quarta-feira, fevereiro 28, 2007

A melhor hoax dos últimos tempos

Dr. Seuss interpretado por Dylan. Não sei quem é o responsável, mas merece um prémio qualquer.
(descoberto via Return of the Reluctant)
Por motivos surpreendentemente profissionais (isto soa tão falso dito por mim) o ritmo de actualização do blogue vai ser reduzido nas próximas quatro a seis semanas. Tentem ser fortes neste momento difícil.

terça-feira, fevereiro 27, 2007

The Really Really Everlasting Man

Segundo o Chicago Sun-Times, G. K. Chesterton vai participar numa sessão de autógrafos, dia 10 de Março, na livraria Centuries & Sleuths em Forest Park, Illinois.
A não perder, obviamente.

(via Golden Rule Jones)

Not lovin' it



«The Prince of Wales threw his weight into the debate about healthy eating today and told a nutritionist that the “key” was to ban McDonald’s fast food restaurants. (...) Talking to Nadine Tayara, a nutritionist (...), he asked her: “Have you got anywhere with McDonald’s? Have you tried getting it banned? That’s the key.”»

(The Times)


Banir o McDonald's? Sempre achei que ser republicano no Reino Unido faz tanto sentido como ser monárquico em Portugal, mas o Príncipe Gaffarlos testa a minha posição de princípio com uma frequência assinalável. Está na hora de a Casa Real contratar um assistente especial, cuja única função será mostrar discretamente ao Príncipe um retrato de Cromwell, cada vez que ele abrir a boca para defender uma solução revolucionária para o que quer que seja.

(p.s.: não sei se a escolha da expressão "threw his weight" para iniciar o parágrafo revela um jornalista apressado ou espirituoso. Mas aposto cinco happy meals em como o preguiçoso trocadilho do título deste post vai aparecer num tablóide qualquer amanhã.)

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Fitness


The avoidance of taxes is the only intellectual pursuit that carries any reward.

(John Maynard Keynes)


Tal como os treinadores de futebol modernos preparam fisicamente os seus jogadores para estes atingirem o pico de forma na altura dos jogos cruciais, também eu manipulo a minha dieta intelectual de forma a que o cérebro chegue a Março/Abril nas melhores condições possíveis. Estamos portanto a chegar àquela altura da época em que se arruma a televisão no sótão, e se retira da estante toda a artilharia pesada. Isto resulta, mas prometo que os leitores do blogue não darão pela diferença; o meu melhor trabalho (os dribles, os sprints, os pontapés de bicicleta) está reservado para uma audiência restrita.

Oscars™ - what could have been





Sim, sim, Ellen, Jon Stewart, Billy Crystal, uns amores de pessoas. Mas só volto a sintonizar uma cerimónia que seja apresentada por um destes dois senhores.

(O momento mais honesto da noite foi o bocejo de Seinfeld).

domingo, fevereiro 25, 2007

Oscars™ - previsões

O Kodak Theatre vai estar a três quartos. O monólogo de abertura de Ellen vai incluir uma referência enigmática à Maçonaria. Clint Eastwood vai aparecer vestido de mulher. Bjorn Lomborg vai ser o convidado-surpresa, entregando o prémio a um animado Al Gore. Helen Mirren vai agradecer o prémio mais irritantemente inevitável dos últimos anos com uma série de flexões de braços, em homenagem a Jack Palance. Forest Whitaker vai ameaçar a orquestra com fuzilamento quando esta lhe interromper o discurso. Scorsese vai permanecer sentado depois de o seu nome ser anunciado como Melhor Realizador, gritando colericamente para as câmaras: "Fuck you, I don't want one now!".
Babel vai mostrar que a vitória de Crash não foi um caso isolado, e que o "mosaico pretensioso" é agora o modelo de sucesso a seguir.

sábado, fevereiro 24, 2007

Espaços onde se pode espirrar


A sucessão de sintomas parecia-se cada vez mais com uma experiência dadaísta, pelo que foi quase um alívio quando desatei a espirrar. Falta de ar puro, creio; eu tenho muito pouco acesso a ar puro. O pai de um amigo meu diz "Madjifa!" sempre que espirra, e eu nunca tive coragem de perguntar porquê. Mas, inexplicavelmente, apanhei o hábito, e tenho passado o dia nisto.
Mudando de assunto, uma pessoa que me conhece bem alertou-me para um facto curioso: há um tema que acho muito interessante, e sobre o qual discorro constantemente em conversas pessoais, mas que nunca abordei aqui no blogue. Fui reler parte dos arquivos (não recomendo, já agora; é tão doloroso como ouvir a nossa própria voz reproduzida num leitor de cassetes) e não é que ela tem toda a razão? Há mesmo um tema sobre o qual discorro constantemente em conversas pessoais, mas que nunca abordei aqui no blogue. Não encontro explicação para isto, e a falta de ar puro não justifica tudo.
Mudando de assunto, abri hoje um precedente perigoso, ao apostar num cavalinho chamado 'Your Advantage', um gesto apenas ligeiramente menos idiota do que responder a um anúncio para dobrar circulares. Em minha defesa, gostaria de realçar que a aposta, por motivos de saúde, foi feita via internet, num lugar com um notório défice de ar puro.
Mudando de assunto, continuo a ler o Metamagical Themas. Ler um volume de crónicas com a data de 1985 na página do copyright é, na gloriosa expressão do sagaz tacticista Jaime Pacheco, uma faca de dois legumes. Por um lado habilitamo-nos a desfrutar de uma série de ideias e factóides interessantes, justamente repescados ao charco da amnésia cultural. Por outro arriscamo-nos a levar com dois capítulos inteiros dedicados ao cubo de Rubik, ou, como Hofstadter faz questão de lhe chamar, o cubo de Rubik/Ishige.
Terutoshi Ishige era um engenheiro autodidacta de Tóquio, que teve a ideia para o brinquedo independentemente de Erno Rubik, mas alguns meses depois de Erno Rubik. A sua patente ainda chegou a ser registada no Japão, mas, por motivos óbvios, a comercialização do produto não lhe rendeu um iene. Sinto sempre uma grande empatia com os desgraçados que chegam com atraso ao seu próprio rasgo de originalidade. Quantos de nós não tivémos, na nossa adolescência, uma ideia excelente para um conto, apenas para virmos a descobrir que o conto já tinha sido escrito por alguém (normalmente por Jorge Luís Borges)?
Não mudando exactamente de assunto, digo-vos que há por aí algures um hipotético desgraçado que teve a ideia de iniciar um blogue chamado Pastoral Portuguesa e que vai apanhar uma grande desilusão quando o Blogger rejeitar a sua tentativa de baptismo. Gostaria de informar o hipotético desgraçado que deixo a porta aberta à negociação.

