Mais um fim-de-semana televisivo concluído com sucesso. A maratona começou a todo o vapor com uma sessãozinha de All The President's Men (um filme que hei-de rever todos os anos até atinar com a dicção de Jason Robards), e depois com o Festival da Eurovisão, que agora se encontra numa fase de expansão semelhante à que a Liga dos Campeões atravessou aqui há uns anos; muito em breve deveremos ter uma fase de grupos. Para já, tivemos direito a duas semi-finais - o que é mais ou menos equivalente a dizer que o Inferno de Dante tinha nove eliminatórias.
A apresentação dos participantes foi feita com recurso à habitual estenografia biográfica do certame: aprendemos, por exemplo, que os eslovenos são "bons esquiadores". Uma das cantoras foi descrita como uma "economista com formação em teatro", o que sugeriu uma panóplia de possibilidades interessantes para o futuro de Manuel Pinho, como emagrecer dezasseis quilos antes de uma conferência de imprensa, ou anunciar um pacote de medidas de incentivo às pequenas e médias empresas directamente baseado nos ensinamentos de Lee Strasberg ("Breathe! Breathe!").
O destaque da noite (além da estonteante representante do Azerbeijão, que piscava os olhos como se estivesse a preparar um esturgido) foi a delegação de um dos países de Leste, cujo nome não apanhei, mas que provavelmente é terra de bons esquiadores, e cuja vocalista berrou um par de estrofes escondida atrás de um biombo. Muita gente não sabe, mas foi assim que Mark Felt revelou a Bob Woodward os pormenores do caso Watergate: atrás de um biombo, e rodeado de violinistas eslavos de sapatos amarelos.
Na SIC, Bárbara Guimarães deu início à gala dos Globos de Ouro soprando um saxofone como se estivesse a ser atacada por ele. Antes disso, um especial de meia-hora subordinado ao tema "passadeira vermelha" revelara algumas informações pertinentes, nomeadamente o facto de a passadeira em questão ser cor-de-rosa. O repórter Daniel Nascimento revelou um notável talento para transformar a pergunta mais inócua num insulto. Ao falar com um dos candidatos ao galardão de melhor modelo, incluiu na pergunta uma sugestão de cambalacho: "Foste a nomeação mais inesperada do ano. Tens alguma ideia de que porque é que foste nomeado?". Ao falar com o Rui Reininho, incluiu na pergunta uma sugestão de obsolescência: "Rui, nessa idade... ainda faz algum sentido ganhar prémios?" Conseguiu, no entanto, redimir-se, terminando a entrevista com Manoel de Oliveira com os votos sinceros de "um brilhante futuro", para essa jovem promessa. Manoel de Oliveira, com palavras à altura das circunstâncias, revelou que não se sentia uma estrela, apenas "um pobre planeta".
Jesualdo Ferreira, com o ar inconfundível de quem se sente uma próspera supernova, cruzou-se por breves momentos com Gary Oldman, ainda envergando a maquilhagem que usou em Dracula, mas que a entrevistadora tratou estranhamente como "Lili Caneças". Ricardo Costa e Nuno Rogeiro assinalaram a sua seriedade com um permanente cruzar de braços; podiam muito bem marcar presença naquela Babilónia, mas ninguém os ia apanhar a esbracejar que nem plebeus.
A apresentação dos participantes foi feita com recurso à habitual estenografia biográfica do certame: aprendemos, por exemplo, que os eslovenos são "bons esquiadores". Uma das cantoras foi descrita como uma "economista com formação em teatro", o que sugeriu uma panóplia de possibilidades interessantes para o futuro de Manuel Pinho, como emagrecer dezasseis quilos antes de uma conferência de imprensa, ou anunciar um pacote de medidas de incentivo às pequenas e médias empresas directamente baseado nos ensinamentos de Lee Strasberg ("Breathe! Breathe!").
