sexta-feira, outubro 20, 2006

No comboio

Um instante de negligência logística, que espero não se venha a repetir, fez com que tivesse de me sujeitar a uma viagem de 45 minutos sem qualquer material de leitura.
Aqui ficam alguns pormenores que me teriam passado despercebidos caso estivesse embrenhado nos desvarios fictícios de algum narrador de bolso:

. uma rapariga envergando uma saia curta de um material que me pareceu poliéster (mas que podia muito bem não ser) cruzou e descruzou as pernas sete vezes num período certamente inferior a cinco minutos;

. um indivíduo de sobretudo cinzento e gravata amarela lia, com palpável desdém, um artigo de opinião no Daily Telegraph sobre a problemática da integração muçulmana na sociedade britânica;

. alguém desenhara um rudimentar cavalo (ou um touro), completo com pénis desproporcionadamente grande, por cima de um cartaz prometendo aos jovens dinâmicos excelentes perspectivas de carreira no ramo da revisão de títulos de transporte;

. num terreno de pasto entre as estações de Longbridge e Alvechurch, um rebanho de ovelhas assumiu uma disposição que, durante escassos segundos, me sugeriu o símbolo do Sporting, o que me fez entoar em voz alta o nosso mote centenário: "Esforço, Dedicação, Devoção e Glória!", para consternação dos restantes passageiros;

. hoje, julgo que pela primeira vez desde a escola primária, calcei peúgas desirmanadas.

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