sábado, abril 26, 2008

O meu amigo tem este problema

Queria aqui apresentar, nos termos mais inequívocos, o meu protesto contra a rapidez com que os cafés e restaurantes deste país estão a aderir às luzes com detector de movimento para apetrecharem as suas casas-de-banho. O propósito, segundo me explicaram, é poupar energia, intenção contra a qual nada me move. Mas eu tenho, por acaso, um amigo que gosta de se instalar com o Record ou o Economist (ordem de preferência) no cubículo e passar lá uns confortáveis minutos de leitura. E acontece que há por aí determinados estabelecimentos em que o impulso conservacionista do detector de movimento é tão forte que não se vai lá com subtilezas: meras inclinações cranianas ou encolheres espaduares são ostensivamente ignorados. Não nego que haja óbvios benefícios económicos e ecológicos nestas rigorosas exigências motoras, mas custa-me que a dignidade do meu amigo - forçado a esbracejar como um lunático de 30 em 30 segundos para não ficar às escuras na retrete com o Record ou o Economist (ordem de preferência) - seja assim tão radicalmente relegada para segundo plano. Isto parece-me importante.
As minhas previsões para o resto da Liga dos Campeões são as seguintes: o Liverpool irá a Stamford Bridge virar a eliminatória, através de um lance tão inacreditavelmente deusexmachinista que o próprio Eurípedes abandonaria o estádio a meio, sob o pretexto de "escapar ao infernal trânsito londrino"; e Dirk Kuyt poderá tornar-se o pior jogador da história do futebol a marcar em duas finais consecutivas. A final da competição vai decorrer em Moscovo, no Estádio Luzhniki, um complexo desportivo cujas torres de iluminação não são activadas através de detectores de movimento (embora isso não me pareça a pior ideia do mundo neste momento).

10 comentários:

Lourenço Cordeiro disse...

Este bater no Liverpool tem de acabar: Dirk Kuyt não é mau jogador.

Anónimo disse...

O Kuyt parece um downgrade do Ricardo Sá Pinto. Em toda a sua carreira, o Sá Pinto deve ter pensado dentro de um relvado para aí em sete ou oito ocasiões. Estou em condições de afirmar que o Kuyt ainda não atingiu esse número.
Aquela correria acéfala causar-me-ia menos desconforto se ele soubesse receber uma bola, ou se acertasse mais de 7% dos passes que tenta fazer, ou até (admito) se jogasse no Sporting, em vez de perpetuar a glória desmerecida daquele clube satânico.
Mas nunca saberemos.

Lourenço Cordeiro disse...

Ok, numa perspectiva de sobrevalorização da actividade cerebral activa Kuyt não impressiona, mas o Benfica acabou de ganhar ao Belenenses 2-0 e portanto acabei de ver o Chalana exprimir-se aos microfones da TVI, o que deita por terra todo este argumento (o Chalana sempre teve uma relação de proporcionalidade inversa entre as suas capacidades cognitivas e o tudo o resto. Por outro lado, consta que Mourinho, talvez encantado com os feitiços do pequeno genial, insistiu durante uns tempos como jogador, e diz quem assistiu que em campo ele parecia sempre muito pensativo). Numa perspectiva de sobrevalorização da actividade cerebral activa Kuyt não impressiona, mas só numa perspectiva de sobrevalorização da actividade cerebral activa.

Lourenço Cordeiro disse...

P.S: Já o Sá Pinto foi contratado pelo Sporting para colaborar na «área relativa ao seu mestrado» (sic). Marketing, parece, o que das duas uma: ou deixa ficar mal o Sporting, ou deixa ficar mal quem elaborou o plano de estudos daquele mestrado.

Anónimo disse...

Se as torres de iluminação do Luzhniki fossem activadas pelo movimento de certeza que o Liverpool em geral, e o "acéfalo" Kuyt em particular, não as deixariam apagar por um segundinho que fosse. Só isso é um argumento a favor da equipa.

E não consta que o dito Kuyt tenha sequer tido ideias de pontapear Van Basten, Benítez, ou outro treinador qualquer...

Anónimo disse...

Descuidando o subtópico do post, chamo a atenção para o «Elogio da sombra» de um japonês qualquer, e noto, com estocada amiga, que R. Casanova não contemplou muitas virtudes do contexto.

Cumprimentos.

L.F.

PS. Nada teria a dizer sobre a Liga, mas ao fim de tantos anos estar envergonhado de não meter o bedelho no futebol falado à frente, se calhar quer dizer que estou no armário. Refletiremos sobre isso no 1.º de maio.

Artur Corvelo disse...

pelo criador de Ente lectual, O homem que era quintafeira, ou o homem que um dia eliminará o mijo oblíquo da face da terra - http://oquintafeira.blogspot.com/.

Continência.

Anónimo disse...

http://chovechove.blogspot.com/
Quem é este chanfrado?

Lourenço Bray disse...

Também é mau quando estamos a fazer chichi e demoramos um bocadinho e a luz apaga. Estamos a fazer chichi e temos 2 opções, ou mexemo-nos e molhamos o chão, os sapatos e, com alguma sorte, as calças, ou então ficamos às escuras até acabarmos, sujeitos a que entre uma pessoa e que nos encontre ali, às escuras, o que é um bocado creepy.

Luis F. Cristóvão disse...

conheço a sensação - e depois há também aquela história de, saindo do wc com o jornal debaixo do braço, sermos olhados de soslaio pela empregada do café com quem diz "estivesse aí dentro a esbracejar, meu parvo"...