Quebrei a minha própria regra - de nunca me aproximar de um texto que inclua a expressão «sociedade ocidental» - e li com bastante interesse 25% deste post do Lourenço. Também eu sou enfaticamente a favor da Oxford comma, em parte por motivos autobiográficos. Quando tinha 9 anos, a professora Irene explicou-me que as vírgulas que eu utilizava esporadicamente antes da conjunção "e" eram um erro. «Mas são sempre um erro, professora Irene?» «Sim, pequeno Casanova, um erro.» Claro que isto nunca me convenceu, mas só consegui adoptar uma posição semi-coerente sobre o assunto em 2003, quando trabalhei para uma revista em Edimburgo. (Escrevia recensões críticas a jogos de computador: 800 palavras e uma classificação qualitativa de 0 a 5 joysticks. Nunca me pagaram, e a revista faliu ao fim de 2 números, mas foi o melhor emprego que tive na vida. A minha peça seminal sobre o Fifa 2004 gerou um volume de correspondência sem precedentes: dois emails, um dos quais, afinal, não era para mim. Mas estou a dispersar-me).
O editor da dita revista - e uso o termo "editor" com a latitude mais Ptolomeica que o termo permite - chamou-me um dia ao gabinete - e uso o termo "gabinete com a latitude mais" etc, etc. - para discutir a minha pontuação:
«Just out of curiosity, little Casanova, do you have any ideia what the fuck you're doing when you type a comma into this nonsense you keep handing in?»
Devo, nesta altura, ter balbuciado alguma coisa pouco convincente (nunca me senti confortável a falar com homens em idade adulta que usam tranças e óculos escuros), e ele deu-me uma palestra de aproximadamente vinte minutos sobre a vírgula serial, que foi uma réplica quase verbatim do artigo da Wikipedia que o Lourenço cita. E a minha vida, pequeno leitor, nunca mais foi a mesma. O Lourenço é a favor da Oxford comma, eu sou a favor da Oxford comma, e um dia, num futuro iluminado, seremos todos a favor da Oxford comma.
O editor da dita revista - e uso o termo "editor" com a latitude mais Ptolomeica que o termo permite - chamou-me um dia ao gabinete - e uso o termo "gabinete com a latitude mais" etc, etc. - para discutir a minha pontuação:
«Just out of curiosity, little Casanova, do you have any ideia what the fuck you're doing when you type a comma into this nonsense you keep handing in?»
Devo, nesta altura, ter balbuciado alguma coisa pouco convincente (nunca me senti confortável a falar com homens em idade adulta que usam tranças e óculos escuros), e ele deu-me uma palestra de aproximadamente vinte minutos sobre a vírgula serial, que foi uma réplica quase verbatim do artigo da Wikipedia que o Lourenço cita. E a minha vida, pequeno leitor, nunca mais foi a mesma. O Lourenço é a favor da Oxford comma, eu sou a favor da Oxford comma, e um dia, num futuro iluminado, seremos todos a favor da Oxford comma.
17 comentários:
Não se arranja uma cópia dessa crítica ao Fifa 2004? Os blogues são para isto.
Vampire Weekend - "oxford comma".
ok, o meu comentário apareceu ali de repente sem o resto, continuas a armadilhar o blog? Bom, só queria sugerir uma música sobre o "oxford comma" mas escrita pelo Eddie Vedder.
Sempre a utilizei, por me parecer natural - a conjunção neste caso agrega-se à nova unidade de sentido que é acrescentada, pelo que se justifica perfeitamente utilizá-la em Português.
Por norma não a utilizo se estiver a fazer uma simples enumeração, mas se por acaso a meio da dita enumeração surgir um aparte rodeio-o de vírgulas.
Um exemplo simplista: os pilotos da Ferrari são o Felipe Massa, o Kimi Raikonnen, que foi campeão o ano passado, e o Luca Badoer.
Noutros casos, nunca me passou pela cabeça usar. Uma das explicações dadas no artigo da wikipedia faz sentido, dá a cadência certa à frase. Talvez comece a experimentar e a ver as reacções.
Creio que nem sempre é um erro, quero dizer, em português e segundo as regras que vigorariam quando tinha aulas com a senhora de que fala. Tenho preguiça de ir agora tentar encontrar literatura coadjuvante, mas creio que até eu, em novo, a usei com algum desembaraço. Bons tempos!
Eu acho que o Mantorras devia jogar mais vezes, e que Luís Filipe é jogador para o SCP. A virgula de Oxford é pô-la a rodar em clubes menores para ganhar estaleca.
Estaleca, ensimesmado e pom-pom, são as melhores palavras da língua portuguesa.
Casanova, por um conjunto de motivos, e por outros, agradeço este post.
Dorm cam... O fox...
eu também acho que, entre outras coisas, dá cadência.
não utilizo.
é uma questão de princípio, little casanova.
nenhum polícia me proibirá de meter a vírgula onde eu quiser.
Falta uma vírgula no título deste post.
«Falta uma vírgula no título deste post.»
Este é um comentário pertinente, incisivo, e até de um certo modo sarcástico.
Hugo, é tudo esclarecido no link para a Wikipedia. Este é um blogue particularmente profundo: contém alusões que só são decifradas ao terceiro ou quarto link, piadas que só fazem sentido sete dias depois, e até comentários que ninguém deve perdoar, a não ser, possivelmente, o meu Pai.
(Sr. arquitecto, enviámos-lhe um mail há já algum tempo. Verifique o seu caixote de spam, se faz favor.)
Lembro-me de me sentir chocado pela quantidade de vezes que o Jorge de Sena metia uma vírgula imediatamente antes de uma copulativa.
Sinto-me vingada. A minha professora da escola primária, a Dona Bela, ameaçou corrigir à reguada as minhas Oxford commas, inspiradas por uma dieta de livros da Enid Blyton. Também censurava os meus travessões, substituindo-os de forma insuportavelmente mesquinha por parêntesis. Neuroticamente, até hoje, polvilho as enumerações de vírgulas e multiplico travessões onde quaisquer parêntesis poderiam servir. Thank you, Rogério, and thank you, Lourenço: somos todos a favor da Oxford comma.
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