terça-feira, fevereiro 12, 2008

Argumentum blogspoticum

O que aconteceu foi o seguinte:
Porque há alturas em que me parece que a vida pode ser um bocadinho mais do que costuma ser, passei hoje uns minutos a fazer experiências com algumas das funcionalidades do blogger, essa plataforma tão amistosa e injustiçada, e à qual tenciono permanecer fiel durante as décadas vindouras.
Ocorreu-me que nunca tinha escrito um post sem caixa de comentários e manipulei os controlos necessários para o poder fazer (não digo que tenha sido muito complicado, mas uma pessoa com insónia crónica aprende a celebrar estas pequenas vitórias). Intitulei o post "Um post sem caixa de comentários" - porque não gosto de enganar ninguém - mas percebi instantaneamente que não havia mais para escrever: o propósito do post estava cumprido, não era preciso acrescentar nada no corpo do dito. Portanto re-intitulei o post "Um post sem caixa de comentários e sem nada escrito no corpo do dito". As coisas estavam a correr bem, sentia-me bastante lúcido.
Depressa cheguei à conclusão que um post sem caixa de comentários e sem nada escrito no corpo do dito não necessita realmente de título, portanto retirei o título, tendo ficado apenas com uma data e uma assinatura. Uma data e uma assinatura, no contexto certo, podem ser tremendamente eficazes. Porém, depois de breve ponderação, acabei por decidir que assinar e datar o que é essencialmente um espaço em branco poderia ser mal interpretado, portando retirei também esses elementos do post - post esse que, por esta altura, já não retinha nenhuma das características que normalmente associamos ao conceito de post. O resultado está à vista: fui forçado a escrever um segundo post - este post: este - a explicar as características de um post prévio que as categorias de percepção dos leitores não vão registar, e que todas as evidências apontam não estar, pura e simplesmente, lá.
Este processo é conhecido como teologia.
Assumo que os infiéis entre vocês vão optar por concluír que o post nunca existiu, mas estão tragicamente enganados.

7 comentários:

Anónimo disse...

Às vezes, a fidelidade não é uma virtude, mas um defeito.

Neste caso em específico, lamento muito, essa fidelidade :)

José Bandeira disse...

Brilhante! (olha, um ponto de exclamação - com a idade, estou a ficar sentimental)

Anónimo disse...

O Casanova é moralmente casanóvico. Se outra plataforma lhe piscar os olhos, ele mete logo os palitos ao Blogger.

Anónimo disse...

Alguma preferência na cor dos olhos que piscam?

:)

Os meus são verdes, mas arranja-se outra cor qualquer :)

Anónimo disse...

Agradecia que a anonimidade do país não andasse por aí a flirtar em meu nome. A minha relação com o Blogger é estável, e está para durar. É daquelas relações em que nem precisamos de falar: por vezes limitamo-nos a olhar um para o outro, cheios de amor.

Lourenço Bray disse...

Posso ser um dos apostolos dessa religião? Eu acredito, eu tenho fé no post desaparecido e também tenho fé que ele voltará a este blogue sagrado.

João Teixeira disse...

Também creio no post-substância, no post eterno, sem acidentes, simples, infinito e necessário.