O simplesmente genial Rui Miguel Tovar, no Record de hoje (juro, está na página 42). Ignoremos os autogolos gramaticais e concentremo-nos no essencial: aquele prodigioso golpe de casting revisionista.
sexta-feira, novembro 30, 2007
Bota de ouro
O simplesmente genial Rui Miguel Tovar, no Record de hoje (juro, está na página 42). Ignoremos os autogolos gramaticais e concentremo-nos no essencial: aquele prodigioso golpe de casting revisionista.
quinta-feira, novembro 29, 2007
Se isto não é a canção do ano, não sei qual será a canção do ano
Sonic Youth - «I'm Not There»
(p.s. 1: O Lifelogger é realmente muito prático e amistoso. Agradecimentos a todos os que o recomendaram, em especial ao Irmão Lúcia, a quem só faltou explicar-me todo o processo com bonifrates e lápis de cera.)
(p.s. 2: E vocês aí, não me metam em sarilhos, por favor. Já deixei queimar um arroz de pato por me ter distraído a pensar nessa brincadeira. A minha primeira reacção foi a óbvia: numa quinella irlandesa seria indiferente a ordem dos dois cavalos na aposta, que é uma each-way efectiva sem o mesmo investimento. Mas a maneira como a pergunta é formulada torna esta resposta um bocadinho ridícula. O que se pretende é um benefício objectivo de apostar num cavalo que se sabe não ter hipóteses - independentemente de a aposta ser win-win, de lugar ou each-way. E no sistema parimutuel, isto só faz sentido se envolver um esquema daqueles praticados por mafiosos das Midlands, cujo nome é quase sempre Robbie ou Dave, e cujas unhas são quase sempre da mesma cor dos sapatos. Por exemplo, apostando maquias avulsas a intervalos irregulares nas cabines da pista para inflacionar artificialmente o preço de um cavalo manco e vesgo - aproveitando depois as ofertas daltónicas das grandes agências off-track, que monitorizam o galope das cotações de pista de uma forma surpreendentemente superficial, e cuja preocupação com oscilações súbitas é subordinada à preocupação de poder continuar a prometer aos seus clientes percentagens idênticas sem o peso da breakage. Quer-me parecer que este hipotético esquema teria maiores probabilidades de sucesso antes do advento das betting exchanges online, mas neste ponto, como em tantos outros, é perfeitamente plausível que esteja a dizer um grande disparate, até porque a questão original pode partir de uma idiossincrasia do sistema de apostas americano que desconheça por completo. Parece-me igualmente pertinente salientar que eu agora me dedico mais à fruta.)
A sul do Tejo nem a natureza funciona
segunda-feira, novembro 26, 2007
Tenham a bondade de me auxiliar
Dos benefícios criativos da escritura de compra e venda
- Gore Vidal, "The Golden Bowl of Henry James"
(Larga lá a volumetria: pelos meus cálculos, tens uma janela de 3 meses para completar projectos estagnados.)
sábado, novembro 24, 2007
quinta-feira, novembro 22, 2007
Efficiency, efficiency they say
(Isto é tão, mas tão bom, que uma pessoa até lhe perdoa ter começado a trocar alguns dos soberbos "la-las" do refrão original por uns desleixados "na-nas". Será da idade? Possivelmente. E se o pior que a velhice nos reserva é começarmos a trocar "la-las" por "na-nas" podemos dar-nos todos por satisfeitos. John Cale é deste planeta e nós também: é preciso ter sorte.)
Barzã
(Já agora, o centenário é este mês.)
terça-feira, novembro 20, 2007
Beirute
Ou o autor deste comentário anónimo se identifica (pode ser por mail) nas próximas 24 horas, ou faço mal ao coelhinho. Estou a falar a sério. Os comentários anónimos só têm graça quando não têm graça.
Vamos supor
Este homem é um Pynchoniano de armário.
(Não isto tenha alguma coisa a ver com nada, mas em Vineland, há uma banda chamada Billy Barf and the Vomitones, que é convidada por acidente para tocar num casamento de mafiosos, performance para a qual se preparam lendo o "Italian Wedding Fake Book", de Deleuze & Guattari. Uma das canções do set, com a participação especial da vocalista e ninjette semi-reformada DL Chastain, goes a little something like this:
Just a floozy with an Uzi. . .
Just a girlie with-a-gun. . .
When I could have been a mo-del,
And I should have been a nun. . .
Oh, just what was it about that
Little Israeli machine?. . .
Play all day in the sand,
Nothin' gets, jammed, under-
stand. . . what I mean?
So Mis-ter, you can keep your len-ses,
And Sis-ter, you can keep your beads. . .
I'm taking care of all my needs. . .
