sexta-feira, maio 30, 2008

Divine Command

What philosophy do you follow? (v1.03)

You scored as a person who is always right.
Trailblazing a glorious path of perfection across our tiny, inadequate Universe, you have maintained a strict adherence to the philosophy of always being right. Is there anything we can tell you that you do not already know? The notion is ridiculous. Take a look in the mirror: you have it all figured out. You have cracked the wise code. And you're taking this silly little test? You should be testing us! Anyway, to declare the obvious, you believe people should go on doing stuff in accordance with the stuff that was done by the people who came before, therefore allowing the people who come after to do a little stuff of their own without fucking the whole thing up too much. And how right you are in believing this! And handsome too. Do you even shave? Because, clearly, you don't need to, you gorgeous hunk of wisdom.

Being always right ----------- 100%

sábado, maio 24, 2008

«Por exemplo: despedimentos. Como é que é?«

O debate entre os candidatos à liderança do PSD no Jornal da Noite da TVI - competentemente moderado por Pedro Santana Lopes - foi útil em pelo menos um aspecto: permitiu que todos os participantes apresentassem uma versão reduzida mas não-adulterada da sua essência. Manuela Ferreira Leite, maquilhada pela mesma equipa de profissionais que transformou Cate Blanchett em Bob Dylan, falou menos e fez mais sentido, recorrendo ao seu expediente retórico habitual: declarar um domínio insuficiente sobre este ou aquele dossier, para logo na frase seguinte, insinuar toda uma galáxia de conhecimentos apreendidos sobre o mesmo dossier; tendo lido cento e quarenta mil páginas de relatórios sobre o TGV, a dra. Ferreira Leite está agora a apenas sessenta mil páginas de formar uma opinião sobre o assunto. Passos "the Voice" Coelho, que passou ao lado de uma grande carreira a passar trip-hop e música ambiente nas noites da RFM, teve direito a mais minutos do que qualquer outro candidato. Não retive uma única palavra do que disse, mas concordei com tudo, embora me pareça que os seus assessores devam insistir neste ponto no futuro: sempre que Passos Coelho falar, deve ser acompanhado por uma secção de cordas, e imagens de arquivo de florestas, nevoeiro e quedas de água. Patinha Antão mostrou notável contenção, resistindo heroicamente à tentação de chamar idiotas a todos os presentes. Gore Vidal costumava dizer que não havia problema no Mundo que não pudesse ser resolvido se lhe pedissem a opinião. Patinha parece alimentar a mesma convicção, mas com uma diferença crucial: não nos basta pedir a sua opinião - devemos implorá-la, espojados no chão, enquanto gememos e esfregamos gravilha no cabelo, até que ele aceda em resmungar alguma luz sobre o problema. Tenho um tio que se comporta exactamente como Patinha Antão e ninguém na família fala com ele. Vive hoje na Damaia, protegido por rotundas inegociáveis, e a única pessoa que o atura é uma mulher-a-dias da Eslováquia.
Tendo em conta a curta mas sólida tradição dos militantes do PSD em escolherem o candidato transtornantemente menos qualificado, um facto parece-me agora incontornável: o principal adversário do engenheiro Sócrates nas próximas eleições vai ser Manuela Moura Guedes.

Your fountain pen has crashed

Na sua colecção de pequenas biografias de escritores, Javier Marías fala na irascibilidade eslava de Conrad, ilustrada com este ternurento exemplo: quando deixava cair ao chão a caneta com que escrevia, Conrad «dedicava vários minutos a tamborilar exasperado na mesa, à maneira de lamentação pelo acidente».
Só podemos especular sobre o desenvolvimento da carreira literária de Conrad caso tivesse tido o privilégio de se confrontar diariamente com o Windows Vista.

