sábado, agosto 05, 2006

False friend, false hope

Quanto tempo tem uma pessoa de viver no estrangeiro até sucumbir ao "efeito Roberto Leal"? Cinco, dez, quinze anos? Quanto tempo tem de se estar imerso diariamente numa segunda língua - falando, pensando, lendo jornais, vendo os noticiários - até se começar a produzir desvios de sotaque e vocabulário?
Uma amiga minha, algarvia, que vive na Grã-Bretanha há mais de quinze anos, evidencia já alguns sintomas. É frequente saírem-lhe palavras trocadas, especialmente palavras que nunca teve tempo para interiorizar em português: mouse por "rato", keyboard por "teclado", remote por "telecomando" e por aí fora.
Recentemente, porém, o desvio foi quase cruel. Numa inocente conversa de café, e a propósito de nada, ela sai-se com esta:
- Ai, ando cheia de vontade de te introduzir a uma amiga minha.
E foi só isto. Mas naquela fracção de segundos que o meu cérebro, que de imediato me providenciou inúmeras imagens de "introduções", demorou a perceber que o "introduzir" era apenas o verbo inglês introduce ("apresentar a") invadindo descaradamente língua alheia, fui o homem mais feliz do mundo.

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