segunda-feira, março 31, 2008

Três posts para vosso entretenimento

(...) Vê bem. A cabra do costume, há sempre uma cabra do costume, rapariga ainda nova, uma pena, apesar de parecer uma lebre, especialmente quando faz aquilo com o nariz. É lixado para uma gaja fazer lembrar os subúrbios da cadeia alimentar. Põe a cabeça em água a toda a gente e quando chega a casa, à noite, todas as noites, ajoelha-se ao lado da cama e pede perdão ao Menino Jesus, que tem a vantagem de estar isento da carga erótica que centenas de anos de arte ocidental depositaram sobre o Senhor Jesus. O Menino Jesus, vá-se lá saber porquê, perdoa-lhe. É um frete que lhe faz todas as noites há uma data de anos. Todas as noites, não. Ela, quando chega a casa embriagada, já não pede nada a ninguém e o Menino Jesus fica sem frete para fazer por umas horas. Mas não é hábito. E ninguém sabe se ele se rala ou se agradece a folga. Depois chora, ela, enquanto se enrola nos lençóis sem conseguir dormir. E no dia seguinte faz a cabeça em água a toda a gente outra vez. A vida é sofrimento, pá. (...)

(Terra Habitada)


«-Olhem para mim, sou como este Grande Intelectual Inglês mas em Portugal sou incompreendido!
-Não és nada! Eu mando muito mais estilo porque sou mais pobre e mais velho.
-Tenho aqui duas citações dele que mostram que a esquerda é estúpida e não manda estilo.
-Mentira! Ele pensava que a esquerda era bonita às vezes. Ele e o Outro Grande Intelectual Francês!
- Os franceses são todos de esquerda! Falo dos Grandes Intelectuais Ingleses!
- Não é verdade! Há Grandes Intelectuais Ingleses que são de esquerda!
- Comuna fascizante! Super Aaron! Mega Aaron!
- 25 de Abril sempre! Sartre Power! Abaixo o patronato e os Grandes Intelectuais de Direita!»


(O Nascer do Sol)


Uns excitam-se com luta-livre de lésbicas na lama. Outros excitam-se com a aliteração em "luta-livre de lésbicas na lama". Os segundos claramente onanistas depravados.

(Ainda Não Está Escuro)

domingo, março 30, 2008

MSN


R. Casanova diz:
Pssst. Estás aí?

Internet diz:
não vês k xxim?

R. Casanova diz:
Não dizias nada. Senti a tua falta.

Internet diz:
??

R. Casanova diz:
Senti a tua falta. Foram três semanas.

Internet diz:
ok

R. Casanova diz:
Ok? Não vais dizer mais nada?

Internet diz:
tipo O k? tive okupada, foi xó iXo

R. Casanova diz:
Esquece.

Internet diz:
ok

R. Casanova diz:
Mas está tudo bem contigo? Pareces-me distante...

Internet diz:
não komeces kom ixo, tipo larga-me

R. Casanova diz:
Porque é que me tratas sempre assim? Alguma vez te fiz mal?

Internet diz:
xATo. por ixo é k dps ngm te atUra.

Pastoral Portuguesa diz:
Dá-me atenção.

Internet diz:
olá

R. Casanova diz:
Espera aí um bocadinho.

Pastoral Portuguesa diz:
Porque é que não me dás atenção?

R. Casanova diz:
Eu dou, espera.

Internet diz:
voxês tão é bem 1 pó outro, LoLoL

Pastoral Portuguesa diz:
Não tens dito nada; ando preocupada.

R. Casanova diz:
Eu sei; já falamos.

Internet diz:
pontos-e-vírgulas... LMFAO

Televisão diz:
Internet, kadê Kasanova?

Internet diz:
td fx TV?

Televisão diz:
kadê Kasanova? tenho futebol

Pastoral Portuguesa diz:
Dá-me atenção.

R. Casanova diz:
Vocês as duas importam-se de esperar um bocado?

R. Casanova diz:
Internet?

Internet diz:
k foi?