quarta-feira, maio 21, 2008

O 18 Brumário de Rodrigo Tiuí

Três dias depois da entrega do mais importante troféu do calendário desportivo nacional - que soterrou em prestígio e glória o seu justíssimo vencedor - e numa altura em que a botija de oxigénio do CAA já foi certamente reparada por um profissional, e o Bruno já mudou de operador de telemóvel*, será de bom tom prestar aqui um pequeno tributo ao conceito de narrativa no futebol, um princípio metafísico que tem regulado a actividade desde os primeiros pontapés de saída e que é parcialmente responsável pela sanidade mental daqueles que, como eu, atravessaram a puberdade atrelados à instituição psicologicamente menos recomendável da história da modalidade.
(Convém igualmente recordar os animadores das workshops anuais de reverberação saudosista que costumam entrar em funcionamento sempre que há jogos ao Domingo à tarde ("ah, o futebol em família") que a parafernália nostálgica a que aludem (o farnel, a almofada desdobrável, o transístor do papá) teve e tem o seu reflexo negro (o psiquiatra, o lenço de papel, a embalagem de Lexotam) naqueles para quem um jogo do seu clube, mais do que qualquer impulso recreativo, sempre representou um sólido motivo para ponderar a eutanásia. Fim de parênteses.)
A destreza no desenredamento da narrativa tem sido o mais fiável mecanismo de sobrevivência do adepto palmaresisticamente desafiado, mas o seu potencial oracular está acessível a todos. Reduzido ao essencial, o conceito pode ser formulado da seguinte maneira: «Em futebol, qualquer detalhe que contribua para um melhor arco dramático, vai geralmente ocorrer». Apoiado neste princípio, qualquer observador atento podia prever, por exemplo, que, depois do fiasco metabólico na final do Mundial de '98, a grande figura do Mundial de '02 seria Ronaldo; ou que, por mais apagada que fosse a sua época, era inevitável que Derlei marcasse um golo decisivo ao Benfica.
A partir do momento em que o Futebol Clube do Porto espoliou o Vitória Futebol Clube da hipótese de conquistar dois troféus na mesma época, dois factos tornaram-se instantaneamente evidentes: o Sporting iria ganhar a final, e a grande figura do jogo seria um avançado brasileiro destinado a acabar a carreira no Alpalhoense.
Havia ainda, contudo, muito trabalho pela frente. Perder, na mesma temporada, um terceiro jogo para o Sporting sem recorrer à falta de comparência ou à utilização de Stepanov implica uma operação só ao alcance da melhor organização desportiva nacional dos últimos 25 anos.
Apostando na quase sempre fiável táctica da inferioridade numérica, Jesualdo utilizou de início João Paulo e Mariano (este último, mostrando mais uma vez não se ter adaptado ao espírito do balneário, teve o descaramento de jogar relativamente bem); Lisandro foi submetido a uma semana de visionamento intensivo de cassetes de Nuno Gomes para tentar assimilar o conceito de que a bola não tem de ir sempre para dentro da baliza; Paulo Assunção, alimentado por nutricionistas americanos desde Abril, foi impedido de correr os habituais duzentos quilómetros por partida; e a criatura sobre-humana que é Lucho González recebeu a missão mais árdua de todas: com instruções rigorosas para imitar um jogador mediano, foi encarregue de proporcionar a Miguel Veloso a clareira de segurança de 15 metros quadrados necessária para que os trinta e sete olheiros ingleses na bancada pudessem escrevinhar furiosos elogios nos seus caderninhos.
O resto foi deixado aos pés de Tiuí, que encarnou com inusitada competência o princípio de que a mediocridade é um dos mais frequentes motores da História, fechando a narrativa com um lance que não conseguirá repetir até ao final da sua carreira, em 2019, nos distritais de Portalegre.
Duas notas finais para os dois heróis mudos do fim-de-semana: Grimi provou mais uma vez que é o homem certo no clube certo, e que merece o dinheiro que se pede por ele. Apesar da constante hemorragia de bolas para os adversários (os seus cruzamentos pareciam ter um pré-acordo com o champô de Bruno Alves), Grimi é o exemplo clássico do defesa cuja primeira prioridade não é o seu posicionamento táctico, mas sim a estrutura anatómica do oponente. É por causa dos antepassados de Leandro Grimi que os maqueiros são hoje uma classe profissional remunerada, mas é indiscutível que todos os clubes precisam de um lateral assim, particularmente se contam na faixa oposta com Abel, um jogador incapaz de aleijar alguém voluntariamente - todas as faltas que comete são acidentais - e cuja capacidade para intimidar está limitada aos seus companheiros de equipa e a mim próprio, que atravesso a rua sempre que o vejo na televisão.
O outro foi Derlei, que monitorizou todo o processo de celebração, guiando os caloiros nas intrincadas movimentações (é assim que se grita, é assim que se ergue os braços) necessárias para festejar um título. Espero que renove até 2012, e que o Tiuí seja emprestado ao Vizela. Para "rodar", para "rodar".

(* Não acho bem que se ande por aí a "raiar o insulto". Se o Bruno me enviar o seu número de telemóvel, comprometo-me a fazer um trabalho sério. Tenho bastante tempo livre, e o meu plano TMN inclui 250 SMSs gratuitos por mês: julgo reunir as condições necessárias para me aproximar mais do insulto do que os seus displicentes amigos.)

quarta-feira, maio 14, 2008

One pill makes you larger

Ontem, num comboio da Fertagus, um homem sentado ao meu lado foi aproximadamente vinte minutos a olhar para um puzzle sudoku recortado de um jornal. Só quase no fim da viagem me apercebi que ele estava a resolvê-lo - preenchendo os quadradinhos mentalmente, sem o auxílio de lápis. Um feito que não é assim tão extraordinário, sobretudo se comparado com o dos que jogam xadrês sem auxílio de tabuleiro (como Najdorf), futebol sem auxílio de bola (como a selecção Sueca no Mundial de 1994) ou política sem o auxílio de hipóteses (como Pedro Santana Lopes), mas ainda assim digno de realce. Eu próprio me tenho fartado de escrever aqui nas últimas semanas sem o auxílio de mim próprio; espero que tenham conseguido ler tudo sem o auxílio de letras.
Tudo isto para dizer que gostei muito deste post do Julinho:

