O início da Liga Sagres foi tão bom, tão repleto de momentos memoráveis, que nem os mais entusiásticos entusiastas dos Jogos Olímpicos (cujo acompanhamento me parece requerer uma devoção sobre-humana) terão tido tempo para sentir a ressaca emocional.
Começando pelo fim, é de saudar o regresso do Domingo Desportivo, agora apresentado pelo Carlos Daniel. A última edição do Domingo Desportivo de que tinha memória fora apresentada pelo Ribeiro Cristóvão, pelo que a diferença de qualidade é estarrecedora. O facto de Carlos Daniel representar uma melhoria significativa sobre qualquer outro português - vivo ou morto - que o tenha precedido em qualquer cargo pode ser hoje elevado com segurança à categoria de dogma.
O novo Domingo Desportivo tem três lugares para comentadores: dois permanentes e um rotativo. Num mundo ideal, Carlos Daniel ocuparia os três. Num mundo ideal, Carlos Daniel apresentaria, comentaria, faria as reportagens, desenharia os cenários, e governaria o país. Mas, como Rui Santos escreveu esta semana no Record, estamos condenados a viver na imperfeição imperfeita deste mundo apenas aparentemente perfeito, e temos de nos resignar às presenças de João Vieira Pinto (campeão em título do mergulho semântico) e Luís Freitas Lobo (ainda imbatível no arremesso do facto). Não tenho nada contra Luís Freitas Lobo. É difícil ter algum problema substancial com alguém que sabe mais sobre um avançado da Naval chamado Michel Simplício (ex-Esporte de Pelotas) do que eu sei sobre mim próprio. Aliás, Luís Freitas Lobo, algures no seu arquivo Borgesiano, deve ter uma ficha com o meu perfil, currículo e estatísticas completas. Luís Freitas Lobo existe neste mundo como argumento teológico: prova irrefutável de que a omnisciência é possível e está ao alcance de todos; mas dá imenso trabalho, e oblitera quaisquer outras virtudes.
Quanto ao futebol propriamente dito, os três grandes começaram exactamente como se esperava. É agora aparente para todos que Hulk representa um problema gravíssimo para a competitividade do campeonato. O golo foi fabuloso, mas a sua maior proeza foi a lesão que infligiu a Mariano González. Desta vez acertou no jogador errado, mas, com o acompanhamento técnico de Jesualdo Ferreira, será apenas uma questão de tempo até começar a contribuir activamente para a formação da lista de convocados, e para a resolução de eventuais problemas disciplinares. É provável que, nas próximas semanas, Guarín, Stepanov e o intrasferível Quaresma sejam discretamente convidados a formar barreira num treino.
Em Alvalade, o acidente geomorfológico conhecido como Rochemback continua a implementar a sua abordagem geológica à prática futebolística. As coisas acontecem lentamente no meio-campo do Sporting. Processos de erosão não observáveis a olho nu provocam o súbito colapso das defesas adversárias. Colisões entre placas litosféricas provocam compressões extremas, resultando na elevação de talentos tão improváveis como Djaló ou Izmailov. Se um jogo de futebol durasse dez milhões de anos, Rochemback seria melhor do que Platini. Em virtude deste inultrapassável obstáculo cronológico, o mais a que pode almejar é ser melhor do que a equipa à sua volta, tarefa na qual não terá grandes dificuldades.
Não vi o jogo de Vila do Conde, mas tanto a Rádio Renascença como o jornal Record elegeram Nuno Gomes como o melhor jogador em campo, um dado que dissipou aquele calorzinho de preocupação que as pré-temporadas do Benfica conseguem sempre - contra o mais elementar bom senso - fazer chegar às minhas axilas. Pablo Aimar, que meteu os papéis para a reforma antecipada em 2005, continua a sua tranquila transição administrativa: de substituto de Rui Costa a substituto de Caniggia em menos de doze jornadas. Suspeito que, no jogo contra o Porto, assim que Hulk se preparar para marcar um livre directo, Pablo Aimar será discretamente convidado a formar barreira sozinho.
