segunda-feira, novembro 27, 2006

Walk like a Pynchonian


O meu exemplar de Against the Day pesa um quilo, quatrocentos e vinte e dois gramas.
Com os paperpacks de V., The Crying of Lot 49, Gravity's Rainbow (cópia de substituição) e Slow Learner, mais a edição hardcover de Mason & Dixon, o Gravity's Rainbow Companion de Steve Weisenburger, e uma indispensável enciclopédia de bolso, a agulha chega aos cinco quilos e duzentos.
É uma verdade, daquelas com V maiúsculo, que saír de casa, nem que seja para um passeio de meia-hora, sem qualquer um destes títulos, é um risco que só os mais desencantados e/ou cínicos estão dispostos a correr. Os mais atilados sabem que muita coisa pode acontecer em trinta minutos, que os planos mais estanques estão sujeitos a bruscas ultrapassagens, que as circunstâncias do regresso a casa são sempre uma incógnita, e que todas as trepidações do improvável serão mais facilmente negociáveis se estivermos munidos de roupa interior lavada, alguns trocos na carteira, e de toda a obra de Pynchon.
O dilema que isto representa para os que gostam de fazer as coisas como elas devem ser feitas (e aos quais se impõem imediatas considerações sobre a postura em público, e a saúde das nossas vértebras, entre outras) é um dilema sério, e o Pastoral Portuguesa deixa aqui algumas sugestões que se espera venham a contribuir para a sua resolução:

1. os ginásios urbanos são palcos de frequentes maravilhas. Os equipamentos representam o último grito, pleno de decibéis, da Ciência moderna, colocada ao serviço dos bíceps e dos deltóides. Os monitores são submetidos a rigorosos processos de selecção, que chegam a durar meses. Tudo o que é preciso é um pouco de força de vontade, e um mínimo de seis horas semanais;

2. no site da empresa Manutan podem encomendar-se carrinhos de mão, disponíveis em vários modelos e tamanhos, a partir da módica quantia de 78,00 €. A entrega é gratuita em Portugal Continental;

3. reza a lenda (através dos lábios pouco dados a rezas de Gore Vidal) que o grande Santayana tinha por hábito separar as folhas dos livros, capítulo a capítulo, das suas respectivas encadernações. O método, um aparente sacrilégio para bibliófilo, revela-se, após uma análise mais fria, logisticamente são. Não vou tentar enganar ninguém, apresentando aqui resultados de testes não-efectuados, mas estou certo de que, livres das lombadas, das margens exageradas, e da cola industrial, o peso do nosso cânone portátil seria possivelmente reduzido em 30%. As acrescidas dificuldades de manuseamento e transporte seriam, creio, facilmente ultrapassadas, desde que resistíssemos à tentação de espalhar pelo Mundo aviõezinhos de papel com equações nas asas.

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