«Enfim, claro que desde que rererererevi o Hatari! na televisão no início do mês (e que, claro, ao contrário da merda dos MIB ou do Ishtar ou do Evita, não vai repetir, pelo menos este mês, para poder finalmente gravar, embora nunca veja filmes gravados, mas às vezes gosto de saber que estão lá), tenho andado a ouvir as pessoas na rua a tratarem-me casualmente por bwana. Confesso que me pareceu inusitado de início, mas a verdade é que quando lhes digo para continuarem a fazer a sua vida como se o meu extraordinário poder de atracção carismática sobre eles não existisse, eles cumprem-no escrupulosamente. Estranhamente, quando me faço à população nativa é que a coisa não corre muito bem. Talvez porque não estava no guião, talvez porque não fosse uma fantasia colonial. É o problema de ficarmos cativos, por razões que não nos interessa explorar, em filmes que nos acompanham seguros desde o tempo em que as tardes de fim-de-semana da RTP1 tinham cinema clássico: não há margem de improvisação para um destino cujo fado é o de não se cumprir.»

terça-feira, maio 06, 2008

Rigor, transparência, honestidade

Tendo sido alertado pela minha infatigável rede de olheiros para o programa "Sexta à Noite" com José Carlos Malato, tratei de cancelar a minha reunião semanal do «Margem Sul Friday Night Mayonnaise & Bingo Happy-Fun Social Club» e de me instalar no sofá com um pacote de maltesers e um telecomando sem pilhas, preparado para olhar para o abismo enquanto o abismo olhava para mim. A troca de olhares não se concretizou nos temos esperados (o abismo olhou sobretudo para si próprio), mas quero aqui distanciar-me da corrente de opinião que defende que o "Sexta à Noite" é o maior amontoado de esterco actualmente em exibição fora da Tate Gallery. Não é.
Começando pelo apresentador, parece-me incontroverso afirmar que José Carlos Malato tem o cargo mais difícil da televisão portuguesa, e merece uma enxurrada de encómios. O conceito do programa, se é que não me escapou nada, é convidar figuras públicas e, através de toda uma panóplia de meios técnicos e retóricos, purgar as suas aparições de qualquer resíduo de interesse. Para este efeito, Malato recorre não apenas ao tried and tested (a súbita prestidigitação de fotografias antigas dos convidados, artifício que reduziu Miguel Portas a uma balbuciante massa de desespero, implorando sucessivos copos de água à produção), mas também ao estonteante improviso. O seu trabalho consiste em detectar o menor assomo de relevância no horizonte, preparar uma emboscada, e afundá-lo imediatamente no inócuo; não há cinco pessoas no país inteiro capazes de fazer isto com tamanho profissionalismo. A dada altura, um Miguel Portas que tinha visivelmente subestimado o talento do seu opositor, cometeu o erro de tentar dizer algo com interesse. Malato interrompeu-lhe a frase a meio com a eloquência dos predestinados, perguntando-lhe se havia alguma verdade "naquela história de que você não gostava de camisolas com picos". Atordoado, mas mantendo ainda uma digna lucidez, Portas lá conseguiu responder que sim, que a mãe, na sua infância, tinha o hábito de lhe vestir "camisolas que picavam", mas que hoje em dia era ele que comprava o seu próprio vestuário, e que esse problema, felizmente, já não se colocava. Não foi portanto em vão que se fez Abril.
A segunda convidada, Clara Ferreira Alves, não precisou de tantos cuidados. Revelando maior adaptação ao espírito do programa, tratou de evitar ela própria qualquer declaração saliente, ou mesmo não-soporífera. Precisou apenas de alguns minutos para descobrir que "o 11 de Setembro mudou a nossa visão do mundo", provocando na audiência um frisson de euforia certamente semelhante ao que percorreu a população chinesa no século IX, quando os seus alquimistas apareceram com uma substância chamada pólvora. Pouco depois, Clara assegurou todos os presentes que não só já tinha ido a Marrocos, como também "a muitos sítios bem piores do que Marrocos. A minha experiência de jornalista é precisamente a de estar em sítios onde há sarilhos", uma alusão um pouco óbvia aos anos que passou na redacção do Expresso. Que me lembre, não houve fotos de bebé de Clara Ferreira Alves, a não ser que tenham sido mostradas durante uma das minhas perdas de consciência.
Tendo recuperado os sentidos 24 horas depois, já não fui a tempo de participar na minha «Margem Sul Weekly Fantabulous Anagram Orgy», mas ainda consegui ver grande parte de um documentário chamado "À Procura da Revolução", ao longo do qual o realizador Rodrigo Vasquez percorre a Bolívia à procura do espírito de Che Guevara (Spoiler Alert: não o encontra).
