O Prós & Contras de ontem foi dedicado a estabelecer se o futebol serve como factor de alienação na sociedade portuguesa. Incrivelmente, não contou com a presença de José Peseiro, talvez o maior perito vivo em Marcuse, Fromm, e no conceito de alienação como condição objectiva independente da consciência e aceitação do indivíduo. Um dos convidados era um "gestor de marcas"; tinha o aspecto de uma axila bem-comportada que passou a vida inteira a ouvir conferências do Bob Proctor, e mostrou-se indignado com o que entende ser uma das maiores lacunas dos currículos escolares nacionais: o ensino do impossível. Aparentemente, não vamoms a lado nenhum enquanto a escolaridade obrigatória não for reorientada para o impossível. Para ilustrar o que era possível quando se é ensinado a tentar o impossível falou de uma bebida energética associada ao nome de Cristiano Ronaldo. Depois contou uma história apócrifa sobre D. João I. Depois referiu-se ao candidato Democrata à Presidência dos Estados Unidos como "Obana". Depois insurgiu-se contra a falta de onanismo dos portugueses. Fátima Campos Ferreira emendou-lhe a insurgência para "unanimidade". Ele concordou: "Sim, unanimidade ou onanismo, como preferir". Ao seu lado, Carlos Abreu Amorim recitou uma estrofe d' O Mostrengo. A plateia, formada exclusivamente por pessoas com pós-graduações no impossível, aplaudiu com entusiasmo. Fátima Campos Ferreira, ela própria com um doutoramento no verdadeiramente inacreditável, anunciou: "Eu é só Camões, não vou agora aqui recitar". Injectando uma nota de subtilismo no debate, Leonor Xavier falou nas pernas de Eusébio, utilizou a palavra inglesa accuracy e comparou Cristiano Ronaldo a Greta Garbo. Um historiador interveio para explicar que a selecção espanhola tem um meio-campo de tecnicistas. Daniel Oliveira esfregou a cabeça, com vigorismo. Em nenhum momento se colocou a hipótese de o Prós & Contras servir como factor de alienação na sociedade portuguesa.
Entretanto, o Europeu vai-se aproximando do fim, alienando um continente inteiro. Já é nesta altura aparente que as equipas que praticam o melhor futebol - Roménia, Croácia e Deco - não vão ganhar, deixando o caminho aberto a uma selecção onde Dirk Kuyt é titular. Não conheço em pormenor os currículos das escolas holandesas, mas desconfio que deixariam o gestor de marcas a saltitar de contentismo.
Entretanto, o Europeu vai-se aproximando do fim, alienando um continente inteiro. Já é nesta altura aparente que as equipas que praticam o melhor futebol - Roménia, Croácia e Deco - não vão ganhar, deixando o caminho aberto a uma selecção onde Dirk Kuyt é titular. Não conheço em pormenor os currículos das escolas holandesas, mas desconfio que deixariam o gestor de marcas a saltitar de contentismo.