Começando pelo fim, é de saudar o regresso do Domingo Desportivo, agora apresentado pelo Carlos Daniel. A última edição do Domingo Desportivo de que tinha memória fora apresentada pelo Ribeiro Cristóvão, pelo que a diferença de qualidade é estarrecedora. O facto de Carlos Daniel representar uma melhoria significativa sobre qualquer outro português - vivo ou morto - que o tenha precedido em qualquer cargo pode ser hoje elevado com segurança à categoria de dogma.
O novo Domingo Desportivo tem três lugares para comentadores: dois permanentes e um rotativo. Num mundo ideal, Carlos Daniel ocuparia os três. Num mundo ideal, Carlos Daniel apresentaria, comentaria, faria as reportagens, desenharia os cenários, e governaria o país. Mas, como Rui Santos escreveu esta semana no Record, estamos condenados a viver na imperfeição imperfeita deste mundo apenas aparentemente perfeito, e temos de nos resignar às presenças de João Vieira Pinto (campeão em título do mergulho semântico) e Luís Freitas Lobo (ainda imbatível no arremesso do facto). Não tenho nada contra Luís Freitas Lobo. É difícil ter algum problema substancial com alguém que sabe mais sobre um avançado da Naval chamado Michel Simplício (ex-Esporte de Pelotas) do que eu sei sobre mim próprio. Aliás, Luís Freitas Lobo, algures no seu arquivo Borgesiano, deve ter uma ficha com o meu perfil, currículo e estatísticas completas. Luís Freitas Lobo existe neste mundo como argumento teológico: prova irrefutável de que a omnisciência é possível e está ao alcance de todos; mas dá imenso trabalho, e oblitera quaisquer outras virtudes.
Quanto ao futebol propriamente dito, os três grandes começaram exactamente como se esperava. É agora aparente para todos que Hulk representa um problema gravíssimo para a competitividade do campeonato. O golo foi fabuloso, mas a sua maior proeza foi a lesão que infligiu a Mariano González. Desta vez acertou no jogador errado, mas, com o acompanhamento técnico de Jesualdo Ferreira, será apenas uma questão de tempo até começar a contribuir activamente para a formação da lista de convocados, e para a resolução de eventuais problemas disciplinares. É provável que, nas próximas semanas, Guarín, Stepanov e o intrasferível Quaresma sejam discretamente convidados a formar barreira num treino.
Em Alvalade, o acidente geomorfológico conhecido como Rochemback continua a implementar a sua abordagem geológica à prática futebolística. As coisas acontecem lentamente no meio-campo do Sporting. Processos de erosão não observáveis a olho nu provocam o súbito colapso das defesas adversárias. Colisões entre placas litosféricas provocam compressões extremas, resultando na elevação de talentos tão improváveis como Djaló ou Izmailov. Se um jogo de futebol durasse dez milhões de anos, Rochemback seria melhor do que Platini. Em virtude deste inultrapassável obstáculo cronológico, o mais a que pode almejar é ser melhor do que a equipa à sua volta, tarefa na qual não terá grandes dificuldades.
Não vi o jogo de Vila do Conde, mas tanto a Rádio Renascença como o jornal Record elegeram Nuno Gomes como o melhor jogador em campo, um dado que dissipou aquele calorzinho de preocupação que as pré-temporadas do Benfica conseguem sempre - contra o mais elementar bom senso - fazer chegar às minhas axilas. Pablo Aimar, que meteu os papéis para a reforma antecipada em 2005, continua a sua tranquila transição administrativa: de substituto de Rui Costa a substituto de Caniggia em menos de doze jornadas. Suspeito que, no jogo contra o Porto, assim que Hulk se preparar para marcar um livre directo, Pablo Aimar será discretamente convidado a formar barreira sozinho.