R. Casanova diz:
Só queria confirmar que está tudo bem entre nós, que não vais voltar a desaparecer.

Internet diz:
eu faxo o k kero, larga-me

R. Casanova diz:
Não consigo perceber porque é que me tratas assim.

Televisão diz:
tenho futebol tenho sporting.

Pastoral Portuguesa diz:
Eu amo-te tanto. Fala comigo.

R. Casanova diz:
Internet?

R. Casanova diz:
Internet?

R. Casanova diz:
Internet?

sexta-feira, março 28, 2008

"Lume e as horas dão-se sempre"


Este post é muito bom. (Alimentei, ao longo de toda a minha adolescência, uma fantasia pessoal sobre a Kim Deal; envolvia matrimónio e tudo. Independentemente desse facto, este post é mesmo muito bom.

Internet Anagram Server 9,222 - Eu 0

Fiquei esta semana a saber - através do criminosamente sub-valorizado diário desportivo O Jogo - que um computador russo escreveu em 72 horas um romance intitulado O Amor Verdadeiro. Fiquei esta semana a saber - através da criminosamente sub-valorizada imperial da Cinemateca -que é possível fazer anagramas sem papel, sem lápis, e sem mim.
Numa raquítica fracção de segundos, o programa em questão devolveu mais de cinquenta mil anagramas de "Pastoral Portuguesa", o que não deixa de ser impressionante, mesmo que nenhum dos meus dicionários reconheça as palavras "rstulo" e "pslo".
Não estão convencidos? Isto é fácil de testar. Imaginemos que há por aí um novo blogue colectivo chamado Sinusite Crónica, formado por seis pessoas e alojado na plataforma Sapo. Imaginemos agora que introduzimos os respectivos caracteres no Internet Anagram Server, tendo o cuidado de retirar o diacrítico ao 'o', porque o Internet Anagram Server é um beauty snob que não reconhece caracteres cicatrizados. Depois de imaginarmos isto tudo, imaginemos também que estes prodígios de sensatez ortográfica são apenas alguns dos nove mil duzentos e vinte e dois anagramas para Sinusite Crónica devolvidos pelo Internet Anagram Server : Estica Unicsrnio, Insinuar Esticco, Ca Sonsice Intuir, Ascensco Tinir Ui, Crustaceo Nini Si. Imaginemos por fim que eu estive ali quase meia-hora a brincar com lápis e papel, e que o melhor que consegui foi "Incitar seis no cu".
Imaginemos a minha desilusão comigo próprio.