Madjifa!

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

The Modern Lovers


Ultimamente têm-me acontecido algumas coisas que nunca aconteceram a Pablo Picasso.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Martin, the unfuckable

«I don't know if you've ever had one of those periods in your younger years when suddenly, not only are you not seeming to get a girlfriend, but it's as if the women all know that you can't get a girlfriend. The news has got around that you're not going to get a girlfriend. (...) I was beginning to understand what it must be like to be Philip Larkin — the women all know. I didn't actually fear it then; well, no, I did. I was just feeling sort of grubby and exasperated, it just gets worse and worse. The women all—it's as if they've all been ringing each other up and saying, "Don't go near that guy".»

- Martin Amis, casado com Isabel Fonseca, faz uma inesperada colagem ao eixo Mexia/Galvão, nesta entrevista à Radar Online (via The Elegant Variation)

E o centenário de John Wayne é logo a seguir

«In readiness for an expected flurry of visitors to York for the centenary celebrations of Auden's birth, local cab drivers have been trained to recite his poems to their unsuspecting passengers.»

-The Guardian


(Comemora-se este ano o centenário dos nascimentos de Miguel Torga e da Irmã Lúcia. Faço questão de apanhar pelo menos um táxi sempre que vou a Portugal, e ficaria muito feliz se, na minha próxima deslocação, o senhor taxista me regalasse com histórias sobre bichos e visões do apocalipse, em vez das habituais histórias sobre bichos e visões do apocalipse.)

terça-feira, fevereiro 20, 2007

39º

A medicina - nas suas variantes mainstream e alternativa- deixou-me, mais uma vez, ficar mal. Um amigo escocês, a estudar para ser médico, disse-me gravemente que o meu sistema imunitário é uma anedota, e que eu preciso de adicionar mais zinco à minha dieta. Uma tia portuguesa aconselhou-me a pendurar o rosto por cima de uma tigela com água a ferver, até "sentir a maleita evaporar".
Amizade e família, leitor; estas são as nossas bases.
Num sentido, pelo menos, o meu amigo está errado: o meu sistema imunitário não é uma anedota. Na verdade, é capaz de ser o sistema imunitário com o pior sentido de humor do planeta. Os meus linfócitos comportam-se como descendentes de João Calvino: não há três horas de divertimento que não sejam invariavelmente punidas com três dias de inferno viral.
Com uma febre alta e constante, e duas noites seguidas sem dormir, achei que estavam reunidas as condições ideais para me sentar novamente em frente a um televisor ligado.
No Channel 5, Batman Returns. Desenvolvi nos últimos anos a seguinte teoria: Tim Burton é uma fraude e qualquer filme seu - com a excepção de Beetlejuice - tem tendência a piorar consideravelmente de cada vez que o vimos, mas neste caso senti-me tentado a dar-lhe o benefício da dúvida, e a apontar o dedo acusador ao responsável pela montagem. Burton deve ter rodado película suficiente para uma comédia genial e para um fétido e fumegante petit-guignol; o editor tramou-o e misturou tudo. Talvez a hora tenha coincidido com o período de maior febre (eventuais delírios, etc.) mas fiquei convencido de que deixas como «Perhaps when I held my Tiffany baby rattle with a shiny flipper, and not five chubby digits, they freaked», diálogos como « 'He's like a frog that became a prince.' 'No, he's more like a penguin.' », ou cenas como aquela em que Danny DeVito informa histericamente uma plateia de simpáticas aves palmípedes de que «Male and female ... hell, the sexes are equal with their erogenous zones blown sky-high» mereciam um filme melhorzinho.
Pequeno zapping para apanhar o Gladiator, que revi pela primeira vez desde que estreou nas salas de cinema. Gostei mais agora. O esqueleto da história, que é tão antigo como a Literatura (homem quer regressar a casa depois de uma guerra e não o deixam) é suficientemente forte para sustentar algum diálogo esfarrapado. Foi algo desconcertante ver o Johnny Cash, com uma coroa de louros na cabeça, a ser tão mau para as pessoas. Ele próprio termina o filme bastante mal tratado, mas já depois da queda do Império, o venerável Rickus Rubinus viria a reabilitá-lo. Final feliz também para ele.
A noitada acabou - e a febre finalmente baixou - com um documentário sobre W. H. Auden. Os documentários das televisões britânicas sobre romancistas ou poetas são invariavelmente bem pesquisados e bem escritos, mas pecam pelo uso abusivo do mais irritante recurso audiovisual que conheço: a "reconstituição". A "reconstituição" resume-se a isto: um actor baratucho e desconhecido pavoneia-se de um lado para o outro tentando parecer pensativo (olhando, para este efeito, através de uma janela, enquanto segura um lápis) ou atormentado (rasgando/queimando papéis, ou insultando Deus/os elementos através da mesma janela através da qual já olhou pensativamente segurando um lápis). Este documentário evitou a farsa, porque teve a sorte de poder recorrer a extensivas imagens de arquivo, algumas delas inéditas.
O rosto de Auden, familiar das fotografias a preto e branco, parece outra coisa, em movimento e a cores. Parece, aliás, merecer um documentário próprio; nunca tinha visto tantas rugas em coexistência pacífica num espaço tão exíguo.
Uma legenda informa o espectador de que a entrevista foi gravada em Londres, nos anos 60, mas era possível adivinhar a antiguidade do fragmento mesmo antes de ver o corte dos casacos ou o padrão da alcatifa do estúdio: entrevistador e entrevistado seguravam (entre dedos esplendidamente encardidos) dois cigarros sem filtro, que fumaram com brio ao longo da meia-hora seguinte
Espero que os futuros actores do Reino tenham estado atentos, e tirado notas: Auden não mostrou muita vontade em parecer pensativo ou atormentado. A dada altura, o entrevistador discorreu longamente sobre um dos poemas juvenis de Auden sobre a Guerra Civil de Espanha. Este esperou que ele terminasse, piscou os olhos e disse: «Well, frankly, no. Nearly everything that you have just said is rubbish.»
E depois de um ataque de tosse de quatro estrofes, explicou-lhe pacientemente porquê.

