nos faz sentir importantes.
Seria muito bom que não nos admoestasse, a nós, seus leitores (no meu caso, compulsivo) sobre leituras. Eu sei que o faz por entusiasmo, por querer que todos tenhamos o mesmo gosto, etc etc, com a melhor das intenções (desculpe esta!) mas guarde os "deve" para crianças relapsas com os trabalhos de casa.
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