O resultado positivo mais tangível do concurso dos Grandes Portugueses terá sido o arrancar deste eremita às catacumbas labirínticas de Mafra - onde as minhas fontes me garantem que ele passa o seu tempo dando palestras sobre Semiótica às ratazanas, e mordiscando bolachinhas francesas à luz de velas - para escrever isto:
«(...) Continuando weberianos, há uma décalage histórica insanável entre a legitimação carismática do Afonso Henriques, que teria que sovar directamente muita gente para legitimar a coroa, e a legitimação administrativa do Salazar, com a virilidade enxovalhada no corpo afirmada sublimadamente na cavalice troglodita e assanhada dos esbirros de Estado. E se, à imagem do Highlander, até pode haver elementos modernos a concurso, como arremesso de câmaras de televisão ou, se tivermos sorte, da Maria Elisa, a dinâmica de jogo parece-me permanecer resolutamente medieval, a menos que chamem a PIDE outra vez, o que também não seria justo. De qualquer forma, para quem se queixe que assim o jogo está falho de equidade nas hipóteses regulamentares de cada concorrente, ou que será triste medir pelo espadeirar de Afonso Henriques os pusilânimes que fizeram a nossa triste história, vê-se logo que não sabem o que faz um bom show pedagógico de televisão de serviço público.»
«(...) Continuando weberianos, há uma décalage histórica insanável entre a legitimação carismática do Afonso Henriques, que teria que sovar directamente muita gente para legitimar a coroa, e a legitimação administrativa do Salazar, com a virilidade enxovalhada no corpo afirmada sublimadamente na cavalice troglodita e assanhada dos esbirros de Estado. E se, à imagem do Highlander, até pode haver elementos modernos a concurso, como arremesso de câmaras de televisão ou, se tivermos sorte, da Maria Elisa, a dinâmica de jogo parece-me permanecer resolutamente medieval, a menos que chamem a PIDE outra vez, o que também não seria justo. De qualquer forma, para quem se queixe que assim o jogo está falho de equidade nas hipóteses regulamentares de cada concorrente, ou que será triste medir pelo espadeirar de Afonso Henriques os pusilânimes que fizeram a nossa triste história, vê-se logo que não sabem o que faz um bom show pedagógico de televisão de serviço público.»
2 comentários:
Ahh, Rogério, caro, fazes-me querer ser uma pessoa pior...
(incidentalmente, bem me pareceu topar duas ratazanas demasiado nutridas na audiência da ermida, mas as galhetas estavam tão apetitosas que deixei passar. De qualquer forma, enganaram-se, não era semiótica mas crochet. Compreendo, ouviram palavra afrancesada e saltaram para a conclusão óbvia. Acho melhor, a bem da precisão, arranjares uns infiltrados mais burgessos para harmonizar o serviço de informações com o universo mental do visado. Também incidentalmente, já percebi porque é que a crítica literária em Portugal está tão desvalida - fugiu para a velha Albion. Nunca pensei que a experiência de não ler o Roth pudesse ser tão enriquecedora(wink). Bem hajas)
Estariam as bolachinhas dentro do prazo?
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