... between Brighton and Bogotá... (p. 3); ... in, say, Sligo or Sri Lanka... (p. 3); ... the Tartars or the Tongans... (p. 29); ... out into Moore, Morgan, Maturin and Mangan... (p. 57); ... less by socialism than by Schoenberg... (p. 74); ... a matter of Fisher Kings and fertilty cults... (p. 80); ... shifting it from Kant to Kafka... (p. 98); ... so do tyrants and tootache... (p. 121); ... the somatics of Foucault and Fonda (p. 129); ... in classrooms from Berkeley to the Bronx (p. 129); ... which roams from ballet to Berg (p. 149); ... as it meanders from Kant to Krishna, Schiller to Sati (p. 160); ... others may write of Camus or cauliflowers (p. 180); ... crossing from Spinoza to scallop fishing (p. 190); ... from Kafka to the Ku Klux Klan (p. 197); ... from Marx to Marlboro (p. 206); ... from the New Left to the New Times, Leavis to Lyotard (p. 207); ... between Jonathan Swift and Graham Swift (p. 219); ... from the Mystery Plays to Miss Marple (p.219); ... Diversity ends at Dover (p. 221); ... more Harlequin than Hegel (p. 236); ... from Sorel and the Surrealists to Sartre, from Levinas to Lyotard (p. 246); ... from the BBC to the BFI (p. 255); ... from God to Goethe (p. 259); ... from Horace to Housman (p. 263); ... from Defoe to Drabble (p. 264); ... alongside Plato and Pynchon (p. 267); ... from the Venerable Bede to Tony Blair (p. 269).
Terry Eagleton, Figures of Dissent (Verso, 2003)
O maior argumento contra a publicação de recolhas de ensaios e jornalismo ocasional (ou arquivos de blogues, ja agora), maior do que o argumento da efemeridade parasítica embutida no formato, é o argumento da auto-preservação. Salvo raríssimas excepções, permitir que o que é escrito episodicamente seja lido sequencialmente é meio caminho andado para denunciar muletas e maneirismos de Loures a Londres.
As aliterações de Terry Eagleton não são, em rigor, um problema muito grande; nenhuma delas deforma um argumento ou uma linha de raciocínio, nem diminui a vontade de continuar a ler (embora possa aumentar a vontade de continuar a ler especificamente para encontrar mais aliterações, porque no fundo somos uma crianças). Aceitamos de boa fé que o alfabeto se organizou de forma quase milagrosa para se adequar precisamente àquilo que Terry Eagleton queria dizer; e nem sequer levamos a mal quando ele escreve no meio deste bacanal de aliterações, a propósito de um excerto de Peter Conrad, que «the scrupulous alliteration of ‘scored with stigmata’, the suave placing of ‘squeamishly’, the overpitched final image: all this stylistic self-consciousness creates a Post-Modern ‘lack of affect’, which is evident in other ways, too».
O processo através do qual uma maneira de dizer as coisas degenera num maneirismo é uma coisa tão misteriosa para mim como o mercado de obrigações ou a música popular brasileira, mas mesmo neste estágio claramente avançado, aceito que ainda possa produzir vantagens, uma das quais será proporcionar atalhos para organizar argumentos. Levado ao extremo (creio que há casos piores, a começar nos saldos de paradoxos nos livros de Chesterton), torna-se menos um instrumento intelectual do que um hábito mental: no princípio está-se ali à procura de uma forma de poupar tempo para pensar, e acaba-se apenas a poupar no que se pensa - o que, nos piores momentinhos do Terry Eagleton, é evident in other ways, too. (Nada disto deve ser comparado ao meu uso de advérbios de modo, que é sempre escrupulosamente moderado).
Terry Eagleton, Figures of Dissent (Verso, 2003)
O maior argumento contra a publicação de recolhas de ensaios e jornalismo ocasional (ou arquivos de blogues, ja agora), maior do que o argumento da efemeridade parasítica embutida no formato, é o argumento da auto-preservação. Salvo raríssimas excepções, permitir que o que é escrito episodicamente seja lido sequencialmente é meio caminho andado para denunciar muletas e maneirismos de Loures a Londres.
As aliterações de Terry Eagleton não são, em rigor, um problema muito grande; nenhuma delas deforma um argumento ou uma linha de raciocínio, nem diminui a vontade de continuar a ler (embora possa aumentar a vontade de continuar a ler especificamente para encontrar mais aliterações, porque no fundo somos uma crianças). Aceitamos de boa fé que o alfabeto se organizou de forma quase milagrosa para se adequar precisamente àquilo que Terry Eagleton queria dizer; e nem sequer levamos a mal quando ele escreve no meio deste bacanal de aliterações, a propósito de um excerto de Peter Conrad, que «the scrupulous alliteration of ‘scored with stigmata’, the suave placing of ‘squeamishly’, the overpitched final image: all this stylistic self-consciousness creates a Post-Modern ‘lack of affect’, which is evident in other ways, too».