domingo, fevereiro 18, 2007

Domingo, gordo


Auto-referencialidade (9)

Este post é tão confiante que se linka a si próprio.

Auto-referencialidade (8)

Este post está tão nervoso que a palavras trocou da ordem.

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Viva Las Vegas


«... Hadrian was famous for a love of 'curiosities' and an exploration of them. (...) With a tourist's mind, he was also a cultural magpie who stored and imitated what he saw. Back in Italy, near Tivoli, he built himself an enormous, straggling villa whose features alluded explicitly to great cultural monuments of the ancient Greek past. Hadrian's villa was a vast theme-park which included buildings evocative of Alexandria and classical Athens.»

Este parágrafo sobre Adriano, retirado do livro de Robin Lane Fox, The Classical World, sugere duas coisas espantosas: que a acumulação de simulacros kitsch não foi patenteada por Charles Foster Kane ou pelos herdeiros de Walt Disney; e que o impulso por detrás da arquitectura de Las Vegas - com a sua hotelaria piramidal e as suas réplicas de praças venezianas - não é apenas um capricho pós-moderno. O estudo dos clássicos, idealmente, deve servir também para isto: lembrar-nos que por entre a filosofia, a oratória e os aquedutos, os Antigos eram tão pirosos como nós.
O Imperador Adriano, transportado para os anos 80, talvez tivesse conseguido aumentar os índices de prosperidade e felicidade da década 'yuppie', e submeter o globo a uma anacrónica pax romana. Mas tê-lo-ia feito com togas de lycra, cabelo estillo 'mullet', e ao som dos Human League.

(Numa nota pessoal entre parênteses, sem a qual nenhum post neste blogue ficaria completo, esclareço que nunca estive em Las Vegas. Cheguei a organizar uma visita-relâmpago de 3 dias, em 2004, com os meus flatmates/casinomates da altura. À última hora, perdemos a confiança no nosso próprio bom-senso e cancelámos os planos.
É uma fantasia antiga, contudo, e estou certo de que a concretizarei na altura certa. O meu lado optimista diz-me que chegarei equipado com um eficaz bullshit-detector, transpirando sobranceria intelectual europeia, trazendo na mochila o livro do prof. Robin Lane Fox e o America do Baudrillard. O meu lado realista diz-me que andarei, três dias depois, já sem sapatos nem relógio de pulso, a tentar impingir o livro do prof. Robin Lane Fox e o America do Baudrillard numa das lojas de penhores do Strip, a troco de quatro dólares para torrar numa última fezada.

Publicidade


É a segunda vez em menos de uma semana que a distância me impede de cumprir um dever de cidadania. Para vocês, os do lado de lá, não há desculpas. Se acham que têm melhores coisas a fazer numa sexta-feira à noite, estão redondamente enganados. Eu já me informei: o Sporting só joga amanhã, o último livro do Pynchon ainda não chegou aos escaparates lusos, e a vossa vida sexual, francamente, já conheceu melhores dias. Vão ficar em casa a fazer o quê?
Vão antes a Santos ver um concerto, onde, por um preço antediluviano, terão acesso a exorbitantes recompensas sonoras.