domingo, março 23, 2008

Jeremy Bentham, Miguel Veloso, e este implemento esférico que aqui temos


Ao minuto 60 da final da Taça da Liga deu-se um incidente curiosíssimo perto de uma das quinas da área do Vitória, envolvendo Abel, Izmailov, Miguel Veloso, e uma bola de futebol. Durou cerca de vinte segundos, e foi certamente contabilizado pelos estatísticos de serviço como “posse de bola” do Sporting. Isto é uma tremenda falsificação da realidade; para aquele lance ser considerado “posse de bola” do Sporting (e não, por hipótese, “posse de Sporting” pela bola) teria de haver uma redefinição radical do que se entende por “posse de bola”. É difícil reproduzir com precisão o que aconteceu sem o auxílio de diagramas, bonifrates, ou um quadro de Jackson Pollock, mas vou fazer o meu melhor, começando por declarar nos termos mais enfáticos que, dos quatro intervenientes na jogada, a bola e Miguel Veloso eram claramente os únicos com uma ideia mais ou menos definida sobre o que estava a acontecer.
O que aconteceu foi isto: no seguimento de um típico lance de ataque do Sporting - que esta época consiste em tentar transportar a bola até ao último terço do campo na vaga esperança de que algo misterioso e inefável aconteça - o Abel encontrou-se subitamente com a dita bola ao alcance do seu pé direito. Um imponderável destes exige uma resposta firme, e Abel tratou de afastar o problema dali o mais rapidamente possível, para se poder concentrar no seu trabalho: correr de um lado para o outro com um ar determinado, se possível obrigando um adversário a correr ao lado dele. As surpresas começaram aqui. A bola que Abel afastou com tanta diligência violou pelo menos sete princípios geométricos e chegou ao pé direito de Izmailov, talvez o imigrante de Leste com menos qualificações a residir em território nacional. Compreensivelmente alarmado, Izmailov correu na direcção da linha de meio-campo, tentando devolver algum equilíbrio euclidiano a uma situação insustentável. Quando viu que o caminho estava barrado, e que não tinha outra hipótese senão tentar fintar um adversário, entrou em pânico, rodopiou, fechou os olhos, e afugentou a bola na direcção geral da linha de fundo. Ora acontece que, neste breve interlúdio eslavo, o Abel tinha continuado a correr na mesma direcção, e a bola, dinamitando séculos de progresso na Física desde Newton, chegou-lhe outra vez aos pés. Sem tempo para raciocinar - a única forma de retirar algo positivo da sua pessoa durante um jogo é confiar apenas nas respostas da sua memória muscular - o Abel estendeu instintivamente a perna; a bola ricocheteou na sua chuteira e atravessou o que apenas posso descrever como seis pernas pertencentes a atletas do Vitória de Setúbal para chegar, inacreditavelmente sã e salva, às imediações de Miguel Veloso.
Miguel Veloso, não vale a pena dourar a pílula, está num horrendo momento de forma, e fez um péssimo jogo. (Passou de um jogador inquestionavelmente superior ao seu pai para um ao mesmo nível do meu pai). Mas continua a ser um dos poucos membros do plantel do Sporting (juntamente com o Moutinho, coitado) com a capacidade para assimilar a ideia de que, em qualquer situação de jogo, existem, no mínimo, duas ou três maneiras de prosseguir a jogada. E talvez o único (além do Moutinho, coitado) que não se importa de fazer pausas de micro-segundos para emitir desapaixonados juízos de valor sobre os trolhas que o rodeiam. Miguel Veloso levantou a cabeça, viu Abel e Izmailov teoricamente “desmarcados” e, leitor atento de Bentham que é, tomou a opção utilitarista (as consequências do acto sendo mais importantes que a sua natureza intrínseca, etc.): endossou-a ao adversário que considerou menos capaz de iniciar um contra-ataque perigoso (creio que foi o Auri, talvez o único jogador do Vitória que não seria titular de caras neste Sporting). Ao minuto 60 da final da Taça da Liga, em pleno lance de ataque do Sporting, a melhor hipótese de maximizar a felicidade geral da sua equipa era ceder a bola ao adversário menos talentoso. O passe Benthamista de Miguel Veloso arrancou-me o único aplauso da noite, e provou de uma vez por todas três verdades que deviam ser óbvias para todos os Sportinguistas para aí desde Setembro:
1. o Miguel Veloso é um bom jogador e um excelente filósofo;
2. o Universo é um lugar desolado;
3. um dia, mais tarde ou mais cedo, vamos todos morrer.

Não queria deixar de endereçar os meus sinceros parabéns ao Vitória Futebol Clube: são da segunda melhor margem do Tejo, praticam o segundo melhor futebol do país, e venceram com toda a justiça o segundo troféu mais inútil da temporada.