O processo através do qual uma maneira de dizer as coisas degenera num maneirismo é uma coisa tão misteriosa para mim como o mercado de obrigações ou a música popular brasileira, mas mesmo neste estágio claramente avançado, aceito que ainda possa produzir vantagens, uma das quais será proporcionar atalhos para organizar argumentos. Levado ao extremo (creio que há casos piores, a começar nos saldos de paradoxos nos livros de Chesterton), torna-se menos um instrumento intelectual do que um hábito mental: no princípio está-se ali à procura de uma forma de poupar tempo para pensar, e acaba-se apenas a poupar no que se pensa - o que, nos piores momentinhos do Terry Eagleton, é evident in other ways, too. (Nada disto deve ser comparado ao meu uso de advérbios de modo, que é sempre escrupulosamente moderado).
8 comentários:
Bem observado, fez-me pensar nos autores que usam de modo recorrente os parêntesis para incluir humor/ironia/sarcasmo (riscar o que não se aplicar, embora no fundo todos se apliquem ao caso que aqui tento satirizar sem qualquer obrigação para com a arte da subtileza) chegando ao cúmulo de produzir parágrafos em que poucas palavras escapam ao redil de tal artefacto (onde as vítimas do autor, quais animais enjaulados, seguem com os olhos tristes os voos arriscados nos céus azuis da retórica).
Com o devido respeito, creio que maneirismos de Chesterton são sobretudo à base de quiasmos.
"Com o devido respeito, creio que maneirismos de Chesterton são sobretudo à base de quiasmos."
Tem alguma razão, mas uma coisa não exclui a outra (nem outra coisa exclui a Uma, lol!).
Referia-me ao paradoxo como figura semântica ou figura de pensamento. Umas vezes é expressa por meio de quiasmos, outras não. Chesterton recorre muitas vezes ao paradoxo sem o formular na forma de um quiasmo: "The more alike the enemy becomes, the more different he will appear", etc.
eu sei uma, "quando digo digo, não digo diogo" fodasse
faltou metade da merda ad aliteraçao, perdao milord, é assim completinha
"quando digo digo não digo diogo, quando digo diogo não digo digo"
Acabei por ter que ir ao dicionário ver o que é que quer dizer aliteração, tendo concluido, após a assimilação previsivelmente temporária que se lhe sucedeu, que este post é muito interessante in other ways, too. Parece que identifico uma aliteração dos mecanismos conceptuais que presidem à formação das ideias envolvidas, sendo minha e firme a convicção de que a obscuridade da moral exposta (o próprio autor manifesta ignorância quanto aos processos implicados na absolvição de um caso de aliteração e a condenação de outro) está molecularmente refletida na sua também obscuríssima mecânica interna, especificamente na forma como são postos a funcionar os raciocinios, as conclusões e é fornecida a informação que somos convidados a acompanhar. Notei, nomeadamente, que a relação proposta entre o duetos "instrumento intelectual / habito mental" e "poupar tempo / poupar no que se pensa" é salva in extremis pelo salto salvítico de promover a central core do post (através do brilhante e terminal "é evidente in other ways, too") a atrítica sugestão de que o Eagleton terá "piores momentos" para distribuir a quem se der ao trabalho de ler novelescamente as colectâneas dos seus ensaios de imprensa. A classificação dos "piores momentos" como "in other ways, too" abafa qualquer hipótese de quezília voluntarista sobre emparelhamento da quadratura de dualidades considerado, digerindo a legítima (e, eventualmente, interesante e util) vontade de o criticar, numa rebarbadora curiosidade pornográfica por hipotéticos vicios escondidos, a que só teremos acesso por elaboração superior ao inocente e prévio maneirismo, que o post ostenta como definitivamente dissecado: é que não está. O "in other ways, too" opera como um farol que em vez de iluminar, encadeia; é como se nos dessem a escolher entre uma sofia loren de 20 anos nua e um balde de soda caustica. Deveria ser possivel dizer que poupar no que se pensa pode ser um bom instrumento intelectual quando nos estamos a confrontar com sistemas complexos, ou que os hábitos mentais podem poupar tempo quando a sua correcta observação diminui o intervalo de acesso à memória, mas a verdade é que no other way existe que não focarmo-nos no "in other ways", e, especialmente, no "too" (que me parece quase genial no propósito de me exigir atenção). No famoso poema O'Neill refere-se a "o sal, o sol, o sul", e aqui, a aliteração, apesar de propriamente sonora, possui um crescendo interno concreto que não receia a confrontação, quer entre os termos que a compõem (que se somam democraticamente e, portanto, crescem em rigorosa igualdade), quer destes com a realidade (que ilustra, sublinha e reforça); o autor do post, ao abordar o tema mais geral dos vicios e defeitos de Eagleton através do recurso à aliteraçao de mecanismos de construção conceptual, fazendo suceder uma associação bombástica de qualidades e defeitos a uma afirmação erótica, não produz, na minha opinião, um resultado final esclarecedor, assistindo-se antes a um efeito de substituição que anula a clareza. Espero que não se note que não consigo dormir.
Mãe?
não, filho, não era a mãe.
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