O destaque da noite (além da estonteante representante do Azerbeijão, que piscava os olhos como se estivesse a preparar um esturgido) foi a delegação de um dos países de Leste, cujo nome não apanhei, mas que provavelmente é terra de bons esquiadores, e cuja vocalista berrou um par de estrofes escondida atrás de um biombo. Muita gente não sabe, mas foi assim que Mark Felt revelou a Bob Woodward os pormenores do caso Watergate: atrás de um biombo, e rodeado de violinistas eslavos de sapatos amarelos.
Na SIC, Bárbara Guimarães deu início à gala dos Globos de Ouro soprando um saxofone como se estivesse a ser atacada por ele. Antes disso, um especial de meia-hora subordinado ao tema "passadeira vermelha" revelara algumas informações pertinentes, nomeadamente o facto de a passadeira em questão ser cor-de-rosa. O repórter Daniel Nascimento revelou um notável talento para transformar a pergunta mais inócua num insulto. Ao falar com um dos candidatos ao galardão de melhor modelo, incluiu na pergunta uma sugestão de cambalacho: "Foste a nomeação mais inesperada do ano. Tens alguma ideia de que porque é que foste nomeado?". Ao falar com o Rui Reininho, incluiu na pergunta uma sugestão de obsolescência: "Rui, nessa idade... ainda faz algum sentido ganhar prémios?" Conseguiu, no entanto, redimir-se, terminando a entrevista com Manoel de Oliveira com os votos sinceros de "um brilhante futuro", para essa jovem promessa. Manoel de Oliveira, com palavras à altura das circunstâncias, revelou que não se sentia uma estrela, apenas "um pobre planeta".
Jesualdo Ferreira, com o ar inconfundível de quem se sente uma próspera supernova, cruzou-se por breves momentos com Gary Oldman, ainda envergando a maquilhagem que usou em Dracula, mas que a entrevistadora tratou estranhamente como "Lili Caneças". Ricardo Costa e Nuno Rogeiro assinalaram a sua seriedade com um permanente cruzar de braços; podiam muito bem marcar presença naquela Babilónia, mas ninguém os ia apanhar a esbracejar que nem plebeus.
A cerimónia progrediu a bom ritmo. Os prémios de representação, em que pessoas são reconhecidas pelo seu soberbo talento em fingir que são outras pessoas, foram entregues seguindo o modelo dos Óscares: um apresentador diferente recitava um pequeno poema em prosa a cada candidato. O estilo era consistentemente catastrófico, apesar de Ruy de Carvalho ter agido como se estivesse perante uma resma de pentâmetros iâmbicos. Soraia Chaves, lendo o teleponto como se fosse o Código de Hammurabi, deu por si a dizer que o trabalho de uma determinada actriz revelava "a dedicação de uma actriz dedicada". Maria José Paschoal e Nuno Lopes foram considerados os nomeados com mais talento para fingirem que não são Maria José Paschoal e Nuno Lopes. O seio esquerdo de Bárbara Guimarães, como Steve McQueen em The Great Escape, passou grande parte da noite a congeminar planos de fuga, mas sem grande sucesso. Cristiano Ronaldo entrou em directo, salientando a importância deste "globo de Portugal". Um convidado musical foi identificado como Pol Pot. Tudo acabou demasiado cedo, como o segundo mandato de Nixon.
6 comentários:
risos
Li, levantei-me, bati palmas ao que li e deixei escapar um "Bravo!". Grande grande post.
Para o ano há mais.
desde o fim do preto-e-branco, há uma tendência para o vermelho ser sempre cor-de-rosa na televisão, excepto no vermelho-tomate do sangue dos thrillers. Também há esferográficas com esse tipo de "vermelho" e ninguém se indigna.
Há então esperança de ver este blog ganhar novamente ritmo? Meia dúzia de crónicas espalhadas por aí não vale, é a mais pura batota.
eu não vi, mas a passagem relativa a manuel de oliveira tá gira.:)
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