domingo, setembro 16, 2007

He is in that void

«It seems it won't go, but suddenly it does. The medicinal odor of displaced Vaseline reaches his nostrils. The grip is tight at the base but beyond, where a cunt is all velvety suction and caress, there is no sensation: a void, a pure black box, a casket of perfect nothingness. He is in that void, past her tight ring of muscle».

(John Updike, Rabbit is Rich)

Esta passagem, que regista, com veemente rigor, a primeira experiência sexual alternativa do protagonista, tem o mérito adicional de descrever a experiência estética acelerada que é ler as novecentas páginas da tetralogia Rabbit em quatro dias. A prosa de Updike é o grande esfíncter contraído da literatura contemporânea, frase que, de resto, aconselho vivamente o leitor a usar sempre que possível em ocasiões sociais futuras ("Já leu o último Mário Cláudio?" "Olhe, não. Tenho andado entretido com o Updike, cuja prosa é o grande esfíncter contraído da literatura contemporânea".) É raro o parágrafo Updikeano que não titila um nervo, mas a pressão é sempre localizada e efémera; o leitor pressente o vazio para lá da sensação imediata e anseia pelas posições de missionário e intenções reprodutivas dos seus conterrâneos menos talentosos. O fetichismo da prosa desgasta; brutaliza por acumulação de percepções. Em novecentas páginas, nada acontece (e nada acontece) que não mereça uma extraordinária passagem descritiva - invariavelmente subtil e raramente profunda. Há impulsos estéticos mais honestos nos tipos que escrevem as quadras para os manjericos. Mas admito que tenho andado um bocado resmungão.

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