Páscoa Revolucionária em Curso

O “Épico Bíblico” é um gosto minoritário, mas permanente. Adquirido na infância, agarra-nos para a vida inteira; só os felizardos conseguem uma desintoxicação eficaz em adultos. Os junkies vão alimentando a obsessão e acabam por abandonar qualquer padrão qualitativo; nas quadras festivas, o menor vestígio televisivo de túnicas ou sandálias provoca salivação imediata.
Na posse desta informação, gerações de produtores dedicaram as suas carreiras a testar os limites do bom senso, e a tentar conceber um produto rigorosamente intragável. Os Dez Mandamentos, mini-série que a TVI transmitiu na Sexta-feira Santa, foi um esforço apreciável nesse sentido. Trabalhando sob a ilustre sombra de DeMille, os responsáveis não tiveram outro remédio senão descer a fasquia abaixo da crosta terrestre. O mercado foi vasculhado à procura dos piores actores disponíveis; estivadores desempregados encarregaram-se dos efeitos especiais; chimpanzés em cativeiro foram fechados numa cave com máquinas de escrever até produzirem um guião consensualmente lamentável. Nada foi deixado ao acaso. Ainda assim, é com prazer que anuncio o fracasso do projecto: cinco horas de sublime incompetência não foram suficientes para me fazer desligar o aparelho e abrir um livro. Ainda não foi desta que a televisão ganhou uma batalha comigo; eles são fracos, eu sou muito mais fraco.
Os rudimentos do enredo são estabelecidos logo de início, para benefício dos neófitos. O Faraó do Egipto e um grupo de trabalhadores hebraicos não-assalariados estão envolvidos numa feroz disputa laboral sobre a posse dos meios de produção. Não há solução à vista. O elenco é submetido a uma cuidadosa estenografia visual, para que ninguém se perca nas profundidades da trama: o Faraó e os seus sacerdotes parecem adeptos de futebol ingleses com os olhos besuntados de kohl; a princesa e as suas cortesãs são todas clones de Eva Longoria; as crianças egípcias foram repescadas de um teledisco perdido dos Soft Cell; os escravos hebraicos têm todo o aspecto de figurantes judeus a receber o salário mínimo; e o Moisés menos semita da história dos épicos bíblicos parece um oficial das SS depois de um dia cansativo no escritório. Devidamente identificados, os intervenientes lançam-se em complexas rondas negociais. Torna-se rapidamente aparente que Moisés não está nada contente com a situação. O seu semblante atormentado traduz empatia com a dor dos trabalhadores. Desencantado com o sisudo conforto do palácio, inicia uma escalada revolucionária, que culmina num gesto irreflectido, seguido de fuga e exílio.
A travessia do deserto é dura: Moisés perde o manto real, as peúgas reais, e o cromado teutónico. Quando finalmente chega ao oásis já ostenta a barba cuidadosamente aparada indicativa de semanas de privação; e já é tão incontornavelmente judeu que até se dá ao luxo de gracejar (o único gracejo voluntário ao longo de 360 minutos). A sua rotina de “Homem-atormentado-com-passado-misterioso” é um grande sucesso no oásis: meia-hora depois de ter chegado, já o patriarca local lhe está a oferecer a filha mais velha. Moisés casa-se, e pasta umas ovelhas, atormentadamente. Mas continua a não estar nada contente com a situação e, quando chega a noite, lança olhares misteriosos à montanha.
“Não subas à montanha! Está amaldiçoada!”, diz-lhe a esposa. Na sequência seguinte, evidentemente, Moisés sobe à montanha e entabula um frutuoso diálogo com um Efeito Especial. O Efeito Especial sussurra-lhe coisas, com rouquidão de linha erótica: “Pega no teu cajado, Moisés. Pega-lhe.” Moisés pega no cajado, atormentadamente.
É estabelecido que o Efeito Especial tem toda uma série de ideias sobre a disputa laboral no Egípcio, e que Moisés foi escolhido como seu porta-voz. Regressado ao palácio, Moisés inicia as negociações com exigências que fariam corar os mais arrojados líderes da CGTP. Implementando a estratégia delineada pelo Efeito Especial, promete represálias apocalípticas: em vez de protestos e paralisações gerais, o patronato pode esperar olhares atormentados e fenómenos atmosféricos. O Faraó, envergando mais quilos de maquilhagem do que todas as Evas Longorias do palácio, limita-se a abanar a cabeça: “Que Efeito Especial é esse de que falas? Onde é que ele está?”. Moisés fita-o em silêncio, atormentadamente.
As negociações prosseguem, sem grandes cedências de parte a parte. “Queremos ouro e prata” exige o representante Moisés. “Queremos cabras”, “queremos leite”, “queremos chicotadas indexadas à inflacção”. Entretanto, a água transforma-se em sangria, há insectos por todos os lados, e um fogo-de-artifício corre espectacularmente mal; são as pragas do Efeito Especial, mas podia perfeitamente ser a descrição de uma viagem de finalistas a Loretta del Mar. Quando o Faraó dá finalmente o seu consentimento à emancipação do problemático bando de proletários, o espectador já não consegue disfarçar uma certa simpatia com o patronato. A velocidade com que a plebe segue Moisés a caminho do deserto deixa a dúvida no ar: será que se pisgaram com a cutelaria?
A viagem para a Terra Prometida é longa e árdua, e os proletários não param de azucrinar um Moisés cada vez mais impaciente com perguntinhas infantis (“Where are you leading us?”, “How will we survive?”, “Are we there yet? Are we there yet?”). A intervalos regulares, para manter a ordem entre a ralé, Moisés é forçado a pegar no seu cajado, atormentadamente, e a transformar petróleo em água.
Entretanto, no Egipto, o patronato dá pela falta do serviço de jantar e lança-se numa louca perseguição pelo deserto, culminando numa insólita competição de mergulho no Mar dos Papiros (os proletários ganham por voto unânime do júri).
Os anos passam, a Terra Prometida não se materializa, e Moisés tem cada vez mais dificuldades em manter o proletariado sob controlo: à mínima distracção sua, desatam a idolatrar gado caprino. O que fazer? Depois de uma longa ausência, o Efeito Especial regressa, envergando a sua sensual voz de gripe: “Do you remember me, Moses? Do you recognize my voice? Can you guess what I'm wearing?” Uma última reunião de trabalho é convocada, mais uma vez no topo da montanha. O Efeito Especial substitui o antigo código de trabalho por dez resplandecentes alíneas, novinhas em folha. Lá em baixo, em ambiente festivo, os proletários desobedecem alegremente a todas elas. O Efeito Especial ordena a punição dos infractores através de um processo disciplinar conhecido como “chacina”. Os anos passam. Moisés envelhece, atormentadamente. Nos seus últimos dias, é-lhe concedida a oportunidade de vislumbrar a Terra Prometida: uns patéticos hectares de terra, repletos de vegetação rasteira e membros do Hezbollah. Rolam os créditos.
Já só faltam nove meses para o Natal.