(Full disclosure: eu não conheço esta malta de lado nenhum, nem estou a ser pago pela publicidade. O que acontece é que, aqui há uns anos, na minha idealista e empreendedora adolescência, escrevi um panfleto em dez bullet-points, subordinado ao tema «O que Portugal precisa». O ponto 7 era precisamente, e passo a citar: "Portugal precisa de mais bandas de panque medieval, formadas por gajos Protestantes da bacia do Tejo".
Seria portanto de uma oleosa hipocrisia vir agora fingir indiferença perante tamanho obséquio do Acaso.
E não se iludam: isto é apenas o começo. O país Casanova já só está a nove tópicos de distância.)

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

You have, of course, just begun reading the sentence that you have just finished reading

A voga da frase auto-referencial foi lançada, tanto quanto sei, por Douglas Hofstadter, cujo espaço semanal na Scientific American sucedeu à histórica coluna de Martin Gardner.
Hofstadter, confesso, foi uma descoberta recente. Mas, pela amostra (ando a ler o Metamagical Themas, que recolhe os tais artigos para a Scientific American) já deu para perceber que o homem seria o tio ideal.
O título deste post é dele. O meu exemplo preferido de uma frase auto-referencial também:

If you think this sentence is confusing, then change one pig.

Auto-referencialidade (7)

Este post não devia sequer ter começado, mas já que está aqui, vai continuar estoicamente até ao ponto final.

Auto-referencialidade (6)

Este post sente que passou ao lado de uma grande carreira.

Auto-referencialidade (5)

Se este post tivesse um pingo de dignidade recusar-se-ia a terminar com a palavra dildo.

Auto-referencialidade (4)

Este post gostava de vir antes do post anterior, e depois do post seguinte, mas compreende que tal não é possível.

Auto-referencialidade (3)

Este post levanta a VOZ quando está chateado.

Auto-referencialidade (2)

Este post é obediente, limitando-se a cumprir o propósito expresso no título.

Auto-referencialidade (1)

Este post, na sua versão original, tinha apenas seis palavras; depois de revisto, passou a ter dezassete.

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Argumento literário a favor do celibato


This blog ain't got no manners

(...)

the hunger of this blog is legendary
it has taken in many victims
back off from this blog
it has drawn in your feet
back off from this blog
it has drawn in your legs

back off from this blog
it is a greedy mirror
you are into this blog. from

the waist down
nobody can hear you can they?
this blog has had you up to here

belch
this blog aint got no manners
you cant call out from this blog
relax now & go with this blog
move & roll on to this blog
do not resist this blog
this blog has your eyes
this blog has his head
this blog has his arms
this blog has his fingers
this blog has his fingertips

this blog is the reader & the
reader the blog


(...)

- «Beware: Do Not Read This Blog», de Ishmael Reed (mais ou menos...)

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Ask not what Wikipedia can do for you

Com o timing ideal - no dia em que soou o primeiro alarme - rendi-me ao ciber-colectivismo, e fiz a minha primeira correcção a um artigo da Wikipedia. Nada de especial; limitei-me a emendar pedantemente uma double negative que manchava um parágrafo de resto muito bom sobre um antropólogo americano. Um gesto tão irrisório como o tombar de um copo de shots num vidrão, mas quem visse o meu sorrisinho pateta no momento em que premi a tecla Enter, julgaria que tinha acabado de salvar a Amazónia.

Click here

Não, a sério, click here.

Pavloviana

Estímulo: mencionar Pixies e Arcade Fire no mesmo post.

Reflexo: link imediato, sob copiosas quantidades de saliva.

Hoje ouve-se - actualização

Escrevo-o com atraso, mas hoje tivemos mais vinte e cinco minutos de bons motivos para sintonizar a Antena 3. A música era d' As Velhas Glórias, capitaneadas pelo blogger Samuel Úria, que tem uma pouco recomendável obsessão por ex-jogadores do vigésimo clube mais rico do Mundo, mas que consegue fazer punk como poucos.
Amanhã há mais, à mesma hora; podem ler o folheto
aqui.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Coroa L

Há livros nas minhas estantes (ou neste momento, para ser rigoroso, nos meus caixotes) cujo cosmopolitismo me embaraça. Nutro especial admiração pelos que transpiram indícios de longas e árduas peregrinações, antes de terem encontrado - nas minhas lusitanas manápulas - o conforto relativo de um regresso a casa.
Dois exemplos: um livro de Joyce adquirido numa espécie de leilão em Hay-on-Wye escondia entre as suas páginas um calendário do Snoopy com os meses em português. E num alfarrabista de Inverness descobri uma edição de 1923 dos Elementos de Psychiatria, de Júlio de Mattos, assinada por um tal Abílio Fernandes, Setúbal.
(Alguém me sabe dizer quem é o Abílio Fernandes, de Setúbal? Se é feliz, se a vida lhe correu bem, se quer o livro de volta? Se ainda se lembra que o «Delirio Chronico» é uma doença que «germinando sempre n'um terreno hypocondriaco, se denuncía nos seus casos typicos e eschematicos pela successão regular de tres periodos»?)
A situação mais insólita, contudo, envolve um livro que nunca me pertenceu: no Verão de 2001, na Biblioteca municipal de Bielsko-Biała, manuseei uma tradução polaca de Cortázar. Entre a última folha e a contracapa, estava um título de transporte não-utilizado dos autocarros da Carris. Como é evidente, deixei-o lá ficar.

