domingo, agosto 27, 2006

O milagre subtractivo

Sobre Dostoievski, escreveu Borges que um livro seu é sempre melhor que a soma das suas páginas. O seu contraponto pós-moderno, Don DeLillo, parece, linha por linha, um dos maiores escritores vivos. Mas depois chega-se ao último parágrafo (do admirável mas gélido Underworld, digamos, ou do apofénico Libra, ou do incongruente Mao II) e constatamos que a pulsação não acelerou, que não comungámos com uma única consciência verosímil, que não partilhámos a visão de uma única personagem - e que talvez tivesse sido preferível passar o tempo de outra maneira.
Não escrevo isto bem disposto. Passei uma fase em que gostei muito de DeLillo, mas Cosmopolis, um dos piores romances que li neste século, foi a gota de água. Nunca é agradável - a incineração um antigo ídolo na pira dos afectos descartados. Aconteceu-me o mesmo com Rushdie, depois do sofrível Fury.
Mas isto passa-me.

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