Próximos ciclos de cinema ali na Barata Salgueiro

«Ninfetas e tusa metafísica: de Sue Lyon a Natalie Portman.»

«Gajas: o que é que elas querem, e porque é que não o dizem logo? Uma retrospectiva freudiana.»

«'Este filme não é sobre mim': um ciclo de cinema faux-confessional.»

«'Este filme não é sobre ti': um ciclo de cinema com faux-dedicatória (para C., M. e R.).»

«Bob Dylan: esse desconhecido.»

Tiveram saudades minhas?

Eu tive tantas saudades vossas.

domingo, março 16, 2008

As Quatro Nobres Verdades (em triplicado, e com carimbo, e entregues no gabinete do 2º andar, depois de tirar senha)

«The China Buddhist Association will issue living-Buddha permits. When the reincarnated living Buddha has been installed, the management at his monastery shall submit a training plan to the local Buddhist Association, which shall report to the provincial people's government for approval. Living Buddhas that have historically been recognized by drawing lots from the golden urn shall have their reincarnated soul-children recognized by drawing lots from the golden urn. Requests not to use the golden urn shall be reported by the provincial people's government to the State Administration of Religious Affairs for approval.
Once a reincarnated living Buddha soul-child has been recognized, it shall be reported to the provincial people's government for approval; those with a great impact shall be reported to the State Administration of Religious Affairs for approval; those with a particularly great impact shall be reported to the State Council for Approval. When there is debate over the size of a living Buddha's impact, the China Buddhist Association shall officiate.
Reincarnated living Buddhas may not reestablish feudal privileges that have already been abolished.
Applicants to be reincarnated living Buddhas may not be reincarnated if the provincial people's government does not allow reincarnations.
»

(De uma ordem emitida pelo Gabinete de Assuntos Religiosos do governo chinês, e traduzida na última Harper's. Provavelmente o mais fascinante exemplo de burocratização do misticismo que tive a oportunidade de ler neste meu presente ciclo kármico.)