I'll lose my blues, in some Jacuz-zi,
Life's just a lotta clean fun,
For a floo-zy with an U-U-zi,
For a girlie, with-a-gun. . . )
domingo, novembro 18, 2007
Getting pressure from the Mayor
Fitzcarraldo (1982) – Tal como Apocalipse Now, com o qual tem algumas semelhanças oblíquas, é um filme que duplica o seu próprio making of, mas garanto que não vou aqui dizer mais nada de interessante sobre o assunto. Se o Rex Ingram se libertasse sozinho da sua lamparina troposférica, atravessasse três camadas atmosféricas, três áreas de descontinuidade, a ponte 25 de Abril e a louca corrida à fermentação a decorrer no meu quintal entre as laranjas mais timoratas e os exemplares mais inúteis do jornal Dica da Semana, se o Rex Ingram, dizia eu, se materializasse na minha cozinha, e me concedesse três desejos sem letrinhas minúsculas no contrato, é altamente provável que, antes sequer de ponderar uma propriedade com estábulos em Worcestershire ou a paz universal, eu lhe pedisse que Klaus Kinski fosse ressuscitado de propósito para gravar a mensagem de atendimento no meu telemóvel. Queria ver se o departamento de promoções da TMN não aprendia logo a respeitar-me.
They Live! (1988) – Depois da proto-abdicação de McCain, uma vitória de Giuliani nas primárias do Iowa é agora uma possibilidade, o que pode descarrilar a campanha de Romney muito mais cedo do que o esperado para um candidato com roupa interior à Bridget Jones. Fred Thompson incomoda-me profundamente; o homem faz James Spader parecer normal. Barack Obama continua a sua maratona ontológica, tendo bebido uma garrafinha de água mineral à beira do quiosque dos Rockefeller Republicans. John Edwards vai aperfeiçoando a sua imitação anti-sistémica de Dias da Cunha. Bill Richardson é o único Democrata que me faz rir pelos motivos certos. A mulher de Dennis Kucinich é extraordinariamente atraente, mas pelos motivos errados. (Eu votaria em branco, ou em McCain, o que é quase o mesmo).
The Big Lebowski (1998) – Talvez o melhor filme sobre advogados da história do cinema. Apesar da duração (cerca de sete horas) o espectador nunca se aborrece. A célebre sequência no tribunal, em que o promotor-público de Dallas interroga ferozmente o hirsuto anarquista porto-riquenho sobre a sua costela Habermasiana é um dos grandes momentos da carreira de Mário Viegas.
(Já vi o filme umas oito vezes, mas possivelmente nunca nas condições fisiológicas ideais).
Sunset Boulevard (1950) – Porque não conseguiria fazer melhor, passo a palavra ao maior vulto intellectual contemporâneo, George Steiner: « . . . [Sunset Boulevard] is a nineteen-fifty-something movie starring quite a few actors, produced by someone with money, and directed by someone else whose name is not worth bothering your pretty little head about. The main plot revolves around a group of people who interact with each other by way of talking and gesticulating. All this talking and gesticulating produces a few actions, which produce, in turn, some reactions. The movie starts at the end but gets a grip on itself and comes back, proceeding then in an orderly fashion from start to finish; along the way it passes through several points which could, when taken together, be described as “the middle”. Stuff happens throughout, and consequences to the happening of stuff are also shown. Sometimes, confusingly, different kinds of stuff happen almost at once: two or more people may be talking, or even talking and eating simultaneously, and all of a sudden there is a cut and in the next shot we see someone entirely different driving a car, or shaving, or burying a monkey. It gets pretty frantic up there on the screen, but after a couple of hours of all this stuff happening, stuff suddenly stops happening, meaning that the movie has ended, so, you know, whatever.» (George Steiner, Tiresias’ Curse, or Having Fun at the Movies, p. 328)
Passo esta corrente aos portugueses. Eles que decidam, em consciência.
quinta-feira, novembro 15, 2007
terça-feira, novembro 13, 2007
Um ser humano indistinto, um ser humano indistinto e outro ser humano indistinto entram os três num bar e pagam uma rodada de iogurtes
Se não resistimos a fazer piadas sobre minorias, seria mais interessante (digo eu) rirmo-nos de minorias dominantes (as que detêm o poder político, económico, cultural), em vez de nos rirmos de quem precisa de se esconder para ser aceite como igual.Ou então rirmo-nos de nós próprios, que ainda é o mais saudável e divertido, como o maradona saberá se já experimentou.
Em todo o caso, não achei piada nenhuma ao seu texto (eu que acho piada a quase tudo). É que, ao contrário de si, tenho a sorte de ter amigos gays, e imaginação suficiente para adivinhar a incomodidade e o sofrimento que esse facto, tão anódino e normal, pode ainda provocar nas suas vidas.»