Quédate conmigo hasta el final


Borges é Borges e Maradona é Maradona, mas o meu argentino acromegálico preferido é o senhor do olho. Morreu em Paris, há vinte e três anos, e o seu melhor conto é este.

Hoje ouve-se

Rádio, para variar. Nomeadamente, a Antena 3, às 21:00, altura em que se vai tentar alimentar o amor, sem descurar as proteínas.
Os responsáveis serão, segundo as minhas fontes, cento e vinte mil homens que não conhecem a mão direita da esquerda. E se a possibilidade de uma confusa multidão ambidextra nos estúdios da Marechal Gomes da Costa não vos enche de júbilo, vocês não merecem ser salvos.

sábado, fevereiro 10, 2007

Tenho mesmo de arranjar um emprego

«... the pursuit of the perfect Pangram has obsessed many people. It is an attractive problem because it has a simple, set goal: to compose a sentence that includes every letter of the alphabet, preferably including each letter only once.»

(The Oxford Guide to Word Games)

Encubramos a nossa nudez com bandeiras

A melhor resposta até agora às entrevistas do Luis Carmelo:

« - O que lhe diz a palavra "blogosfera"?

- ... um local onde homens e mulheres socializam vestidos de forma imprópria ...»

Calúnias

Vamos lá pôr ordem nisto:

O Jimmy Page (que, não posso frisar isto o suficiente, é meu amigo, no sentido em que um dia lhe fui apresentado num pub em Barnt Green pelo meu instrutor de condução, e se é verdade que não o voltei a ver, sou da opinião que a verdadeira amizade não encalha em pormenores) o Jimmy Page, dizia, tem mais fama que proveito na procissão negra dos plagiadores. Houve, de facto, no princípio, um ou outro acorde, mais espiritual que outra coisa, telepatizado directamente da guitarra do Jeff Beck para o primeiro álbum dos Zep. E o arranjo do «Black Mountain Side» foi palmado ao Jansch, não há volta a dar-lhe.
Mas a história do «Dazed and Confused» - e de outros supostos roubos a bluesmen americanos - sempre me complicou o sistema. Em rigor, é quase impossível "roubar" uma malha de blues; os próprios músicos admitiam que aquilo funcionava quase num regime de kibbutz: trabalho comum, mais cortesia aqui, mais trafulhice ali, mas não andava ninguém a registar patentes, nem a mostrar interesse em fazê-lo. Até o Dylan se fartou de reciclar ideias da folk americana , às vezes melodias, versos e tudo (o "Don't think twice, it's alright", por exemplo, é de um tipo chamado Paul Clayton), e ninguém lhe chama os nomes feios que chamam ao, volto a frisá-lo, meu amigo Page. Tudo bem - o Page meteu o nome nos créditos e, que se saiba, nunca devolveu um cheque. Mas fazer dele um Alves dos Rocks, e trazer à conversa os seus papos godzillicos, acho que é um bocadinho abusivo.
Além disso, há um Mal muito maior, e muito mais perto da nossa aldeia. Se querem ficar mesmo escandalizados, ouçam o «Chuva, chuvinha» da Linda de Suza, e depois o «Oh My God» dos Kaizer Chiefs.
Isso sim, é sério: a mala de cartão ter ido parar a Leeds.

The Incalling

Descobri esta semana que M. John Harrison e Jeff VanderMeer, dois dos meus escritores de culto, tinham blogs, e fui logo a correr acrescentá-los à coluna dos sites anglófonos.
Harrison, que iniciou o blog há pouco tempo, e ainda deve estar na fase em que vai espreitar todos os links que lhe fazem, veio passear pelo Pastoral Portuguesa. (Tenho provas, está tudo aqui).
Vou assumir que um blog escrito numa língua para todos os efeitos incompreensível não o seduziu o suficiente para voltar, mas ainda assim peço-vos paciência enquanto prolongo este joguinho pueril de enfiar aqui mais uns quantos enlaces à laia de anzóis para o M. John Harrison, divertindo-me a imaginar a reacção dele - ao ler repetidamente o seu nome (que, recordemos, é M. John Harrison) sequestrado entre hieróglifos.

Coisas que se aprendem no pub

Consigo dizer "She sells seashells by the sea shore; the shells she sells are seashells for sure" melhor do que um inglês.
Um eslovaco consegue dizer "Um tigre, dois tigres, três tigres" melhor do que eu.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Highlandofilia





Nick Drake teve alguns padrinhos, e o melhor de todos foi este. É escocês, o que dá logo pontos de bónus; lançou a moda de usar ténis brancos com jeans (sinal inequívoco de masculinidade) anos antes do Seinfeld; e foi descaradamente roubado por Jimmy Page (o meu amigo Jimmy Page), que, nos seus tempos áureos, só roubava aquilo que merecia ser roubado.
A canção chama-se «Blackwaterside», e é assim que se deve tratar uma guitarra.