A PT anda a brincar com a vida das pessoas

Isto pode parecer um post sobre este post, mas na verdade é um post sobre o efeito extraordinário que a falta de internet tem sobre a memória. Uma das primeiras coisas que li do Mexia - e isto deve ter sido para aí em 1993 - foi precisamente um contarelo: chamava-se «There is a Light That Never Goes Out». Havia alguém que pedia trocos numa lavandaria; aludia-se a um baile de finalistas; e duas personagens, salvo erro, rodopiavam mesmo nos calcanhares.
Uma semana e um dia sem internet em casa. Além de coisas que li no DN Jovem há quinze anos, também dei comigo a recordar nomes completos de jogadores do Sporting da década de noventa. Lembrei-me finalmente onde é que escondi um baralho de cartas eróticas que o meu primo Jorge me deu em 1995 (tem estado debaixo da caixa do Monopólio estes anos todos). Hoje de manhã limpei o exaustor duas vezes, construí um castelo com cotonetes e cola UHU, e li a Harper's de uma ponta à outra.

terça-feira, março 11, 2008

Já ando a fazer riscos na parede

Quarto dia seguido sem internet em casa. Tenho dado voltas à cabeça a tentar recordar em que é que consistia a minha rotina diária antes da internet me chegar a casa; recuperei umas nebulosas memórias de jornais, matraquilhos e psicanálise, mas pouco mais. A única coisa que sei é que já memorizei o teletexto da RTP e isso não pode ser bom para ninguém.

Quando for grande quero ser Ben Marcus

De vez em quando (de três em três anos, se tivermos sorte) descobre-se um escritor que nos proporciona a oportunidade para sermos histéricos e perdermos todo e qualquer sentido das proporções. Ben Marcus - e vai ser esta a minha posição oficial durante os próximos tempos - representa o maior salto evolutivo da Humanidade desde a contratação do polegar oponível.

domingo, março 09, 2008

Telefoneless

Desde a manhã de ontem que a internet não acontece em minha casa. Após um colérico pedido de satisfações às pessoas responsáveis pela internet que me costuma acontecer em casa, fui informado de que o telefone também não está a acontecer em minha casa, e que acontecer telefone é um pré-requisito para acontecer internet. Perguntei ao meu interlocutor se ele não achava um pouco estranho que o telefone se recuse a acontecer na minha casa, uma vez que o meu dinheiro continua a acontecer mensalmente no sítio do telefone. O problema, afinal, era outro. Aparentemente, o sítio de Fernão Ferro onde o telefone recebe as suas instruções para acontecer na minha casa foi vandalizado na madrugada de Sábado por indivíduos que não gostam que o telefone e a internet aconteçam nas casas das pessoas. Estes indivíduos são conhecidos como Luditas (ou, em inglês, "unwashed acoustic hippie scum"). Espera-se que a situação seja regularizada amanhã.
Entretanto vim até ao Rio Sul do Fogueteiro, onde, para meu espanto, há zonas em que a internet acontece sem telefone. Perguntei a um indivíduo com aquele ar extraordinariamente bem-informado conferido pela combinação "óculos/barba/t-shirt dos Kraftwerk" qual era a explicação para este milagre, e ele disse-me que há sítios onde a internet acontece no ar. «No ar? Mas no ar normal?» «Não, no ar normal não funciona. Tem de ser um ar tratado. Mas se o ar for bem tratado, a internet acontece independentemente do acontecimento do telefone».
Não costumo levar este tipo de balela mística a sério, mas o indivíduo disse a verdade: este é o primeiro post do Pastoral Portuguesa escrito no meio do ar. Gostava de ter aproveitado melhor a ocasião, mas isto sem o sofá não é a mesma coisa.

quarta-feira, março 05, 2008

As coisas: como elas são e quando acontecem

Os blogues do Tiago Cavaco e do Alexandre Andrade comemoraram aniversários, o Real Madrid foi eliminado da Liga dos Campeões, o preço da maionese aumentou, o Andrew Sullivan está a hiperventilar por causa dos Clinton, e o Vasco Barreto acabou com o Memória Inventada.
São coisas que acontecem todos os anos - umas boas, outras não - mas uma pessoa nunca se habitua, nunca está preparada.
Não ando a dormir nada, espero que não se note muito.

segunda-feira, março 03, 2008

Blogspoticamente vosso

«The poet Glyn Maxwell likes to conduct the following test in his writing classes, one apparently used by Auden. He gives them Philip Larkin's poem 'The Whitsun Weddings', with certain words blacked out. He tells them what kind of words - nouns, verbs, adjectives - have been omitted, and how they complete the metre of the line. The aspiring poets must try to fill the blanks. Larkin is travelling by train from the north of England to London, and as he watches from the window, he records passing sights. One of these is a hothouse, which he renders: 'A hothouse flashed uniquely.' Maxwell excises 'uniquely', telling his students that a trisyllabic adverb is missing. Not once has a student supplied 'uniquely'..»