O que encontra em abundância é miséria, corrupção, nepotismo e Evo Morales. Este pode ser visto, antes da subida ao poder, liderando uma marcha a favor da cocaína, e envergando uma camisola com todo o aspecto de picar bastante, facto escandalosamente escamoteado pela narração, uma vez que nem todas as nações do mundo têm ao seu dispor observadores do calibre de José Carlos Malato.
O documentário acompanha duas mulheres associadas à insurgência indígena. Uma delas, Jiovana, coordena um programa estatal para garantir emprego a mulheres desprivilegiadas, sendo que o emprego em questão consiste em calcetar as ruas de La Paz sem qualquer tipo de ferramentas. A outra, Esther, formada nos movimentos sindicais, é imediatamente reconhecível: repete a palavra "revolução" de 15 em 15 segundos, com a precisão de um relógio cubano, e passa grande parte dos restantes blocos de 14 segundos a alertar contra inimigos externos e internos.
Enquanto Esther vai "mobilizando", "educando", e embolsando pesos alheios um pouco por toda a Bolívia, Jiovana é eleita deputada na avalanche eleitoral que conduz Morales ao poder. O seu percurso político -desbravado sem qualquer indício aparente de cinismo - depressa se estabelece como uma interminável negociação de becos sem saída: dez meses depois da tomada de posse, o PLANE está retalhado em facções dissidentes, as mulheres do PLANE não voltaram a trabalhar, e Jiovana não consegue sequer uma reunião com o líder do executivo.
Evo Morales, envergando agora uma camisa revolucionariamente confortável, tem a bondade de explicar o problema perante as câmaras: «O grande problema da Bolívia é que não há dinheiro. Se não fosse isso, governar com rigor, transparência e honestidade seria fácil». Talvez fosse possível argumentar que o grande problema da Bolívia é que qualquer levantamento populista, por mais legítimas que sejam as reclamações de base, por mais Jiovanas que existam, estará quase sempre refém de pessoas que pensam e falam como Evo Morales, mas José Carlos Malato deve ter intervindo nesse momento e o documentário acabou pouco depois.
Mas o futuro pode não ser negro. Recorrendo aos meus literalmente enciclopédicos conhecimentos sobre a História recente da Bolívia (providenciados por meia esplêndida página na Enciclopédia Temática da Larrousse) recordo que a revolução de Victor Paz Estenssoro em 1952 também começou com um certo grau de emancipação para os índios, os rudimentos de uma reforma agrária, e a promessa de uma vaga de nacionalizações. Foram precisos 33 anos, 66 depressões, e 99 golpes e contra-golpes militares para que o mesmo Estenssoro, já num terceiro mandato não-sucessivo, descobrisse alquimicamente a pólvora, e abrisse o sector do Estado ao investimento privado, originando, nas palavras da Larrousse (que seria incapaz de me mentir) "uma espectacular recuperação económica".
É, portanto, concebível, que lá para 2037, um irreconhecível Morales consiga transformar a Bolívia num país tão livre de sarilhos que não correrá sequer o risco de ser visitado por Clara Ferreira Alves - seguramente um dos direitos fundamentais de qualquer democracia.

Bosco


Não vejo hipótese de alguém acreditar nisto (a não ser a minha mãe, que já sabe as despesas da casa), mas a verdade é que andei desde o fim-de-semana sem me lembrar da password do blogue. Durante noventa e seis escleróticas horas, a palavra não vinha. Partindo do sensato princípio que a minha alma não tem grandes profundezas, decidi que seria mais produtivo tentar adivinhar a password em vez de a recordar. Encarando assim o problema como um puzzle policial, reli algumas brilhantes deduções de Sherlock Holmes, Auguste Dupin, e do Pedro da série Uma Aventura. Concluí que a melhor forma de adivinhar uma password alheia é tentar pensar como a pessoa em questão. Dediquei-me, portanto, a tentar pensar como eu próprio, exercício que não recomendo a ninguém. O que é que me teria passado pela encriptante cabeça na altura do registo? Sporting? Pynchon? Um anagrama? Para grande espanto meu, escolhi uma solução pós-moderna e utilizei um termo já existente no zeitgeist como password: o seinfeldiano "Bosco", hoje substituído, ao fim de quase dois anos de competente serviço, pelo nome completo de um jogador de futebol tão obscuro que o próprio Luis Freitas Lobo teria dificuldade em balbuciar as suas estatísticas completas.