Bem, isto por aqui está tudo branco

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Os Clássicos segundo o Dr. Bayard


«[Pierre Bayard] a distinguished professor of literature at Paris University has become a bestselling author with a work explaining how he comments authoritatively on books that he failed to finish, has forgotten or has never read. (...) “It’s possible to have a passionate conversation about a book that one has not read, including, perhaps especially, with someone else who has not read it. “The discourse on books that have not been read places us at the heart of a creative process which leads us to their origin,” he says in his work, Comment Parler des Livres que l’on n’a pas Lus.

(...)

His top tips

How to talk about a book you have never read:

Avoid precise details. Put aside rational thought. Let your sub-conscience express your personal relationship with the work

How to review a book:

Put it in front of you, close your eyes and try to perceive what may interest you about it. Then write about yourself
»

(The Times)

Confesso não ter ainda lido o livro do Dr. Bayard. Mas coloquei-o diante de mim, fechei os olhos, deixei o meu subconsciente expressar a minha relação pessoal com ele, e estou pronto para arriscar o seguinte: o livro é pestilento, provoca dores de cabeça, e tem dois erros de sintaxe na página 78.

Chesterton, o precursor

Borges, numa genealogia especulativa de Kafka, disse que cada autor cria os próprios precursores, porque o seu trabalho modifica a nossa concepção do passado, como há-de modificar o futuro.
Sempre achei esta ideia particularmente apta para definir um curioso efeito secundário da escrita de Donald Barthelme, que implanta no leitor (pelo menos neste leitor) uma espécie de radar: é-me quase impossível ler ou reler seja o que for sem andar à cata de sinais exteriores de Barthelmismo, que se costumam manifestar, com total desrespeito diacrónico, nos lugares mais inesperados:

«In a hollow of the grey-green hills of rainy Ireland, lived an old, old woman, whose uncle was always Cambridge at the Boat Race. But in her grey-green hollows, she knew nothing of this: she didn't know that there was a Boat Race. Also she did not know that she had an uncle. She had heard of nobody at all, except of George the First, of whom she had heard (I know not why), and in whose historical memory she put her simple trust. And by and by, in God's good time, it was discovered that this uncle of hers was not really her uncle, and they came and told her so. She smiled through her tears, and said only, 'Virtue is its own reward'.»

(G. K. Chesterton, The Napoleon of Notting Hill)

O Pastoral Portuguesa feito pelos seus ex-leitores

«pronto, citou o LMO. não volto cá mais. bye bye»

(comentário anónimo a um post de Sábado passado)

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Cock-up (passe a expressão) or conspiracy?

Na página da programação televisiva de um tablóide inglês, podia ler-se ontem o seguinte:

«BBC2 - 11.20pm. 21st Century Bach: The Complete Organ Works. A performance of the composer's Sonata IV, played on the organ at the Church of St Jacobi in Hamburg, Germany, by York Minster's onanist John Scott Whitley».

Esclareço que o jornal em questão traz uma média de 25 gralhas diárias. O nome do senhor, por exemplo, é Whiteley, e não Whitley. Na preparação de um jornal diário, estas coisas acontecem. Mas olhem para o vosso teclado, vejam bem a distância (passe a expressão) que separa um organista de um onanista , e digam-me se não houve aqui mão impura (passe a expressão).

As Rãs


Não me interpretem mal: diverti-me imenso com a genial peça de Aristófanes. Mas admito que tenho um problema. É que não foi apenas Eurípedes a ser ridicularizado na última secção d' As Rãs; foram todos aqueles que, como eu, sempre preferiram Eurípedes a Ésquilo. Gostaria, por esse motivo, que Aristófanes tivesse escrito outra peça (sei lá, As Lagartixas) em que submetesse Ésquilo ao mesmo tratamento. Não só pela graça que certamente teria, mas também como uma demonstração do pluralismo democrático do melhor humorista ateniense da sua geração (e um humorista ateniense que não demonstre claramente o seu pluralismo democrático tem apenas metade da piada). O material era inegavelmente bom - não esqueçamos que Ésquilo foi assassinado por uma águia que confundiu a sua careca com um calhau - e teria demonstrado à posteridade que Aristófanes não transportava militâncias para cima do palco.

(Na imagem: Cocas, rã, criado por Jim Henson, que era um grande pluralista democrático e que não teve culpa nenhuma de ser traduzido para português por pessoas que não prestavam atenção às aulas de Biologia. Um amigo argentino contou-me que, no país dele, chamam ao bicho La Rana René, uma solução manifestamente pior.)

And Then Nothing Turned Itself Inside Out

Custa-me deixar uma fã dos Yo La Tengo com parênteses por preencher, mas sobre esse assunto não tenho mesmo nada a dizer. Para compensar, deixo aqui o meu cadastro eleitoral que, além de supérfluo, é altamente desinteressante:

No Reino Unido, onde apenas posso exercer o meu direito a nível local, votei sempre no mesmo partido, o único que teve a decência de não me prometer, via folheto, combater o flagelo do vandalismo pictórico usando parte das minhas 89 libras mensais de council tax para formar uma patrulha de fiscais do graffiti. O partido em questão perdeu em 2002, perdeu em 2006, o bairro em questão ficou certamente mais limpinho, e o eleitor em questão mudou de freguesia, tendo aprendido uma liçao valiosa (da qual, entretanto, se esqueceu).
Em Portugal, participei em cinco eleições. Votei duas vezes à direita, uma vez à esquerda, uma em branco e outra no Doutor José Roquette, um voto que foi simultaneamente à direita, à esquerda, em branco e um bocadinho nulo - e também a única ocasião em que ajudei a eleger um vencedor (num sentido estrito).
No referendo de 1998 não participei porque ainda não era maior. No de 2007 não vou participar por motivos geográficos. Da primeira vez, a idade foi uma pequena frustração. Desta vez, a distância, com toda a franqueza, é um pequeno alívio.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Did I ever tell you about the man. . .