(Mais uma adição ao Clube dos Amigos da Comédia como Instrumento de Justiça Social. Não conheço outro tipo de humor que não o baseado - em maior ou menor grau - na "ridicularização das diferenças", mas admito que o quintal me ocupa muito tempo. De qualquer maneira, vale a pena ler aquela página inteira, desde o "marialvismo literário destes queques terríveis" à "cumplicidade com autos-de-fé". O estagiário que a Danone destaca para ler o meu blogue já deve estar a escrever memorandos frenéticos. E esta, meus amigos, é para epígrafe de qualquer coisa:
segunda-feira, novembro 12, 2007
Janelinhas saltitonas da alma
- The Elegant Variation
(A melhor inoculação que conheço contra este vício específico - choques em cadeia entre globos oculares vagabundos - é um conto chamado "'Tis the Season to be Jelly", de Richard Matheson. Está incluído no livro Shock III, que podem adquirir em segunda mão na Amazon, ou em alternativa, pedi-lo emprestado à minha pessoa, com os vossos olhos aparafusados ao solo em súplica dextrivolúvel.)
domingo, novembro 11, 2007
Mal de montaña
O pior que pode resultar daqui é um ânimozinho revolucionário aos que desejam uma vaga de fundo para devolver Paulo Bento às Astúrias. Não seria a maior asneira da história do Sporting, nem a menor: seria apenas mais uma, e sinceramente, já me começam a faltar esferas no ábaco.
O erro de Paulo Bento esta noite é tão incontornável como irrelevante. É certo que retirar o lateral-esquerdo ao intervalo é o equivalente futebolístico a invadir a Rússia em Setembro (manobra estreada, pelo menos neste clube, a 14 de Maio de 1994). Mas o jogo estava perdido desde os primeiros minutos, quando a equipa do Braga descobriu que estava a jogar não contra outra equipa, mas contra uma daquelas expedições ao Evereste que corre mal.
A maior responsabilidade que pode ser imputada a Paulo Bento é a de ter feito um trabalho demasiado bom no ano passado: levou um plantel com apenas oito jogadores de campo (e incluo o Abel nesta estimativa apenas porque a sua hirsutez me intimida) a sítios onde plantéis com apenas oito jogadores de campo nunca devem ir sem tendas, cordas, e botijas de oxigénio.
sábado, novembro 10, 2007
"It is a jungle of thoroughfare nomenclature out there"
The Accidental
Alerto eventuais míopes para o seguinte: a epígrafe do blogue é «Everything is meant» e não «Everything is meat».
sexta-feira, novembro 09, 2007
Intensa Actividade Gasosa
Irrita-me quando esquecem as implicações biográficas do gosto por massa cotovelo (e não sei se já vos disse o quanto gosto de James Wood)
(James Wood, "Gogol's Realism", in The Broken Estate: Essays on Literature and Belief)
(Quando morei em Edinburgo, costumava participar num jogo de shots chamado "Go-gol dancing". O jogo era despoletado pelo primeiro cliente da noite (enfim: tarde, manhã... eu tinha uma vida diferente) que se dirigisse ao balcão para pedir uma garrafa de Ochakovo Ruby. Um dos participantes tinha então de se levantar, dançar um boogiezinho, debitar um facto biográfico sobre Gogol e beber um Bloody Bastard. Terão de acreditar na minha palavra quando vos digo que isto era bastante menos decadente do que soa.)
terça-feira, novembro 06, 2007
Pode sinalizar uma deriva para frivolidade, mas o autor do blogue acha que nenhuma altura é má altura para ver Norman Mailer à porrada com Rip Torn
(O diálogo é consistentemente impagável, mas o melhor momento ocorre ao minuto 1:57: 'I'm not hurt.' 'Yes, you are.' 'He's hurtin' worse than me!' Um involuntariamente hilariante making of do incidente pode ser lido aqui. Não sei se este país pode andar para a frente enquanto não existirem provas documentais de uma cena de recreio entre um escritor de renome e um actor semi-canastrão. Os meus candidatos: José Luís Peixoto vs. Rogério Samora. Fica a sugestão.)
domingo, novembro 04, 2007
In July
(«This is a lot of shit, you know that?» Um infame outtake de Orson Welles. Ou era isto ou era vir para aqui fazer queixinhas do Sr. Elmano Santos e eu sou uma pessoa crescida. Dito isto, se o Sporting não ganha este jogo, apago o rascunho do post sobre o Roth e vamos ter uma semana de clips do YouTube com anúncios a comida congelada.)
sexta-feira, novembro 02, 2007
¿Le gusta este Jardín que es suyo?
(Já volto para escrever o resto do post. A pitoresca fauna da margem Sul ainda não aprendeu a respeitar o meu quintal e tenho de ir resolver esse problema.)
quinta-feira, novembro 01, 2007
O Diário de Malinowksi pode não ser mais do que uma nota de rodapé na história da antropologia, mas é um texto-base do registo confessional. Deve ser lido (bem, por masoquistas, para começar) em tandem com a correspondência javarda entre James e Norah Joyce; ambas as obras geraram ferozes e inconclusivos debates sobre questões de propriedade e privacidade, e ambas flutuam num plano perpendicular às disciplinas que as enquadram: o Diário está para a etnografia como as cartas para a ficção modernista.
The Muttonhead Quail Movement
The opposition blames the government and the pro-government Muttonhead Quail Movement (MQM), which runs Karachi, for the violence.»
Um espectacular acidente de spell-check da Reuters. (Via este post no criticamente indispensável Language Log).