Não sei de figura mais encharcada em pathos que a do monarca exilado. Bonaparte a coxear por Sta. Helena, o Rei Hussain a apaixonar-se por uma égua ao sol de Chipre, os Habsburgos a apodrecerem no Funchal, desdobrando-se em ineptas séances nocturnas às quais teimavam em comparecer os espíritos errados.
Desconheço como ocupou Dom Manuel II as suas últimas décadas em Twickenham, mas desconfio que se dedicou a ler folhas de chá e conjunções planetárias, que apostou bastante nos cavalos, e que evitou tráficos de qualquer espécie com avatares de Sadi Carnot, sendo por isso merecedor do nosso veemente respeito.
Desconheço também se o iate real «Amélia» desbravou tempestades a caminho de Gibraltar, naquela noite aziaga, em qual caso podem muito bem ter ocorrido ao último dos Braganças reais ("reais") aqueles melancólicos versos incluídos nas cartas de exílio de Ovídio, quod nisi mutatas emiserit Aeolus auras/in loca iam nobis non adeunda ferar, recitados de si para si, enquanto, debruçado sobre a amurada, tentava combater o enjoo.
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