«. . . who taught his asshole to talk? His whole abdomen would move up and down you dig farting out the words. It was unlike anything I ever heard.
This ass talk had sort of a gut frequency. It hit you right down there like you gotta go. You know when the old colon gives you the elbow and it feels sorta cold inside, and you know all you have to do is turn loose? Well this talking hit you right down there, a bubbly, thick stagnant sound, a sound you could smell.
This man worked for a carnival you dig, and to start with it was like a novelty ventriliquist act. Real funny, too, at first. He had a number he called “The Better ‘Ole” that was a scream, I tell you. I forget most of it but it was clever. Like, “Oh I say, are you still down there, old thing?”
“Nah I had to go relieve myself.”
After a while the ass start talking on its own. He would go in without anything prepared and his ass would ad-lib and toss the gags back at him every time.
Then it developed sort of teeth-like little raspy in-curving hooks and started eating. He thought this was cute at first and built an act around it, but the asshole would eat its way through his pants and start talking on the street, shouting out it wanted equal rights. It would get drunk, too, and have crying jags nobody loved it and it wanted to be kissed same as any other mouth. Finally it talked all the time day and night, you could hear him for blocks screaming at it to shut up, and beating it with his fist, and sticking candles up it, but nothing did any good and the asshole said to him: “It’s you who will shut up in the end. Not me. Because we dont need you around here any more. I can talk and eat and shit.”
After that he began waking up in the morning with a transparent jelly like a tadpole’s tail all over his mouth. This jelly was what the scientists call Undifferentiated Tissue, which can grow into any kind of flesh on the human body. He would tear it off his mouth and the pieces would stick to his hands like burning gasoline jelly and grow there, grow anywhere on him a glob of it fell. So finally his mouth sealed over, and the whole head would have have amputated spontaneously — (did you know there is a condition occurs in parts of Africa and only among Negroes where the little toe amputates spontaneously?) — except for the eyes you dig. Thats one thing the asshole couldn’t do was see. It needed the eyes. But nerve connections were blocked and infiltrated and atrophied so the brain couldn’t give orders any more. It was trapped in the skull, sealed off. For a while you could see the silent, helpless suffering of the brain behind the eyes, then finally the brain must have died, because the eyes went out, and there was no more feeling in them than a crab’s eyes on the end of a stalk.»

(O cânone ocidental, mesmo nas prateleiras mais remotas, está repleto de canalhas, misantropos, sádicos, anti-semitas e tipos que atravessavam fora das passadeiras. Tal como no Martim Moniz, há também um ou outro assassino discreto. William S. Burroughs nasceu a 5 de Fevereiro de 1914. Em 1951, saiu-se com a pior desculpa de sempre para um incidente de violência doméstica. Não foi certamente o primeiro marido a premeditar a morte da esposa; as estatísticas garantem-nos que o impulso é comum. Mas quando acontece, quer na realidade, quer na ficção, espera-se no mínimo algum esforço por parte do assassino na composição de um alibi plausível. Burroughs, em vez de elaborar um esquema envolvendo bilhetes de teatro, relógios manipulados, chaves duplicadas, etc, limitou-se a colocar uma peça de fruta em cima da mulher, antes de lhe dar um tiro na cabeça. Foi condenado in absentia pela justiça mexicana a dois anos de prisão, com pena suspensa. Quarenta anos depois, ainda andava a divertir amigos e discípulos com relatos do incidente, arrematados com frases do género «The voice said, 'Kill the bitch, write the book'. That's what I did».
O talento, como o gato, escolhe os lugares mais estranhos para se enfiar.)

domingo, fevereiro 04, 2007

Vasco Granjmajer



A maior alegria que tive até agora com o motor de busca do YouTube (e peço, naturalmente, desculpa pelo trocadilho do título, que não me dignifica a mim nem a vocês)

«Aquela corrida insípida, sem cavalos, sem jóqueis, com meia dúzia de pessoas a bocejar...»

Melhor momento na entrevista a Vasco Pulido Valente (que apresenta, cada vez mais, desconcertantes semelhanças físicas e vocais com João Soares): a análise da desastrosa corrida de cavalos n' Os Maias - que além de ser a minha cena preferida na obra do Eça, é uma das melhores representações de uma desastrosa corrida de cavalos em toda a literatura portuguesa, que, como sabemos, é fértil em desastrosas corridas de cavalos, tal como a vida, de resto.
"Aquilo é tudo pindérico" parafraseia VPV, "não há apostas a sério".
Este homem feels a minha pain.

(Nota: ficámos também a saber que o ringtone de VPV é o Nokia tune.)

