Ontem, num comboio da Fertagus, um homem sentado ao meu lado foi aproximadamente vinte minutos a olhar para um puzzle sudoku recortado de um jornal. Só quase no fim da viagem me apercebi que ele estava a resolvê-lo - preenchendo os quadradinhos mentalmente, sem o auxílio de lápis. Um feito que não é assim tão extraordinário, sobretudo se comparado com o dos que jogam xadrês sem auxílio de tabuleiro (como Najdorf), futebol sem auxílio de bola (como a selecção Sueca no Mundial de 1994) ou política sem o auxílio de hipóteses (como Pedro Santana Lopes), mas ainda assim digno de realce. Eu próprio me tenho fartado de escrever aqui nas últimas semanas sem o auxílio de mim próprio; espero que tenham conseguido ler tudo sem o auxílio de letras.
Tudo isto para dizer que gostei muito deste post do Julinho:
«Enfim, claro que desde que rererererevi o Hatari! na televisão no início do mês (e que, claro, ao contrário da merda dos MIB ou do Ishtar ou do Evita, não vai repetir, pelo menos este mês, para poder finalmente gravar, embora nunca veja filmes gravados, mas às vezes gosto de saber que estão lá), tenho andado a ouvir as pessoas na rua a tratarem-me casualmente por bwana. Confesso que me pareceu inusitado de início, mas a verdade é que quando lhes digo para continuarem a fazer a sua vida como se o meu extraordinário poder de atracção carismática sobre eles não existisse, eles cumprem-no escrupulosamente. Estranhamente, quando me faço à população nativa é que a coisa não corre muito bem. Talvez porque não estava no guião, talvez porque não fosse uma fantasia colonial. É o problema de ficarmos cativos, por razões que não nos interessa explorar, em filmes que nos acompanham seguros desde o tempo em que as tardes de fim-de-semana da RTP1 tinham cinema clássico: não há margem de improvisação para um destino cujo fado é o de não se cumprir.»
Tudo isto para dizer que gostei muito deste post do Julinho:
«Enfim, claro que desde que rererererevi o Hatari! na televisão no início do mês (e que, claro, ao contrário da merda dos MIB ou do Ishtar ou do Evita, não vai repetir, pelo menos este mês, para poder finalmente gravar, embora nunca veja filmes gravados, mas às vezes gosto de saber que estão lá), tenho andado a ouvir as pessoas na rua a tratarem-me casualmente por bwana. Confesso que me pareceu inusitado de início, mas a verdade é que quando lhes digo para continuarem a fazer a sua vida como se o meu extraordinário poder de atracção carismática sobre eles não existisse, eles cumprem-no escrupulosamente. Estranhamente, quando me faço à população nativa é que a coisa não corre muito bem. Talvez porque não estava no guião, talvez porque não fosse uma fantasia colonial. É o problema de ficarmos cativos, por razões que não nos interessa explorar, em filmes que nos acompanham seguros desde o tempo em que as tardes de fim-de-semana da RTP1 tinham cinema clássico: não há margem de improvisação para um destino cujo fado é o de não se cumprir.»
5 comentários:
Xadrez, fodasse é xadrez e não xadrês.
E já agora jogar XADREZ sem ver as peças não é nada de impressionante, mesmo em Portugal há centenas de pessoas que conseguem.
Caro Palerma,
Se consultares o Dicionário da Língua Portuguesa da Editora Radiote (1911, edição única), como eu fiz, anteontem, verificarás que a palavra Xadrez grafa-se das duas formas; à escolha do freguês, portanto.
Quanto às «centenas de pessoas que conseguem», em Portugal, jogar xadrez sem auxílo das peças: tens toda a razão, é verdade. Advirto-te, contudo, que não é xadrez que se chama, e tampouco é um jogo.
Um abraço caloroso,
Vítor
go ask alice
Eu sou uma dessas centenas de pessoas que jogam xadrês sem auxílio de tabuleiro, peças e até de adversários.
Xadrês, porra nenhuma. Xadrez. Assim se escreve. Que patada grosseira, ó Casanova.
"Quanto às «centenas de pessoas que conseguem», em Portugal, jogar xadrez sem auxílo das peças: tens toda a razão, é verdade. Advirto-te, contudo, que não é xadrez que se chama, e tampouco é um jogo."
Centenas? Em Portugal, poucas centenas é a quantidade dos que conseguem jogar com peças e sem limites de tempo, podendo voltar atrás. Ou a que chamas tu jogar, Vítor?!
Quanto ao post em si, parece-me mais uma mostra de forma sem conteúdo, de casca sem miolo, de língua sem cérebro. Talvez por isso todos estejamos a comentar comentários...
Parabéns, ó Casanova.
:P
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