- James Wood, How Fiction Works

(Não sei o que é que será mais surpreendente nesta história: o facto de haver jovens aspirantes a poetas que não conheçam o 'The Whitsun Weddings', ou o facto de autorizarem um poeta a dar aulas. Há alguém que não goste de advérbios de modo? Infelizmente há. Há uma certa escola de composição literária que tem horror ao advérbio de modo. É composta, maioritariamente, pelas mesmas pessoas que têm horror ao ponto-e-vírgula, ao Sporting, à civilização, aos animaizinhos fofos do bosque. São pessoas muito más. A verdade é que não há nada de errado com advérbios de modo, desde que sejam bem utilizados. Frank Kermode, um homem que podia facilmente ser meu amigo se me conhecesse, explicou isto muito bem. neste texto sobre Martin Amis. Qualquer pessoa que dê pontapézinhos em Don DeLillo podia facilmente ser meu amigo:

«
An especially favoured site of cliché infection is the adverb. When Don DeLillo has a character say something ‘quietly’ you know he’s drawing on a long tradition of ‘said quietly’ as a conventional announcement that the remark it follows should be taken as particularly impressive. Ordinary reviewers, and even this extraordinary reviewer, cannot manage without the likes of ‘genuinely pleased’ or ‘brilliantly realised’, ‘brilliantly told’. These are rare instances of Amis himself catching a dose of the disease, and, like much of his rather less brilliant writing, they tend to occur in essays on the authors he most respects, in this case V.S. Naipaul.
Normally he protects his health and virtue by ranging as far as possible from adverbial conventionality. I made a list of recherché adverbs, of which this is a selection: ‘beamingly upbeat’, ‘lurchingly written’, ‘deeply unshocked’, ‘embarrassingly good’, ‘tremendously unrelaxed’, ‘fruitfully uneasy’ (Pritchett), ‘pitifully denuded’ (admittedly apt, for a Leavisian bookshelf), ‘janglingly discursive’, ‘remorselessly indulgent’, ‘scarily illusionless’, ‘hugely charmless’, ‘promiscuously absorbed’, ‘customarily rotted’, ‘chortlingly habituate’, ‘finessingly cruel’, ‘implacably talented’, ‘bicker halitotically’.
The great thing about these expressions is that the author can be fairly sure they will never be used again, much less become new enemies of clear thought and virtue.
»

Bom, a votação ali de baixo foi adulterada por pessoas ligadas ao Sapo, numa manifestação de despudor anti-democrático que me deixou boquiaberto. O Sapo não quis deixar o povo decidir. Eu registo. O número de pessoas que suspira quando pensa neste blogue é também consideravelmente menor do que eu julgava. Eu registo. O novo livro de James Wood já está disponível na FNAC do Chiado (em capa mole, não percebo), por dezasseis euros, permitindo que a população lisboeta se torne finalmente tão chata quanto eu. Aquilo era penalty. Aquilo nem sequer era canto. Estou muito desencantado com toda uma série de coisas.)

sábado, março 01, 2008

Depois de muita pressão, oriunda de vários quadrantes:

O Pastoral Portuguesa deve mudar-se para o Sapo, como todos os outros Judas?
Nunca! Seria o maior desgosto da minha vida, sinceramente, senhor Casanova
Nao me incomoda, mas tambem nao vejo pressa. Pode decidir la para 2009, por exemplo
Eu acho que sim, que devia mudar (mas no meu intimo penso exactamente o oposto)
Desde que o possa continuar a ler todos os dias, nada mais me interessa (suspiro)
Nao tenho o menor interesse nesta questao ou neste blogue (acha? estou a brincar consigo, homem!)
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