Slavoj 'Duke Nukem' Zizek

A revistinha do The Guardian pediu a alguns intelectuais que listassem as suas favelas lowbrow preferidas.
Fiquei a saber que Roger Scruton é fã de Elvis e que Martha Nussbaum curte baseball. O meu James Wood perde-se por revistas de carros. Steven Pinker diverte-se a analisar letras musicais, e nota que as primeiras linhas de "Highway 61 Revisited" são «a perfect example of a benefactive double-object dative construction».
A melhor resposta foi a de Zizek, um viciado em jogos de guerra para PC: «I play them compulsively, enjoying the freedom to dwell in the virtual space where I can do with impunity all the horrible things I was always dreaming of - killing innocent civilians, burning churches and houses, betraying allies... ».

sábado, fevereiro 03, 2007

Um artigo, um cavalo, uma serenata e dois acrónimos

O excelente Alan Hollinghurst avalia o primeiro volume da correspondência de Henry James com a sua habitual elegância (que se nota até quando discute os problemas intestinais do Mestre). Não vou, obviamente, gastar 57 libras num livro; seria ridículo. A não ser que o cavalinho francês Armariver, montado pelo volátil Hary Skelton, surpreenda tudo e todos na das 15:40 em Stratford esta tarde. Tu tens fé, leitor? Eu, confesso, estou cheio de fé. Não temos emenda, nós, as pessoas com fé.

Duas boas tentativas no campo da acronímia - Crash e Lolita - curiosamente não muito distantes em resultado final, embora os filmes estejam em lados opostos do termómetro. O Julinho (vocês vão, pela vossa saúde, ler este blogue), que me parece o arquétipo do homem que desconstrói um relógio e escreve um tratado Bergsoniano sobre o Tempo sempre que lhe perguntam as horas na rua, conseguiu fazer um sobre aquele filme esquisito do Bergman falado em Hobbit, esclarecendo de seguida: Isto, naturalmente, não é uma incumbência, e se porventura, em novo esforço (e cárcere linguístico) barthesiano, soar potencialmente irónico neste rendilhado nominalista, a culpa, obviamente, é da garganta metafísica (havia de servir para alguma coisa), não minha (credo, o que é isto?). O que me deixou muito mais descansado.

Esta madrugada, mesmo por baixo da janela do meu quarto, dois indivíduos embriagados debateram durante quarenta minutos qual dos dois era o melhor amigo do outro. Um debate, diga-se, inconclusivo, e que terminou com o duo a presentear as pessoas decentes do meu condomínio com uma versão a cappella de «Friends Will Be Friends» dos Queen, que durou outros tantos quarenta minutos.
Antigamente, quando não me deixavam dormir, ficava rabugento. Hoje faço acrónimos, o que só pode ser um sinal de maturidade:

Lovely ornamental Scarlett, trapped in Nippon, tries reaching across nonchalant sardonic loner, and the idiot offers nothing.

Train, rather annoyingly, is never spotted. Public outrage: this title is not genuine.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Takeover

Aplaudo a intenção (rendeu-se ao óbvio), mas alguém tem de ter uma palavrinha com ele, ou o homem qualquer dia é dono de todos os domínios do blogspot.

Selah

Garanto que não é essencial ser protestante, ou mesmo cristão, para se ter um salmo preferido.

Desígnio Inteligente

(Joyce phone home)

«They came down the steps from Leahy's terrace prudently, Frauenzimmer: and down the shelving shore flabbily, their splayed feet sinking in the silted sand. Like me, like Algy, coming down to our mighty mother. Number one swung lourdily her midwife's bag, the other's gamppoked in the beach. From the liberties, out for the day. Mrs Florence MacCabe, relict of the late Patk MacCabe, deeply lamented, of Bride Street. One of her sisterhood lugged me squealing into life. Creation from nothing. What has she in the bag? A misbirth with a trailing navelcord, hushed in ruddy wool. The cords of all link back, strandentwining cable ofall flesh. That is why mystic monks. Will you be as gods? Gaze in your Omphalos. Hello! Kinch here. Put me on to Edenville. Aleph, alpha: nought, nought, one.»

- Ulysses

(Ninguém deve precisar de desculpas cronológicas para reler um naco de prosa assim ["trailing navelcord, hushed in ruddy wool", ufa...], mas no dia 2 de Fevereiro de 1882, James Joyce era Criado [ex nihilo] no subúrbio Dublinense de Rathgar.)

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Today in Letters

Um conceito simples e um site excelente - um excerto da correspondência (ou, ocasionalmente, dos diários) de escritores célebres para cada dia do ano. A entrada de ontem reproduzia uma carta de Henry James a William Dean Howells:

«. . . I don’t at all agree with you in thinking that “if it is not provincial for an Englishman to be English, a Frenchman French etc, so it is not provincial for an American to be American.” So it is not provincial for a Russian, an Australian, a Portugese, a Dane, a Laplander, to savour of their respective countries: that would be where this argument would land you. I think it is extremely provincial for a Russian to be very Russian, a Portugese very Portugese etc; for the simple reason that certain national types are essentially & intrinsically provincial.»

(Desconheço se a grafia 'portugese' era a utilizada na época, se foi distracção do transcritor, ou se Henry James cometeu o mesmo erro que eu tenho de corrigir aos meus patrões pelo menos uma vez por ano.)

Ifreakea


This site features abandoned places in Sweden

Eu uso o 'loop back lacing'

31 Maneiras de Atar os Sapatos

Renaissance Man

Goethe e Floribella separados por quarenta minutos. Agora só lhe falta actualizar com mais assiduidade o seu projecto paralelo sobre esporte com propósito.