Ainda estou a recuperar do facto de uma pileca anoréxica a 100/1 ter ganho a Grand National deste ano. Tinha já as férias planeadas com as 25 libras da praxe no State of Play - odds modestas a 14/1, mas apostar que a próxima corrida vai favorecer o State of Play costuma ser o equivalente a apostar que o próximo livro do Philip Roth vai favorecer a nostalgia do bóbó em Newark. Ainda vasculhei a lista de participantes à procura de referências ao The Wire para uma apostazinha suplente, mas em vão.
O que não significa que não tenha achado referências ao The Wire noutro sítio - elas hoje aparecem nos sítios mais insólitos. Uma das coisas que me incomodara a memória nos primeiros episódios tinha sido a utilização de construções do género "he's a good police", que eu sabia ter já ter lido algures no meu passado selvagem. Para grande consternação de membros da família mais chegados (inclusivamente aqueles que subscrevem a dúbia teoria de que «a maionese te anda a deixar queimadinho») só demorei três semanas a lá chegar. O Night Train do Martin Amis começa assim:
"I am a police. That may sound like an unusual statement -- or an unusual construction. But it's a parlance we have. Among ourselves, we would never say I am a policeman or I am a policewoman or I am a police officer. We would just say I am a police".
Uma pesquisa exaustiva entretanto efectuada por mim, envolvendo aproximadamente um copy-paste para o google, revelou que este parágrafo deu origem a uma resposta histérica de John Update, que, na crítica que fez ao livro no Sunday Times, terá afirmado "'I am a police' . . . the first of a number of American locutions new to this native speaker". John Update, evidentemente, é o primeiro escritor americano que vem à cabeça quando se pensa numa autoridade em calão policial.
Curiosamente, uma segunda pesquisa exaustiva entretanto efectuada por mim, envolvendo aproximadamente um segundo copy-paste para o google, recuperou a seguinte resposta de Martin Amis: "There's nothing strange about it," Amis says, bristling slightly. "I got a lot of my stuff from David Simon's book Homicide. His city is Baltimore, and that's what they say there, and I'll bet they say it in a few other cities, too. It's a wonderful book, and a great help to me. That's where I point people like John Update".
1 comentário:
A semana passada esteve em Lisboa um amigo meu norte-irlandês (palavras dele) que ganhou 240 libras nesse cavalinho com odds esqueléticas. Perguntei-lhe se ele costumava ter sorte ao que me respondeu que o pai era bookie. Não são só os almoços que não são de graça, methinks.
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